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"Contos e Novelas" reúne três obras
especial para a Folha
"Contos e Novelas" resulta da
união de três
obras de Oscar
Wilde: "O Príncipe Feliz e Outros Contos", "O
Crime de Lorde
Arthur Savile e Outras Histórias" e
"Uma Casa de Romãs", todas publicadas entre 1888 e 1891. Apesar
de parte das narrativas inseridas
em "O Crime" ter aparecido antes
em revistas, o volume "O Príncipe
Feliz" foi editado primeiro.
Em uma das cartas de divulgação, Wilde descreve o livro como
uma série de contos de fadas destinados a crianças. Depois, acertadamente, muda de idéia.
As histórias de "Uma Casa de Romãs" e sobretudo as de "O Príncipe Feliz" podem ser lidas por
crianças, mas, assim como sucede
com "Alice no País das Maravilhas" e "As Viagens de Gulliver", a
sutileza, a ironia e a crítica nelas
contidas destinam-se aos maiores.
Tome-se "O Aniversário da Infanta", por exemplo, imageticamente inspirada nos retratos da
corte espanhola pintados por Velásquez. Ou "O Pescador e Sua Alma", de início singelo, mas depois
desmembrada em tramas paralelas
e focos narrativos distintos, lembrando em grande parte "As Mil e
Uma Noites".
"O Crime de Lorde Arthur Savile
e Outras Histórias" traz dois contos somenos e duas obras-primas
-a novela que dá título à obra original e "O Fantasma de Canterville", que serviu de inspiração a filmes e seriados, como a fita produzida em 1944 com Charles Laughton como o desafortunado espectro. Publicada numa época em que
Wilde procurava fazer média com
os EUA, essa farsa sobrenatural retrata uma família de ricos norte-
americanos que compra um castelo na Inglaterra, assombrado por
um fantasma.
O espectro ensaia assustar os
moradores com os truques do horror gótico caros aos ingleses, mas
tropeça no pragmatismo incrédulo
com que os ianques o (des)tratam.
A "indelével" mancha de sangue
de lady Eleanore de Canterville é
apagada com o removedor Pinkerton's Champion, e, quando o fantasma range seus grilhões, o novo
chefe da casa sugere que use o lubrificante Rising Sun.
Mas o melhor do livro ainda é "O
Crime de Lorde Arthur Savile". A
história transita entre o retrato da
afetação depois presente em "O
Leque de Lady Windermere", os
tons sombrios encontrados mais
tarde em "O Retrato de Dorian
Gray" e a comicidade amoral de "A
Importância de Ser Prudente".
Confrontado por um quiromante em uma recepção em casa de
Lady Windermere, Arthur Savile
descobre que cometerá um assassinato. Fica desnorteado, pois isso
significaria o fim dos sonhos de casamento com a bela Sybil. Elabora,
então, um estratagema no estilo de
"dos males, o menor": matar algum parente indesejado. Mas suas
tentativas de envenenar uma velha
tia e explodir um tio fracassam.
Ao deparar novamente com o
mago, tarde da noite, sobre o Tâmisa, enxerga a solução e joga o sujeito no rio. Um guarda que passava pergunta-lhe: "Deixou cair alguma coisa, senhor?".
A fala mostra Wilde em grande
estilo: o duplo sentido, o "witticism", a perversidade oculta nas
frases mais banais e perpetrada pelas pessoas mais respeitáveis -o
equívoco revelando a verdade... e
vice-versa.
(MP)
Livro: Contos e Novelas
Autor: Oscar Wilde
Tradutor: Brenno Silveira
Lançamento: Civilização Brasileira
Quanto: R$ 26 (240 págs.)
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