São Paulo, sábado, 05 de outubro de 2002

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DUO ASSAD E OSESP

Orquestra e dupla de violonistas fazem hoje última apresentação antes de iniciar turnê pelos EUA

Hora de essa gente bronzeada mostrar seu valor

ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA

O mais importante talvez nem estivesse no palco. Silenciosamente, nas páginas que lhe servem, agora, de veículo, veio à luz enfim, como merece, o "Hino Nacional Brasileiro" (de Francisco Manuel da Silva), inaugurando a série de obras brasileiras editadas pela Osesp. Incrivelmente, é esta a primeira edição criteriosa que se tem do "Hino", até hoje tocado em cópias manuscritas e sujeitas a muitos erros de transcrição.
"Mais importante" é exagero. Mas foi, no mínimo, altamente simbólica a coincidência da publicação com esses dois últimos concertos para assinantes (quinta e hoje), regidos por John Neschling, antes da partida para a primeira temporada da Osesp pelos EUA.
"Primeira temporada" é pouco. Tem tudo para ser a mais importante "tournée" já feita por uma orquestra brasileira, coroada por um concerto no Lincoln Center, em Nova York.
Com isso em mente, o programa -um dos que a Osesp vai tocar por lá- não deixa de ter seu lado simbólico, também: duas peças de compositores contemporâneos brasileiros, Edino Krieger (1928) e Marlos Nobre (1939), seguidas da "Sinfonia nš 2" de Brahms (1833-97). Quer dizer: a música e os músicos do Brasil. O Duo Assad, no "Concerto para Dois Violões, Cordas e Percussão", de Marlos Nobre, dá um brilho extra aos dois quesitos.
A "Passacalha para o Novo Milênio", de Edino Krieger, foi escrita para a Osesp em 2000. Um padrão que serve de tema para as variações é tocado 13 vezes, cada vez transposto um semitom. Isso explica a forma, mas não define o caráter da música, que abriga desde uma marcha-rancho bonita no oboé e um fugato neoclássico até um quase-frevo do conjunto inteiro. Que não se pense mal da mistura: a música é sempre elegante, um prazer de ouvir.
Gravado ao vivo na quinta (em disco e vídeo, para o selo belga GHA), o "Concerto" de Marlos Nobre foi composto para os Assad em 1995. Dividido em quatro movimentos, tem justificadas ambições de entrar para o repertório mundial. Nem tudo, talvez, mostra o mesmo grau de invenção, nessa peça que vai de um assumido vivaldismo, ritmado e solar, ao barroco de lírios, sem medo de ser feliz nas tristezas do círculo das quintas. Mas tudo é muito bem escrito para os violões, e a orquestra foi sabiamente reduzida para não encobrir os solistas.
Não encobriu. Nem assim foram muito audíveis, com a modesta amplificação.
Depois, Brahms. O melhor de tudo (sem diminuir os lindos solos do trompista Ozéas Arantes) foi o início do terceiro movimento: a orquestra elétrica, nem uma colcheia fora do lugar.
Neschling estava mais para o Brahms físico do que para o metafísico. Aquilo que enigmaticamente faltava nos primeiros movimentos, enigmaticamente preencheu a música de sentido quando a orquestra se soltou.
Bons ventos a levem. Bons ventos a tragam. "God bless."


Duo Assad e Osesp    
Onde: Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes, Centro, s/nš, tel. 3337-5414)
Quando: hoje, às 21h
Quanto: de R$ 12 a R$ 26




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