São Paulo, terça-feira, 05 de novembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LITERATURA

Livro de Marcos Fábio Katudjian traz a São Paulo a lenda urbana de supostos filmes com assassinatos reais

"Snuff movies" são tema de romance

IVAN FINOTTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma história de amor passada no submundo da produção de "snuff movies". Pode parecer estranho, mas esse é o mote do romance "Snuff Movie - Depois do Fim do Mundo", do escritor paulistano Marcos Fábio Katudjian.
"Snuff movie", não o livro, mas a expressão em inglês, significa um gênero de filmes em que um dos atores é torturado e morto sem efeitos especiais, ou seja, de verdade. Trata-se de uma lenda urbana, jamais comprovada, mas que rende muita discussão.
"Snuff Movie", o livro, se passa em São Paulo, onde uma quadrilha internacional recruta desavisados e filma suas mortes após uma sessão de sexo e tortura. Mas esse submundo chocante é apenas o pano de fundo para o romance entre os dois protagonistas da história, Flávio e Fernanda.
Fernanda é uma garota rica, inteligente e entediada que só descobre alguma adrenalina na vida ao se envolver com um americano produtor de "snuffs". Flávio é o rapaz do interior que ela escolhe, inicialmente para ser uma das vítimas do esquema. Mas, claro, algo dá errado entre a rua Teodoro Sampaio e a chique Granja Viana.
"Atualmente, para poder falar de amor, querem que você primeiro desça aos porões. É essa a idéia. Não acredito que exista nada mais sórdido do que um "snuff movie"", diz Katudjian, 36, que estréia na literatura após dirigir curtas-metragens.
Formado em cinema e veterinária, ele também estudou perícia criminal. Isso talvez explique por que as descrições das sessões de tortura não são boas para os de estômago fraco: há sangue à beça.
Mas Katudjian conta que não se preocupou em pesquisar o assunto para seu livro. "Não fico divagando sobre se "snuffs" existem ou não, nem me empenhei em encontrar um para assistir. O livro não é sobre isso", diz ele.
"Tive inclusive o cuidado de colocar a palavra "romance" na capa para que nenhum desavisado pense que se trata de um livro de pesquisa. Uso os "snuffs" apenas como um trampolim para falar um pouco de nossa miséria."
A lenda dos "snuffs" começou com o lançamento de "Snuff" (76), inspirado no assassinato de Sharon Tate por Charles Manson e sua "família". Os cinco minutos finais mostram a equipe largando os microfones e luzes para torturar e matar a atriz principal.
Após algum tempo, os negativos acabam, mas o espectador continua ouvindo os sons do assassinato. Após uma onda de protestos, o produtor reconheceu que se tratava de marketing.
Hoje contabilizam-se dezenas de filmes sobre o assunto e diversos alarmes falsos. Em 91, o ator Charlie Sheen assistiu a um filme japonês numa festa em Hollywood e acionou a polícia. Estava crente que "Chiniku No Hana" (90) era um autêntico "snuff". Ficou comprovado que não era.
O livro de Katudjian também pode virar filme. Aliás, foi concebido inicialmente como um roteiro cinematográfico. "Escrevi o roteiro em cinco dias e noites, quase como numa psicografia. Depois, deixei o roteiro de lado e vi que aquilo era um romance, que demorei dez meses para escrever. Agora, pretendo refazer o roteiro e começar a pensar na produção do filme", diz ele, que também finaliza um livro de contos.


SNUFF MOVIE - DEPOIS DO FIM DO MUNDO. Autor: Marcos Fábio Katudjian. Editora: Casa Amarela. Quanto: R$ 35 (360 págs.).



Texto Anterior: "Há um preço a pagar pela violência", diz Larry Clark
Próximo Texto: Panorâmica - Cinema: Festival de Brasília anuncia júri
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.