da Redação

A comédia e o absurdo da vida cotidiana moderna estão em "Preso entre Ferragens", um texto de Fernando Bonassi, dramaturgo, roteirista e colunista da Folha, que terá leitura dramática hoje no auditório do jornal (al. Barão de Limeira, 425, 9º andar, Campos Elíseos, região central de São Paulo).
A peça é de 91 e saiu da gaveta graças ao ator e dançarino Aury Porto, que pediu um texto ao autor. Porto atuou, este ano, no espetáculo "A Cândida Erêndira e sua Avó Desalmada", do escritor colombiano do realismo fantástico Gabriel García Márquez.
A apresentação, com direção de Eliana Fonseca e produção de Mario Sérgio Loschiavo, começa às 19h30. A entrada é franca e os interessados devem reservar seus ingressos, entre 14h e 17h, pelo telefone 0/xx/11/224-3473.
A peça é um monólogo em 30 cenas, ou momentos, como gosta de dizer Bonassi. A situação é cotidiana: um acidente de automóvel. O personagem, preso da cintura para baixo entre as ferragens, lembra, delira, conversa com a mulher morta, da qual só vemos uma perna, arremessada do carro durante o acidente.

Beckett
A situação limite da cena tem um parentesco direto com o teatro do irlandês Samuel Beckett. Mas Bonassi coloca mais ruídos de um cotidiano moderno na situação, aparentemente, sem saída. "Minhas situações se dão com coisas mais vulgares, não no espaço neutro de Beckett", explica.
O que lhe atrai mais é a simplicidade do cotidiano, uma simplicidade carregada de metáforas e que pode ganhar uma dimensão absurda, um sentido de limite.
"O que acho divertido de aproveitar do Beckett são as situações terminais, mas gosto de colocá-las num contexto moderno", diz.
Com essa concepção da realidade, o autor retira de seus textos toda uma carga intelectual presente na construção de narrativas psicológicas. "O brilho intelectual na literatura para mim é lixo", diz.
Para o autor, Graciliano Ramos trouxe essa representativa simplicidade para o Brasil, assim como Beckett trouxe para todos nós.

Fenômeno sensorial
Com seu trabalho, Bonassi procura assustar e comover. É a arte vista como "um fenômeno sensorial". Em sua opinião, a única que vale e a que lhe interessa fazer.
Para "Preso entre Ferragens", o autor já preparou o roteiro. Será o primeiro longa-metragem de que será o diretor.
Bonassi é conhecido pelos roteiros de filmes como "Um Céu de Estrelas", de Tata Amaral, e "Os Matadores", de Fernando Brant, pelos curtas-metragens "O Trabalho dos Homens" e "Amor Materno", além dos romances "Subúrbio" e "O Amor É uma Dor Feliz".
Escrevendo sempre, o escritor diz-se realizado. "Estou vivendo meu texto de ficção."
(ROGÉRIO EDUARDO ALVES)


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