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DUO ASSAD E OSESP
Orquestra e dupla de violonistas fazem hoje última apresentação antes de iniciar turnê pelos EUA
Hora de essa gente bronzeada mostrar seu valor
ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA
O mais importante talvez
nem estivesse no palco. Silenciosamente, nas páginas que
lhe servem, agora, de veículo, veio
à luz enfim, como merece, o "Hino Nacional Brasileiro" (de Francisco Manuel da Silva), inaugurando a série de obras brasileiras
editadas pela Osesp. Incrivelmente, é esta a primeira edição criteriosa que se tem do "Hino", até
hoje tocado em cópias manuscritas e sujeitas a muitos erros de
transcrição.
"Mais importante" é exagero.
Mas foi, no mínimo, altamente
simbólica a coincidência da publicação com esses dois últimos concertos para assinantes (quinta e
hoje), regidos por John Neschling,
antes da partida para a primeira
temporada da Osesp pelos EUA.
"Primeira temporada" é pouco.
Tem tudo para ser a mais importante "tournée" já feita por uma
orquestra brasileira, coroada por
um concerto no Lincoln Center,
em Nova York.
Com isso em mente, o programa -um dos que a Osesp vai tocar por lá- não deixa de ter seu
lado simbólico, também: duas peças de compositores contemporâneos brasileiros, Edino Krieger
(1928) e Marlos Nobre (1939), seguidas da "Sinfonia nš 2" de
Brahms (1833-97). Quer dizer: a
música e os músicos do Brasil. O
Duo Assad, no "Concerto para
Dois Violões, Cordas e Percussão", de Marlos Nobre, dá um brilho extra aos dois quesitos.
A "Passacalha para o Novo Milênio", de Edino Krieger, foi escrita para a Osesp em 2000. Um padrão que serve de tema para as variações é tocado 13 vezes, cada vez
transposto um semitom. Isso explica a forma, mas não define o
caráter da música, que abriga desde uma marcha-rancho bonita no
oboé e um fugato neoclássico até
um quase-frevo do conjunto inteiro. Que não se pense mal da
mistura: a música é sempre elegante, um prazer de ouvir.
Gravado ao vivo na quinta (em
disco e vídeo, para o selo belga
GHA), o "Concerto" de Marlos
Nobre foi composto para os Assad em 1995. Dividido em quatro
movimentos, tem justificadas
ambições de entrar para o repertório mundial. Nem tudo, talvez,
mostra o mesmo grau de invenção, nessa peça que vai de um assumido vivaldismo, ritmado e solar, ao barroco de lírios, sem medo de ser feliz nas tristezas do círculo das quintas. Mas tudo é muito bem escrito para os violões, e a
orquestra foi sabiamente reduzida para não encobrir os solistas.
Não encobriu. Nem assim foram muito audíveis, com a modesta amplificação.
Depois, Brahms. O melhor de
tudo (sem diminuir os lindos solos do trompista Ozéas Arantes)
foi o início do terceiro movimento: a orquestra elétrica, nem uma
colcheia fora do lugar.
Neschling estava mais para o
Brahms físico do que para o metafísico. Aquilo que enigmaticamente faltava nos primeiros movimentos, enigmaticamente
preencheu a música de sentido
quando a orquestra se soltou.
Bons ventos a levem. Bons ventos a tragam. "God bless."
Duo Assad e Osesp
Onde: Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes,
Centro, s/nš, tel. 3337-5414)
Quando: hoje, às 21h
Quanto: de R$ 12 a R$ 26
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