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CINEMA/ESTRÉIAS
"FAMA PARA TODOS"
Obra sobre operário que sonha com o sucesso da filha disputou o Oscar de melhor filme estrangeiro
Longa discute relação familiar e racismo
DA ENVIADA AO RIO
O belga Dominique Deruddere,
44 anos, não é famoso, mas quer
ver como você vai dar atenção ao
seu filme?
"Fama para Todos" é um dos títulos que concorreram, este ano,
ao Oscar de melhor filme estrangeiro, abocanhado por Ang Lee
com "O Tigre e o Dragão".
O filme, que integra a programação do Festival do Rio BR 2001
(www.festivaldorio.com.br), estréia hoje em São Paulo. Nele,
Jean (Josse de Pauw), operário de
uma fábrica de garrafas, sonha
com a fama para a filha Marva
(Eva van der Gucht) desde o berço, quando a embalava com suas
próprias composições, que nunca
conseguiu tornar públicas.
Adolescente, Marva entra em
conflito com as boas intenções do
pai. É gordinha, estrábica e, em
consequência, tímida demais para o palco. A obsessão de Jean em
apostar na filha chega ao ápice
quando ele perde o emprego e arma, quase por casualidade, uma
estratégia final para deslanchar a
carreira de Marva.
Não foi pelo fato de não ter se
tornado um grande nome que
Deruddere conta uma história sobre o "star system". A busca pelo
sucesso, aqui encarada comicamente, é mote para outras questões: a relação pais e filhos, o desemprego e o racismo na Europa,
o amor verdadeiro.
Deruddere, que prepara uma
produção sobre a vida do cantor
belga Jacques Brel (1929-1978) e
deve rodar, no começo de 2002,
um "pequeno filme" em Hollywood, falou à Folha, por telefone.
Leia a seguir os principais trechos.
(FRANCESCA ANGIOLILLO)
Folha - Como surgiu a idéia de
"Fama para Todos"?
Dominique Deruddere - Talvez
tenha sido por ver televisão demais. Aqui, na Bélgica, como em
vários países, ela está se tornando
muito ruim e cínica, e eu queria
fazer algo sobre isso. Mas queria
também contar a história de um
pai e de uma filha que deixaram
de se entender, de um pai que se
bate por sua filha pelo amor dela.
Folha - O filme é quase um musical. Você é fã do gênero?
Deruddere - Gosto muito de música de um modo geral. Uso canções que podem ser bonitas, mas
que têm um lado burlesco, exagerado, até engraçado, como o filme. Elas refletem a alma do filme.
Também escolhi a música porque
o tipo de show que você vê no filme, com gente que se fantasia de
Madonna ou Michael Jackson,
existe aqui.
Folha - Há várias situações paralelas, como a vizinha racista, a crise
do emprego. Era prioritário ser crítico de tantas coisas?
Deruddere - É isso mesmo. Essa
é a realidade belga. Não quer dizer
que todo mundo seja assim, mas
são elementos presentes na nossa
cultura. Quando escrevi o roteiro,
perguntaram-me se eu não queria
fazer o filme em inglês, nos EUA
ou na Inglaterra. Mas, para mim,
era importante que fosse totalmente honesto. Então escolhi fazer em flamengo, que é minha língua, e com as raízes na cultura que
eu conheço melhor.
Folha - Você faz, ainda, uma crítica aos padrões estéticos vigentes.
Era fundamental que Marva fugisse deles?
Deruddere - Era bastante necessário. Eu acho que é mais difícil
pessoas "perfeitas" obterem sucesso: aqui todo mundo é bonito,
todo mundo faz ginástica... Eu
queria uma moça talentosa, mas
cujo talento ninguém visse, porque só se vê o exterior. Era muito
necessário que essa moça não tivesse autoconfiança.
Folha - Mesmo criticando a indústria da celebridade, veio a indicação ao Oscar. O que você acha que
seduziu a Academia?
Deruddere - Não tenho certeza,
espero que tenha sido a qualidade
(risos). A Academia é bastante
conservadora, mas "Amores Brutos" ou "O Tigre e o Dragão" são
filmes modernos. Acho que a
Academia é até mais aberta do
que se pensa. As pessoas nos EUA
dizem que a competição de filme
estrangeiro é mais excitante do
que a principal. É outro júri, talvez
seja por isso.
FAMA PARA TODOS! - Everybody Famous!. Direção: Dominique
Deruddere. Produção: Bélgica/França/
Holanda, 2000. Com: Josse de Pauw, Eva
van der Gucht, Werner de Smedt.
Quando: a partir de hoje nos cines
Espaço Unibanco, Unibanco Arteplex e
Sala UOL de Cinema.
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