São Paulo, sábado, 05 de novembro de 2011

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Segundo viúva, obra inédita foi 'presente' deixado por Saramago

Como o editor e o biógrafo, Pilar del Río refuta ideia de que escritor tenha renegado 'Claraboia'

Autor, que amargou hiato editorial após ter romance desprezado, o considerava ingênuo, mas fiel à obra posterior

DE SÃO PAULO

José Saramago certa vez definiu "Claraboia" como um livro "ingênuo", mas que "não está mal construído" e "tem coisas que já têm que ver com o meu modo de ser".
Fato é que, após ser desprezado por uma editora nos anos 50, o escritor sentiu o golpe: só voltaria a publicar um romance 24 anos depois, "Manual de Pintura e Caligrafia". E bateu o pé para que a obra desdenhada não saísse enquanto estivesse vivo.
A viúva de Saramago, Pilar del Río, e seu editor português, Zeferino Coelho, amigo de toda vida, rejeitam porém que "Claraboia" tenha sido renegado pelo autor.
Pilar conta que Saramago "se sentiu doído, e essa falta de respeito o fez entrar num tempo de silêncio que hoje sentimos como uma perda".
"Saramago dizia", lembrou a viúva à Folha, "que ninguém é obrigado a amar ninguém, a publicar ou a ler ninguém, mas todos temos a obrigação de nos respeitarmos mutuamente."
Pilar, que define "Claraboia" como "um grande Saramago", encara a obra como "um presente que Saramago nos deixou". "Ao publicá-lo, continua estando aqui, o que os leitores agradecemos."
Para Zeferino Coelho, "a ausência de resposta feriu a sensibilidade muito aguda de Saramago e o levou a desistir de publicar e escrever. Felizmente, para nós, a desistência foi apenas provisoria".
Quando veio, nos anos 90, a oferta para publicação, Coelho conta que Saramago pediu-lhe para ler "Claraboia".
"Eu propus-lhe a publicação. Não aceitou. Estava em plena atividade e publicava um romance novo o mais tardar a cada dois anos."
Segundo o editor, nada na presente edição -lançada por ora só em Portugal e no Brasil- foi mexido ou alterado. "O original estava completo e perfeitamente claro."
Outros, como João Marques Lopes, autor de uma biografia de Saramago, opinam que o desdém da editora não teria sido a única causa do silêncio e do degredo. "A falta de êxito de crítica e de público de 'Terra do Pecado' [o romance de estreia]" teria sido outra razão, palpita o escritor português. (FABIO VICTOR)


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