|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Cineastas discutem proibição ao acesso de jovens
DA REDAÇÃO
Trabalhando com a idéia de que
todos os elos da cadeia cinematográfica são afetados pelo impedimento no acesso, o documento
entregue ao governo salienta a
perda econômica causada à indústria do audiovisual. A outra
argumentação diz respeito à necessidade de demonstrar que a
obra corresponde a finalidades
educativas ou informativas.
"O cinema de entretenimento
não tem a função de educar. A
Constituição fala que as TVs devem ter função educativa. No cinema não há comentário sobre o
conteúdo. O que estão fazendo é
tratar do mesmo jeito duas coisas
que a Constituição trata diferente", diz Roberto Moreira.
O cineasta Fernando Meirelles,
embora concorde com a idade
atribuída a "Cidade de Deus"
-16 anos-, questiona a proibição. "A classificação estava correta, mas a proibição foi o problema. Garotos de 14 ou 15 não puderam ir assistir a um filme em que a
idade média dos personagens era
exatamente essa", argumenta.
"Um filme que lida com as questões do jovem acaba sendo impedido de chegar a seu público. No
Brasil, um garoto de 17 pode ter e
tem uma vida sexual regular, muitos usam drogas, mas não podem
ver o espelho de suas próprias vidas na tela. Valorizam demais a
importância e a força de persuasão do cinema", diz Meirelles.
Moreira, cujo filme "Contra Todos" é proibido para menores de
18, diz que a classificação põe o jovem à margem. "Classificar a 18 é
segregar, principalmente pensando que o jovem tem autoridade
para escolher o presidente da República, mas não pode ser exposto ao meu filme."
Em "Cama de Gato", o diretor
Alexandre Stockler argumenta
que as cenas de sexo e violência
mostradas não têm como intenção propagar a violência. "É para
fazer as pessoas refletirem", diz.
Há ainda quem enxergue um
preconceito histórico com as filme nacionais. "O cinema brasileiro é muito prejudicado. "Quem
Vai Ficar com Mary", que era para
12 anos, tinha cenas escatológicas
absurdas. Imagine se a gente fizer
um filme assim? As pessoas costumam reclamar que o filme brasileiro tem palavrões. O americano
é cheio, mas "asshole" é traduzido
como babaca e "fuck you" como
dane-se. E aí ficam com censura
mais baixa", diz Jorge Furtado.
Furtado, como outros diretores
ouvidos pela Folha, pede critérios
mais claros de avaliação. "Eu estou fazendo um filme ["Meu Tio
Matou um Cara'] e minha filha de
quatro anos já o viu 20 vezes.
Acho que deveria ser censura livre, mas talvez seja 12 anos porque, enfim, o tio matou um cara",
diz, rindo. "Matou um cara fora
da história. Não aparece a morte."
Para Furtado, é preciso ter noção de que a ficção é uma representação. "Toda dramaturgia
mais interessante do mundo é repleta de pecados e crimes. "Romeu e Julieta", "Macbeth". Isso faz
parte do mundo, da vida", diz.
Para não correr o risco de ver
"Bicho de Sete Cabeças" ser proibido para menores de 18, Laís Bodanzky diz ter tomado todos os
cuidados para não esbarrar na
classificação. "No roteiro já nos
preocupávamos porque pensávamos em fazer um filme para os
adolescentes", conta.
O cineasta Carlos Reichenbach
se diz incomodado com a idéia de
o Estado querer substituir o pai.
"Esse negócio de censura é uma
coisa absurda, mas é indiscutível
que esse tipo de decisão deve passar, antes de mais nada, pelo crivo
do realizador, que de certa forma
também deve ser responsabilizado."
(JF)
Texto Anterior: Indicação ou censura? Próximo Texto: Outro lado: Ministério nega censura em em portaria Índice
|