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26ª MOSTRA DE CINEMA DE SP
Personagens de "Ken Park" nasceram antes da estréia do cineasta na direção, com "Kids" (95)
"Há um preço a pagar pela violência", diz Larry Clark
DA REDAÇÃO
Leia a seguir trechos da entrevista com o diretor norte-americano Larry Clark sobre "Ken
Park".
(LÚCIA VALENTIM RODRIGUES)
Folha - "Ken Park" foi o primeiro
filme que você quis fazer. Por que
demorou tanto para sair?
Larry Clark - O projeto é de 95.
Mas, por ser uma idéia diferente
do que dita as regras de Hollywood, ficou na gaveta por muito
tempo. As produtoras me diziam
que era polêmico demais, provocativo demais. Demorou para eu
conseguir arrecadar o dinheiro.
Folha - Por que fazer um filme
com sexo e violência explícitos?
Clark - Porque essa é a realidade.
O que Hollywood mostra é entretenimento barato. Em "Ken Park"
tudo é verdadeiro: ou de conhecidos meus ou do que li no jornal.
Folha - E por que outros diretores
não mostram essa realidade?
Clark - Vejo as coisas por outro
ângulo, talvez por ser fotógrafo.
Ou talvez os cineastas só queiram
ganhar dinheiro. Em Hollywood,
os finais são trocados se a platéia-teste não gostar. Isso não é jeito de
fazer cinema, isso é como um
hambúrguer do McDonald's:
após meia hora, ninguém mais
lembra o que viu. Não cortaria
"Ken Park" para uma versão leve.
Folha - "Ken Park" explicita mais a sexualidade que "Kids"...
Clark - É, mas, por outro lado,
hoje os jovens estão fazendo mais
sexo. Do jeito que os EUA e a sociedade americana estão configurados, é dito aos adolescentes para transarem mais cedo. Não sei
ao certo se isso é positivo, porque
nem todos estão prontos para fazer sexo. Mas tento ser flexível.
Folha - Quantos filhos você tem?
Clark - Matt tem 19 e escolheu as
músicas de "Ken Park" -o rap e
o hip hop, principalmente. A mais
velha tem 27 e acabou de ter um
menino, ou seja, virei avô -é engraçado, ainda não me acostumei
à idéia. E tenho outra garota de 16.
Folha - Você pede a eles para darem palpites em seus filmes?
Clark - Minha filha ainda é jovem, mas meu filho viu todos os
meus filmes antes de serem lançados. Ela era muito criança para
ver "Kids" na época de lançamento, mas já assistiu há alguns anos.
Folha - E ela já viu "Ken Park"?
Clark - Er... Não, ainda não.
Folha - Mas você permitiria que
ela visse "Ken Park"?
Clark - Hum... Quer dizer... Não
sei... Claro, ela pode ver.
Folha - Você é um pai conservador para garotas?
Clark - Mais ou menos. Meus filhos são bem sofisticados, já viram de tudo, ainda mais vivendo
no meio artístico nova-iorquino.
Folha - Você acha que seu jeito de
filmar banaliza violência e drogas?
Clark - Vivemos num mundo
violento. Em "Ken Park" só há
um tiro e duas facadas. O motivo
pelo qual parece violento é o contraste desse ambiente ao de filmes
em que há centenas de mortes,
sangue, tiros, mas o público não
liga. Meu realismo não deixa a
platéia sair ilesa. Tem de perceber
que há um preço a pagar, que não
é uma brincadeira estúpida.
Folha - Qual seu novo projeto?
Clark - Estou captando recursos
para um filme baseado numa história infantil adaptada para os
tempos modernos. Achei que seria algo diferente. Tenho ainda
dois roteiros na mão, devo estar
filmando nos próximos meses.
Mas é difícil arrecadar dinheiro.
Parece que "Kids" dificultou as
coisas. E talvez fique ainda mais
difícil após "Ken Park". Os produtores gostam dos meus filmes,
mas sempre ficam relutantes
quanto a novos projetos. Mas
nunca vou desistir de lutar, de
tentar filmar à minha maneira.
KEN PARK - Direção: Larry Clark e Ed
Lachman. Quando: hoje, às 19h40, no
Cineclube DirecTV 1
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