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Pesquisa apresenta
escritor por ele mesmo
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O mineiro Otto Lara Resende
(1922-92) tinha consciência de
que não guardava apenas papéis,
mas documentos que poderiam
um dia ajudar a recompor a história brasileira. Escrever para ele era
como uma obsessão e, em seu arquivo, encontram-se apontamentos ora aproveitados em sua escrita, ora simplesmente mantidos na
gaveta da escrivaninha, amarelecidos pelo tempo.
Textos de cunho autobiográfico
compõem "Três Ottos por Otto
Lara Resende", edição anotada,
primeiro fruto da pesquisa do
acervo (décadas de 40 a 90) que a
família do escritor doou ao Instituto Moreira Salles (IMS) em 94.
O livro, a ser lançado em dezembro, marca os dez anos da
morte do escritor (28/12/92). Se
vivo, estaria com 80 anos. A edição inclui entrevistas e textos do
autor em prosa ou poesia, gênero
incomum na sua trajetória, como
se lê na exploração do palíndromo do nome nesta página.
Otto publicou pouco em livro,
como o romance "O Braço Direito" (63) e a coletânea de contos
"Boca do Inferno" (57), mas muito na imprensa -foi colunista da
Folha, por exemplo. "Para que
não se caia no "diz que" sobre sua
figura carismática, optamos por
textos em que fala de si, de livros e
da vida", diz a organizadora Tatiana Longo dos Santos, 30.
A autobiografia é dividida em
três partes. "Caderno Novo" remonta ao início da carreira e fornece pistas sobre seu lirismo. Em
"Quem é OLR?", despontam textos ou entrevistas longas, como a
que concedeu ao amigo e escritor
Paulo Mendes Campos na revista
"Manchete", em 75.
Por fim, "A Criação" o expõe tal
qual goleiro diante do pênalti: impasses diante do papel em branco
na máquina de escrever.
No livro, que reunirá cerca de 30
fotos, os amigos não são exatamente interlocutores. Hélio Pelegrino, Francisco Iglesias, Fernando Sabino e outros surgem quase
como personagens.
A minuciosa pesquisa elucidou
pontos como o pseudônimo com
o qual o escritor assinava uma coluna do "Jornal de Letras", lançado em 49, uma espécie de "consultório literário". Assinava Joaquim Leonel, nome de um tio-avô
dele, "médico de pobres". "Achei
que a minha atividade tinha algo
em comum com este remoto parente de Resende Costa, MG."
"É um pouco aquele trabalho
borgeano de fazer a biblioteca e
conversar consigo próprio", diz o
diretor superintendente do IMS,
Antonio Fernando de Franceschi,
59. A equipe de organização do
acervo segue o projeto de Telê
Ancona Lopez, do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB-USP), em
parceria com o IMS.
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