VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Em Goiânia, um senhor de cerca de 60 anos disse que sempre quis ir ao teatro, mas desconhecia não precisar de roupa social para tanto. Pois deu com um palco-picadeiro ao ar livre.
Em Cuiabá, um burocrata da prefeitura, que não apoiou o projeto, disse, ao final de uma apresentação, que poderia enviar uma carta de recomendação ao Ministério da Cultura, à moda coronelista de antanho.
Em Curitiba, choveu a cântaros sobre a estrutura metálica descoberta, justamente quando o espetáculo-projeto "Pano de Roda" estava no quarto número.
São algumas notas da gira realizada pela tríplice aliança paulistana: Pia Fraus, Parlapatões e La Mínima. Os grupos vão amanhã a Santos e, na sequência, sábado e domingo, encerram em São Paulo a sétima e derradeira semana do evento no parque da Independência, bairro do Ipiranga.
Além do espetáculo comum, em que expressam suas linguagens distintas (a grosso modo, plasticidade cênica, verborrágica e mímica), o Pia Fraus, criado há 18 anos, os Parlapatões, 11, e a companhia La Mínima, 4, rodaram por 20 cidades do Centro-oeste, Sudeste e Sul do país com mais uma peça cada um.
"Bichos do Brasil" (Pia Fraus), "Nada de Novo" (Parlapatões) e "La Mínima Companhia de Ballet" (La Mínima) foram apresentadas em capitais ou municípios.
Para aproximar os grupos de algumas regiões que não os conheciam, foram realizadas oficinas pelos atores Beto Andretta, Beto Lima, Isabela Graeff, Claudinei Brandão, Hugo Possolo, Raul Barretto, Domingos Montagner e Fernando Sampaio.
Segundo a produtora Marlene Salgado, 36, as apresentações tiveram média de 400 espectadores (cabem 450 na estrutura metálica de 27 metros de diâmetro).
"Houve cidades que entenderam a proposta e nos apoiaram. Algumas prefeituras, porém, revelaram uma mentalidade bastante equivocada em relação à cultura e se negaram a dar contrapartida. Mesmo assim, levamos o "Pano de Roda" à população", diz o ator e palhaço Hugo Possolo, 40, dos Parlapatões.
Depois de percorrer cerca de 8.500 quilômetros, o projeto "Pano de Roda", que custou R$ 467 mil (programa Petrobras Artes Cênicas) pretende seguir em 2003 para alguns Estados do Nordeste.