São Paulo, sábado, 05 de outubro de 2002

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Pesquisa apresenta escritor por ele mesmo

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O mineiro Otto Lara Resende (1922-92) tinha consciência de que não guardava apenas papéis, mas documentos que poderiam um dia ajudar a recompor a história brasileira. Escrever para ele era como uma obsessão e, em seu arquivo, encontram-se apontamentos ora aproveitados em sua escrita, ora simplesmente mantidos na gaveta da escrivaninha, amarelecidos pelo tempo.
Textos de cunho autobiográfico compõem "Três Ottos por Otto Lara Resende", edição anotada, primeiro fruto da pesquisa do acervo (décadas de 40 a 90) que a família do escritor doou ao Instituto Moreira Salles (IMS) em 94.
O livro, a ser lançado em dezembro, marca os dez anos da morte do escritor (28/12/92). Se vivo, estaria com 80 anos. A edição inclui entrevistas e textos do autor em prosa ou poesia, gênero incomum na sua trajetória, como se lê na exploração do palíndromo do nome nesta página.
Otto publicou pouco em livro, como o romance "O Braço Direito" (63) e a coletânea de contos "Boca do Inferno" (57), mas muito na imprensa -foi colunista da Folha, por exemplo. "Para que não se caia no "diz que" sobre sua figura carismática, optamos por textos em que fala de si, de livros e da vida", diz a organizadora Tatiana Longo dos Santos, 30.
A autobiografia é dividida em três partes. "Caderno Novo" remonta ao início da carreira e fornece pistas sobre seu lirismo. Em "Quem é OLR?", despontam textos ou entrevistas longas, como a que concedeu ao amigo e escritor Paulo Mendes Campos na revista "Manchete", em 75.
Por fim, "A Criação" o expõe tal qual goleiro diante do pênalti: impasses diante do papel em branco na máquina de escrever.
No livro, que reunirá cerca de 30 fotos, os amigos não são exatamente interlocutores. Hélio Pelegrino, Francisco Iglesias, Fernando Sabino e outros surgem quase como personagens.
A minuciosa pesquisa elucidou pontos como o pseudônimo com o qual o escritor assinava uma coluna do "Jornal de Letras", lançado em 49, uma espécie de "consultório literário". Assinava Joaquim Leonel, nome de um tio-avô dele, "médico de pobres". "Achei que a minha atividade tinha algo em comum com este remoto parente de Resende Costa, MG."
"É um pouco aquele trabalho borgeano de fazer a biblioteca e conversar consigo próprio", diz o diretor superintendente do IMS, Antonio Fernando de Franceschi, 59. A equipe de organização do acervo segue o projeto de Telê Ancona Lopez, do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB-USP), em parceria com o IMS.



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