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CRÍTICA
Uma idéia mórbida de amor
DO ENVIADO AO RIO
Melancólico e delicado
com sempre e como nunca,
Roberto Carlos faz em "Pra Sempre" mais uma profissão de fé no
amor romântico -o que sempre
tem feito religiosamente desde
1961, embora com roupa nova a
cada instante histórico.
Mas, como tudo muda, até o romantismo incomensurável de RC
sofre transformações neste álbum. A idéia de amor hoje se condensa em belas canções monocromáticas para Maria Rita.
O amor de Roberto pelo amor
adquire uma tonalidade mórbida,
uma pulsão de morte. A triste
canção "O Encontro" é explícita:
"O nosso encontro será sob a luz/
de um milhão de estrelas/ e no
azul mais bonito que um dia/ no
céu já se viu".
Boiando sempre sobre fundo
azul, ele aprofunda o culto ao
azul, ao blues, à tristeza. Essa é a
cor de sua gigantesca história de
amor com o Brasil, o mote que encontrou para apaixonar e ferir os
corações de todos nós.
Mudança e alegria (azuis) ele vai
encontrar no velho, nas duas parcerias com Erasmo Carlos. Em "O
Cadillac", reflete com acidez sobre si próprio e sobre as transformações que sofreu. Em "Seres
Humanos", já não inédita, tenta o
inédito: acreditar no homem,
acreditar em si. Nas duas, torna
obsoleta a idéia antiga de que seja
um artista imutável. É, mas na
mesma medida teimosa do congelamento de seus detratores.
Artista mais importante da história musical nacional (até o
"New York Times" queria entrevistá-lo anteontem), enclausura-se na fogueira amorosa de martírio e autoconfiança partida -é o
espelho de seu povo, de nós brasileiros românticos culpados. Derrama "Como Eu Te Amo", "Com
Você", "Eu Vou Sempre Amar
Você"..., gêmeas pálidas de alma
azul, de soul, de blues. Brasileiras.
(Este texto copia explicitamente
a obsessão temática de "Pra Sempre". Gira cego em torno de Maria
Rita. Ou melhor, do amor. Ou
melhor, de uma idéia de amor.
Que já morreu, ou está morrendo.) Viva Roberto Carlos.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Pra Sempre
Artista: Roberto Carlos
Lançamento: Sony
Quanto: R$ 28, em média
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