São Paulo, sexta-feira, 05 de outubro de 2001

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3º FESTIVAL DO RIO BR

"LUCIA E O SEXO"

Diretor de "Os Amantes do Círculo Polar" chega ao limite da pornografia com novo longa, apresentado hoje no Rio

Julio Medem exibe seu filme mais cálido

Divulgação
A atriz Paz Vega, como a personagem Lucia, em "Lucia e o Sexo"


ANTONIO JÚNIOR
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM BARCELONA

Com um currículo de somente cinco filmes, Julio Medem é tratado como o cineasta mais original e talentoso do novo cinema espanhol. Um autor hermético, senhor de um estilo inconfundível. "Lucia e o Sexo", que acaba de ser lançado na Espanha com sucesso de público e crítica, é o seu trabalho mais sensual e cálido, unindo ficção e realidade, sexo e amor.
Conta a história de uma bela garçonete (Paz Vega) que se refugia numa ilha do Mediterrâneo cheia de luz, depois do desaparecimento do seu companheiro.
Premiado em vários festivais, de Tóquio a Cannes, Medem foi crítico de cinema e ajudante de direção antes do primeiro filme, "Vacas" (92). Depois vieram "La Ardilla Roja" (93), "Terra" (94) e "Os Amantes do Círculo Polar" (98). Aos 43 anos, o também roteirista é um observador de carências e desejos humanos.

Folha - O sexo é o tema central deste filme?
Julio Medem -
Sim. Desde o princípio me deixei levar por uma vaga idéia, o sexo, como uma corrente profunda. Porém existe um território privado. A personagem constrói um espaço, a ilha cheia de luz, e se refugia ali. É o espaço da memória do sexo. É como se ela estivesse louca e inventasse um mundo próprio bem sexual. Uso um mundo hiper-real, mas um pouco fantástico e abstrato.

Folha - Desde a criação do roteiro já pensava num filme tão arrojado sexualmente?
Medem -
Sim. A idéia exigia isso e assim resolvi rodá-la. Filmei cenas de sexo totalmente explícito, muito no limite da pornografia. É um sexo carnal, direto, sem contemplação. Mesmo assim é vital, emotivo e afetuoso.

Folha - A luz deste filme é quase uma personagem, não?
Medem -
Sim, é um filme muito branco e os exteriores são brilhantes. Em contraste, as cenas do passado, além de urbanas, são noturnas e claustrofóbicas.

Folha - O seu filme anterior, "Os Amantes do Círculo Polar", era bastante frio. Como se deu uma mudança tão radical?
Medem -
Eu queria um filme positivo, revitalizador e quase eufórico. Foi como uma fuga existencial. É meu filme mais direto, uma história dura e emotiva, que apela mais à emoção que ao intelecto.

Folha - Concorda quando seus filmes são chamados de herméticos?
Medem -
Faço filmes que contam coisas em que não podemos penetrar, não podemos entrar. Não tenho nunca certezas e quando as tenho suspeito em seguida. Gosto da dúvida e, para contar algo, sobretudo quando se trata das emoções como tema, procuro a imaginação mais indefinível.

Folha - Você planeja conquistar Hollywood?
Medem -
Nem mesmo procuro um grande público. Minha única vontade é um luxo: poder seguir filmando minhas histórias pessoais com as condições necessárias. Sinto-me mais sincero fazendo o que faço.


LUCIA E O SEXO - Lucia y el Sexo. Direção: Julio Medem. Produção: Espanha, 2001. Com: Paz Vega e Tristan Ulloa. Quando: hoje, às 21h30, no Estação Ipanema; amanhã, às 19h, no Espaço Unibanco; e dom., às 14h, no Estação Barra Point, no Rio.


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