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ANÁLISE
Cantora afirmava-se comunista até o fim
TÂNIA DA COSTA GARCIA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Mercedes Sosa, nascida em 9/7/1935 -dia
e mês em que se comemora a independência de
seu país-, foi, após Carlos Gardel, a intérprete argentina mais
popular. Seu primeiro disco,
"La Voz de la Zafra" (1962), já
anunciava um repertório comprometido politicamente. A
canção "La Zafrera", de Tejada
Gomez e Oscar Matus, traz como tema o trabalho árduo nos
canaviais de Tucumán, terra
natal de Mercedes.
No ano seguinte, o poeta e
compositor Tejada Gomez,
junto com Oscar, formalizou o
Manifesto do Novo Cancioneiro, cuja proposta era a renovação da música folclórica argentina. A nova canção, ou canção
de protesto, surgia em meio a
acontecimentos como a Guerra
Fria e a Revolução Cubana.
Nesse período, em vários países da América Latina se fazia
uma música engajada, afinada
com as ideologias de esquerda.
Mercedes filiou-se ao Partido
Comunista e colocou sua voz
firme de contralto a serviço dos
ideais revolucionários.
Em sua biografia, escrita por
Rodolfo Braceli, La Negra, como tornou-se conhecida, comenta que ter se posicionado
politicamente trouxe, desde o
começo, muitas dificuldades
para sua carreira na Argentina.
Após seu primeiro disco,
Mercedes seguiu para o Uruguai, onde conseguiu espaço
para a difusão de suas canções.
Entre os anos de 1979 e 1982,
período em que a Argentina vivia os piores anos da ditadura
militar, Mercedes esteve proibida de cantar -o que a levou a
continuar seu trabalho em países da Europa e nos EUA.
Nessa fase, lançou quatro
LPs, um deles realizado ao vivo
no Brasil, em 1980. Em nosso
país, a nova canção foi apropriada como símbolo de resistência ao período de chumbo.
Passados os anos das ditaduras latino-americanas, a voz de
Mercedes continuou a ser ouvida. Um de seus últimos discos,
"Corazón Libre" (2005), traz
belíssimas músicas interpretadas pela voz intacta da melhor
intérprete da música folclórica
argentina, que afirmou-se comunista até seus últimos anos.
Mais que militância política,
"Corazón Libre" traduz a fidelidade da artista ao seu grande
projeto de vida: "Adelante, corazón, sin medo de la derrota.
Durar no es estar vivo, corazón.
Vivir és otra cosa".
TÂNIA DA COSTA GARCIA é professora de história da América do Departamento de História
da Unesp/Franca e autora do livro "O "It Verde e
Amarelo" de Carmen Miranda"
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