São Paulo, sexta-feira, 05 de outubro de 2001

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CINEMA/ESTRÉIAS

"FAMA PARA TODOS"

Obra sobre operário que sonha com o sucesso da filha disputou o Oscar de melhor filme estrangeiro

Longa discute relação familiar e racismo

DA ENVIADA AO RIO

O belga Dominique Deruddere, 44 anos, não é famoso, mas quer ver como você vai dar atenção ao seu filme?
"Fama para Todos" é um dos títulos que concorreram, este ano, ao Oscar de melhor filme estrangeiro, abocanhado por Ang Lee com "O Tigre e o Dragão".
O filme, que integra a programação do Festival do Rio BR 2001 (www.festivaldorio.com.br), estréia hoje em São Paulo. Nele, Jean (Josse de Pauw), operário de uma fábrica de garrafas, sonha com a fama para a filha Marva (Eva van der Gucht) desde o berço, quando a embalava com suas próprias composições, que nunca conseguiu tornar públicas.
Adolescente, Marva entra em conflito com as boas intenções do pai. É gordinha, estrábica e, em consequência, tímida demais para o palco. A obsessão de Jean em apostar na filha chega ao ápice quando ele perde o emprego e arma, quase por casualidade, uma estratégia final para deslanchar a carreira de Marva.
Não foi pelo fato de não ter se tornado um grande nome que Deruddere conta uma história sobre o "star system". A busca pelo sucesso, aqui encarada comicamente, é mote para outras questões: a relação pais e filhos, o desemprego e o racismo na Europa, o amor verdadeiro.
Deruddere, que prepara uma produção sobre a vida do cantor belga Jacques Brel (1929-1978) e deve rodar, no começo de 2002, um "pequeno filme" em Hollywood, falou à Folha, por telefone. Leia a seguir os principais trechos. (FRANCESCA ANGIOLILLO)

Folha - Como surgiu a idéia de "Fama para Todos"?
Dominique Deruddere -
Talvez tenha sido por ver televisão demais. Aqui, na Bélgica, como em vários países, ela está se tornando muito ruim e cínica, e eu queria fazer algo sobre isso. Mas queria também contar a história de um pai e de uma filha que deixaram de se entender, de um pai que se bate por sua filha pelo amor dela.

Folha - O filme é quase um musical. Você é fã do gênero?
Deruddere -
Gosto muito de música de um modo geral. Uso canções que podem ser bonitas, mas que têm um lado burlesco, exagerado, até engraçado, como o filme. Elas refletem a alma do filme. Também escolhi a música porque o tipo de show que você vê no filme, com gente que se fantasia de Madonna ou Michael Jackson, existe aqui.

Folha - Há várias situações paralelas, como a vizinha racista, a crise do emprego. Era prioritário ser crítico de tantas coisas?
Deruddere -
É isso mesmo. Essa é a realidade belga. Não quer dizer que todo mundo seja assim, mas são elementos presentes na nossa cultura. Quando escrevi o roteiro, perguntaram-me se eu não queria fazer o filme em inglês, nos EUA ou na Inglaterra. Mas, para mim, era importante que fosse totalmente honesto. Então escolhi fazer em flamengo, que é minha língua, e com as raízes na cultura que eu conheço melhor.

Folha - Você faz, ainda, uma crítica aos padrões estéticos vigentes. Era fundamental que Marva fugisse deles?
Deruddere -
Era bastante necessário. Eu acho que é mais difícil pessoas "perfeitas" obterem sucesso: aqui todo mundo é bonito, todo mundo faz ginástica... Eu queria uma moça talentosa, mas cujo talento ninguém visse, porque só se vê o exterior. Era muito necessário que essa moça não tivesse autoconfiança.

Folha - Mesmo criticando a indústria da celebridade, veio a indicação ao Oscar. O que você acha que seduziu a Academia?
Deruddere -
Não tenho certeza, espero que tenha sido a qualidade (risos). A Academia é bastante conservadora, mas "Amores Brutos" ou "O Tigre e o Dragão" são filmes modernos. Acho que a Academia é até mais aberta do que se pensa. As pessoas nos EUA dizem que a competição de filme estrangeiro é mais excitante do que a principal. É outro júri, talvez seja por isso.



FAMA PARA TODOS! - Everybody Famous!. Direção: Dominique Deruddere. Produção: Bélgica/França/ Holanda, 2000. Com: Josse de Pauw, Eva van der Gucht, Werner de Smedt. Quando: a partir de hoje nos cines Espaço Unibanco, Unibanco Arteplex e Sala UOL de Cinema.


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