São Paulo, segunda-feira, 05 de outubro de 2009

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ANÁLISE

Cantora afirmava-se comunista até o fim

TÂNIA DA COSTA GARCIA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Mercedes Sosa, nascida em 9/7/1935 -dia e mês em que se comemora a independência de seu país-, foi, após Carlos Gardel, a intérprete argentina mais popular. Seu primeiro disco, "La Voz de la Zafra" (1962), já anunciava um repertório comprometido politicamente. A canção "La Zafrera", de Tejada Gomez e Oscar Matus, traz como tema o trabalho árduo nos canaviais de Tucumán, terra natal de Mercedes.
No ano seguinte, o poeta e compositor Tejada Gomez, junto com Oscar, formalizou o Manifesto do Novo Cancioneiro, cuja proposta era a renovação da música folclórica argentina. A nova canção, ou canção de protesto, surgia em meio a acontecimentos como a Guerra Fria e a Revolução Cubana.
Nesse período, em vários países da América Latina se fazia uma música engajada, afinada com as ideologias de esquerda.
Mercedes filiou-se ao Partido Comunista e colocou sua voz firme de contralto a serviço dos ideais revolucionários.
Em sua biografia, escrita por Rodolfo Braceli, La Negra, como tornou-se conhecida, comenta que ter se posicionado politicamente trouxe, desde o começo, muitas dificuldades para sua carreira na Argentina.
Após seu primeiro disco, Mercedes seguiu para o Uruguai, onde conseguiu espaço para a difusão de suas canções.
Entre os anos de 1979 e 1982, período em que a Argentina vivia os piores anos da ditadura militar, Mercedes esteve proibida de cantar -o que a levou a continuar seu trabalho em países da Europa e nos EUA.
Nessa fase, lançou quatro LPs, um deles realizado ao vivo no Brasil, em 1980. Em nosso país, a nova canção foi apropriada como símbolo de resistência ao período de chumbo.
Passados os anos das ditaduras latino-americanas, a voz de Mercedes continuou a ser ouvida. Um de seus últimos discos, "Corazón Libre" (2005), traz belíssimas músicas interpretadas pela voz intacta da melhor intérprete da música folclórica argentina, que afirmou-se comunista até seus últimos anos.
Mais que militância política, "Corazón Libre" traduz a fidelidade da artista ao seu grande projeto de vida: "Adelante, corazón, sin medo de la derrota. Durar no es estar vivo, corazón.
Vivir és otra cosa".


TÂNIA DA COSTA GARCIA é professora de história da América do Departamento de História da Unesp/Franca e autora do livro "O "It Verde e Amarelo" de Carmen Miranda"


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