São Paulo, sábado, 5 de setembro de 1998

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"Contos e Novelas" reúne três obras

especial para a Folha

"Contos e Novelas" resulta da união de três obras de Oscar Wilde: "O Príncipe Feliz e Outros Contos", "O Crime de Lorde Arthur Savile e Outras Histórias" e "Uma Casa de Romãs", todas publicadas entre 1888 e 1891. Apesar de parte das narrativas inseridas em "O Crime" ter aparecido antes em revistas, o volume "O Príncipe Feliz" foi editado primeiro.
Em uma das cartas de divulgação, Wilde descreve o livro como uma série de contos de fadas destinados a crianças. Depois, acertadamente, muda de idéia.
As histórias de "Uma Casa de Romãs" e sobretudo as de "O Príncipe Feliz" podem ser lidas por crianças, mas, assim como sucede com "Alice no País das Maravilhas" e "As Viagens de Gulliver", a sutileza, a ironia e a crítica nelas contidas destinam-se aos maiores.
Tome-se "O Aniversário da Infanta", por exemplo, imageticamente inspirada nos retratos da corte espanhola pintados por Velásquez. Ou "O Pescador e Sua Alma", de início singelo, mas depois desmembrada em tramas paralelas e focos narrativos distintos, lembrando em grande parte "As Mil e Uma Noites".
"O Crime de Lorde Arthur Savile e Outras Histórias" traz dois contos somenos e duas obras-primas -a novela que dá título à obra original e "O Fantasma de Canterville", que serviu de inspiração a filmes e seriados, como a fita produzida em 1944 com Charles Laughton como o desafortunado espectro. Publicada numa época em que Wilde procurava fazer média com os EUA, essa farsa sobrenatural retrata uma família de ricos norte- americanos que compra um castelo na Inglaterra, assombrado por um fantasma.
O espectro ensaia assustar os moradores com os truques do horror gótico caros aos ingleses, mas tropeça no pragmatismo incrédulo com que os ianques o (des)tratam.
A "indelével" mancha de sangue de lady Eleanore de Canterville é apagada com o removedor Pinkerton's Champion, e, quando o fantasma range seus grilhões, o novo chefe da casa sugere que use o lubrificante Rising Sun.
Mas o melhor do livro ainda é "O Crime de Lorde Arthur Savile". A história transita entre o retrato da afetação depois presente em "O Leque de Lady Windermere", os tons sombrios encontrados mais tarde em "O Retrato de Dorian Gray" e a comicidade amoral de "A Importância de Ser Prudente".
Confrontado por um quiromante em uma recepção em casa de Lady Windermere, Arthur Savile descobre que cometerá um assassinato. Fica desnorteado, pois isso significaria o fim dos sonhos de casamento com a bela Sybil. Elabora, então, um estratagema no estilo de "dos males, o menor": matar algum parente indesejado. Mas suas tentativas de envenenar uma velha tia e explodir um tio fracassam.
Ao deparar novamente com o mago, tarde da noite, sobre o Tâmisa, enxerga a solução e joga o sujeito no rio. Um guarda que passava pergunta-lhe: "Deixou cair alguma coisa, senhor?".
A fala mostra Wilde em grande estilo: o duplo sentido, o "witticism", a perversidade oculta nas frases mais banais e perpetrada pelas pessoas mais respeitáveis -o equívoco revelando a verdade... e vice-versa.


(MP)



Livro: Contos e Novelas
Autor: Oscar Wilde
Tradutor: Brenno Silveira
Lançamento: Civilização Brasileira
Quanto: R$ 26 (240 págs.)






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