São Paulo, sábado, 5 de setembro de 1998

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Estréia no dia 23, no teatro Oficina, em São Paulo, "Cacilda!', peça de Zé Celso sobre a vida da atriz Cacilda Becker (1921- 1969), com Bete Coelho e Giulia Gam dividindo o papel- título
Zé Celso revive Cacilda com Bete Coelho, sexo e drogas

Lenise Pinheiro/Folha Imagem
Cena da peça "Cacilda!", que estréia no próximo dia 23, em SP


MARIO VITOR SANTOS
da Reportagem Local

A nova peça de José Celso Martinez Corrêa e o grupo Oficina tem, por enquanto, cinco horas e meia de duração e uma cena que, nos ensaios, já provocou reações contrárias de fãs católicos do autor. Dez atores e atrizes nus passam haxixe para Cacilda Becker, que pita e se masturba.
A atriz então viaja numa cena de "Mãe Coragem" (de Bertolt Brecht), enquanto o coro canta em ritual de masturbação: "O teatro da revolução/ foi/ decapitado/ lobotomizado/ acabou/ passou".
"Cacilda!" tem estréia marcada para o dia 23 em São Paulo, com Bete Coelho e Giulia Gam dividindo o papel da atriz Cacilda Becker, grande estrela da época áurea do Teatro Brasileiro de Comédia nos anos 50. Becker morreu de aneurisma cerebral em 1969.
É a primeira vez que Gerald Thomas vê a ex-estrela da Companhia de Ópera Seca encontrar seu antípoda dionisíaco da rua Jaceguai.
O teatro Oficina, de Zé Celso, não resistirá à união. Passará pela quarta grande modificação em quase 40 anos da companhia. O acesso à sala será alterado. Uma passarela sobre a rua conduzirá os espectadores a uma nova entrada que se dará pelo teto.
As estruturas tubulares que sustentam os diversos planos de arquibancadas, bancos e cadeiras ao longo do palco-passarela vão ao chão, sendo substituídas por estruturas que lembram barracos de uma favela. Os cenários são da arquiteta Laura Vini.
Zé Celso define "Cacilda!" como a representação de um coma. No plano mais imediato, o coma de Cacilda Becker, mas também o coma do teatro e das idéias a respeito dos padrões aceitos para a existência humana. Ele próprio escreveu a peça durante um ataque de erisipela que, em 1990, levou-o por um dia para a enfermaria coletiva da Santa Casa e depois, graças à interferência do dramaturgo Plínio Marcos, a uma internação de três meses no Hospital das Clínicas.
Foi nesse período que Zé Celso compôs de um fôlego as 900 páginas de uma trilogia, cuja primeira parte estréia agora. O elenco apresenta Marcelo Drummond no papel do ator Walmor Chagas, marido de Cacilda. Giulia Gam incorporou-se nesta semana ao grupo, devendo fazer a personagem Cacilda no segundo ato da peça.
Ligia Cortez, filha de Raul Cortez e de Célia Helena, atriz do Oficina nos anos 60, fará a mãe de Cacilda, dona Alzira, que, mesmo pobre e separada, sempre apoiou as aspirações artísticas da filha talentosa.
Iara Jamra será a irmã de Cacilda, Cleyde Iáconis. Fransérgio Araújo representará Venâncio, o namorado de Cacilda na adolescência. Ariel Borghi faz o pintor Flávio de Carvalho, dentre outros papéis.
A peça mostra passagens da vida de Cacilda, que se desenrolam num clima delirante. A atriz interage também com personagens de suas peças, a principal delas sendo "Esperando Godot", do irlandês Samuel Beckett. Foi durante um intervalo de uma das apresentações de "Godot" que a atriz sentiu-se mal, sendo levada ao Hospital São Luiz, onde morreu após um coma prolongado.
Enquanto Bete Coelho diz ter retomado a paixão pelo teatro neste trabalho com Zé Celso, este anuncia que, ao contrário do que ocorre no texto de Beckett, Godot vai baixar no teatro Oficina.



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