São Paulo, terça-feira, 05 de dezembro de 2000

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Pop francês safra 2000
Divulgação
Bertrand Burgalat, conhecido na França por conta de seu selo, o indie Tricatel, lança-se agora com "The Sssound of Mmmusic"



Música gaulesa junta o som conhecido como "french touch" -mescla de house, funk e hip hop- a ecos de Gainsbourg para esquentar inverno europeu

CLAUDIA ASSEF
DE PARIS

Cíclico como boas safras de vinho, o pop francês engata uma fase superprodutiva neste começo de inverno europeu.
E, se esse novo som tem um embaixador, ele é careca, desengonçado e atende pelo nome grã-fino de Etienne de Crécy. Seu primeiro disco, "Tempovision", que saiu na Europa em setembro, está entre os mais vendidos da França.
Apesar de ter lançado só agora um disco com seu nome, o DJ e engenheiro de som Etienne de Crécy, 32, é um veterano. Junto com Alex Gopher, Dimitri from Paris, Daft Punk, Cassius e Air, De Crécy ajudou a criar o som conhecido como "french touch".
O gênero, que misturava a house tradicional de Chicago a elementos do funk e do hip hop, inundou as pistas do mundo inteiro em meados dos anos 90.
Sob o nome de Motorbass, De Crécy e Philippe Zdar, do Cassius, fizeram um dos discos de referência da "french touch", "Pansoul", de 1996.
Com "Tempovision", De Crécy mostra que sabe fazer algo mais do que música de festa. É seu lado nostálgico, lento e "low profile".
"Misturei as coisas que eu gosto de ouvir num sampler e fui cortando e colando pedacinho por pedacinho", disse à Folha.
A entrevista foi dada no pequeno escritório do selo Solid, empreitada nascida da "brodagem" entre De Crécy e Alex Gopher.
O disco foi todo gravado no miniestúdio de De Crécy, que fica numa salinha escura da Solid. Do lado de dentro, um computador, um sampler e duas picapes são os únicos instrumentos de trabalho.
"Faço música eletrônica, não dá para ficar usando instrumento. Sem computador, sou incapaz de produzir uma nota sequer", diz De Crécy. "Tempovision" consumiu, segundo ele, um ano de trabalho intenso e "braçal".
O álbum abre com o barulhinho de um modem se conectando à Internet. Depois, uma voz feminina prepara o ouvinte para o que vem pela frente. Um sussurrado "relax, relax" é a primeira "ordem" do CD.
"Acho que o álbum ficou nostálgico, "cool". Realmente, não é música de festa", avalia De Crécy.
Com climas sombrios, voz negra cantando em inglês, o disco soa como uma versão desacelerada de "Play", do Moby.
"Acho que isso é um elogio, mas não posso dizer porque nunca ouvi "Play" inteiro", diz. Mas como alguém que trabalha com música eletrônica não ouviu o disco mais tocado dos últimos tempos?
"Quando estava gravando "Tempovision", não comprei nenhum disco novo, nenhum lançamento. Queria me isolar e mergulhar nos meus discos de soul, de jazz e de funk."
Depois de passar um ano trancafiado em seu estúdio, De Crécy foi a Nova York para arrumar uma voz para o disco. A cantora Belita Woods, que já foi parceira de George Clinton, foi a escalada para cantar.
Para promover o álbum, Etienne pretende fazer festas em que, já decidiu, só tocará uma ou duas faixas do disco.
"Sei fazer uma festa movida a house. E meu disco não foi feito para isso", diz.


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