|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
'O próximo Prêmio Nobel dos EUA'
da Reportagem Local
Leia trechos da entrevista com o
escritor, crítico e editor norte-americano Gordon Lish, que falou à
Folha na quarta-feira, por telefone, de sua casa em Nova York.
(MR)
Folha - Don DeLillo é hoje um
dos maiores escritores dos EUA?
Gordon Lish - Eu diria que por
muitas razões ele é o maior autor
em atividade nos EUA hoje. Suspeito que ele será o próximo escritor de meu país a ganhar um Prêmio Nobel de literatura.
Hoje há cada vez menos liberdade para se escrever. Escrever sentenças que sejam livres do julgamento de terceiros. A exceção é
meu amigo Don DeLillo. Nós nos
aproximamos nos anos 70; isso
aconteceu em consequência da natureza de nossos trabalhos.
Folha - E qual é essa natureza?
Lish - A maneira que vemos e
concebemos o mundo. Penso que
a ficção de DeLillo é animada,
construída pelo sentimento de
horror. Ele me dedicou "Mao 2",
especialmente, porque... Bem, eu
sou particularmente fã de dois romances que ele escreveu antes de
"Mao 2" -"Os Nomes" e "Players". E nós decidimos realizar
uma saudação na forma de dedicatórias durante anos. Eu lhe dediquei "My Romance" e "Epigraph", lançado no ano passado.
De minha parte foi memorável, da
parte dele eu não sei.
Folha - É verdade que o sr. o descobriu?
Lish - Não é verdade. Antes de
nos encontrarmos ele já havia publicado dois romances. Mas eu o
publiquei quando era editor de ficção da revista "Esquire" e também na Knopf (a editora onde trabalhei por 18 anos). Mas não se pode dizer que eu o descobri, no sentido em que isso aconteceu em relação a outros autores. Apenas sei
que durante minha experiência
como editor nunca encontrei alguém melhor do que DeLillo; e, se
fizermos uma lista, veremos que
existem poucos competidores.
Uma particularidade em sua
atual situação é que ele agora é um
best seller, mas não que tenha chagado ao mercado. Parece que o
mercado chegou a ele. Ou, na verdade, tudo foi um grande acaso.
Não foi sua intenção.
Provavelmente isso representa
uma nova relação entre o escritor e
o mercado. DeLillo é um autor que
nunca esteve comprometido com
o mercado. Na verdade, acho que
ele é um ser humano sem compromissos. Não posso imaginá-lo se
adequando ao leitor. Acho que o
sucesso de "Underworld", por
exemplo, talvez possa ser entendido como o resultado de circunstâncias bizarras e inesperadas.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|