São Paulo, sexta, 5 de dezembro de 1997.




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LIVROS
O escritor americano tem "Mao 2" lançado no Brasil; seu último romance, "Underworld", é best seller nos EUA
Don DeLillo expõe o terror do século

MARCELO REZENDE
da Reportagem Local

O norte-americano Don DeLillo, durante quase 30 anos, foi tido como o mais misterioso, estranho e paranóico escritor de sua geração. Agora, aos 61 anos, e após 11 livros publicados, é também a grande aposta, o "homem de tema único" e, por fim, o best seller.
"Underworld", seu mais ambicioso romance -mais de 800 páginas que se iniciam com um decisivo lance em um jogo de beisebol, passando pela Guerra Fria e a disputa bélica gerada pela tecnologia nuclear- é hoje a grande surpresa na lista de mais vendidos dos EUA.
DeLillo, conhecido por escrever romances sobre os mesmos temas que motivam pensadores franceses a tentar produzir ciência -as estradas, os motéis, os supermercados e as "imagens geradas pela América"-, sempre foi um autor discreto, tanto no que se refere às vendas quanto em sua vida.
Um homem que raramente dá declarações sobre assuntos de importância nacional ou concede uma entrevista, DeLillo era, até "Underworld", um escritor adorado por escritores. Agora, é um previsível presente de Natal.
Ganhador de vários prêmios, DeLillo começou a conquistar essa posição com a publicação de "Ruído Branco", em 1985. Prosseguiu com a biografia ficcional de Lee Harvey Oswald, o suposto assassino de John Kennedy, em "Libra". Chegou a uma quase unanimidade em "Mao 2".
Seus livros são sempre épicos. Sua terra, a América; e os personagens têm sempre suas vidas alteradas pelo contato com perigosos grupos secretos.
"Mao 2", que está sendo agora lançado no Brasil, é dedicado ao também escritor -e editor- Gordon Lish, que, na década passada, nos meios literários norte-amerianos, era conhecido pelo apelido de "capitão ficção".
Durante os anos em que trabalhou para a revista "Esquire", Lish ajudou a popularizar nomes como os dos autores Raymond Carver, Tim O'Brien, Richard Ford e, claro, DeLillo.
Para Lish, um dos poucos a participar da intimidade do romancista, Don Delillo é o mais decisivo autor nas letras norte-americanas, porque "ao contrário de outros nomes tão aclamados, ele não escreve por imposição do mercado" (leia entrevista ao lado).
Don DeLillo nasceu em 20 de novembro de 1936, de pais italianos. Foi criado no bairro do Bronx, em Nova York -um reduto para os chamados ítalo-americanos, como conta em artigo para a revista norte-americana "The New Yorker", que a Ilustrada publica hoje.
DeLillo, durante sua infância, conviveu com o cineasta Martin Scorsese e o ator Robert De Niro. Ora pertenciam à mesma gangue, ora estavam em turmas rivais.
Um homem católico em um país de predomínio protestante, costuma afirmar que sua ficção se origina da visão dos rituais da igreja que, segundo ele, são uma forma elaborada de arte.
Uma experiência que somou a sua paixão pelo cinema e o fascínio pelas descobertas tecnológicas.
A religião, conta DeLillo, lhe mostrou que o fim é iminente e está sempre perto.
Seus livros, de uma maneira quase prosaica, com uma escrita que se afasta de todos os modos da soberba e da pretensão, tentam expor as formas escolhidas pela civilização para que a tragédia aconteça. De certa maneira, a paranóia de Delillo é uma questão de fé.



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