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CRÍTICA
Novo Kong é humano, demasiado humano
DO ENVIADO A NOVA YORK
Como é o novo "King Kong",
a refilmagem que Peter Jackson fez do clássico de 1933, seu
primeiro filme desde a trilogia "O
Senhor dos Anéis", um dos mais
aguardados deste final de 2005/
começo de 2006 e candidato a
blockbuster dos feriados de fim
de ano do mundo inteiro?
Humano, demasiadamente humano. Kong ainda é o primata de
oito metros que aterroriza os habitantes da Ilha da Caveira (Skull
Island no original, ou Ilha dos
Crânios) e exige um sacrifício humano feminino de tempos em
tempos, mas na versão atual está
na crise da meia-idade: tem alguns pêlos grisalhos, barriga
proeminente, cicatriz na cara e
anda desanimado com as meninas locais que são oferecidas.
A Folha entrou na primeira exibição mundial do filme "King
Kong", na sexta-feira à noite em
Nova York -parte da imprensa
brasileira que foi convidada só
iria assistir ao filme no sábado à
noite. Pois foi uma das premières
com o maior esquema de segurança da história de Hollywood
até hoje, por conta da indústria
globalizada da pirataria, que consegue colocar DVDs de boa qualidade à venda em quiosques nas
ruas das grandes capitais do planeta horas depois da estréia oficial
de um filme desse porte.
Para chegar à sala, o repórter
passou por detetor de metais, teve
o corpo revistado em seguida por
um detetor portátil, foi apalpado
pelo segurança e viu o conteúdo
do casaco e mochila revistados,
assim como o celular examinado
-nada que tivesse qualquer possibilidade de gravação de áudio
ou vídeo digital era permitido.
Dois policiais armados da força
regular de Nova York guardavam
a porta de entrada.
Não só: uma vez dentro da sala,
durante as quase três horas que
dura o filme, seis seguranças andavam pela sala mirando os jornalistas com binóculos de visão
noturna, comumente utilizados
por militares em missão, em busca de algum aparelho de gravação
não-permitido em funcionamento. Não houve incidentes. Na sala.
Na tela, não passaram cinco minutos sem uma cena de ação muito bem elaborada ou de fazer
prender a respiração. Faz sentido
o raciocínio de Peter Jackson, ele
próprio o King Kong de Hollywood, não só por suas dimensões
corporais (perdeu 15 quilos nos
últimos meses), mas pelo bilhão
de dólares que sua cinessérie baseada na série de livros "O Senhor
dos Anéis" trouxe para os EUA,
assim como o recorde de Oscars:
se é para refilmar um título que já
virou verbete cinematográfico, faça referências e exagere.
Pois referências ele fez, e exageros também. No bom sentido:
"King Kong", o de agora, não fica
nada a dever ao original e dá de
dez na refilmagem de 1976, produzida por Dino de Laurentiis
-embora a norte-americana Jessica Lange ainda dê um banho na
anglo-australiana Naomi Watts
como a loira que chama a atenção
do gorila. Jackson cita de "Parque
dos Dinossauros" a "Titanic", de
"Bruxa de Blair" a "O Resgate do
Soldado Ryan", de "Elo Perdido"
ao próprio passado do diretor,
que até o fenômeno "O Senhor
dos Anéis" era conhecido quase
só na Austrália e geralmente por
seus filmes extremamente violentos e gráficos.
Assim, não espere um filme para crianças ou pré-adolescentes:
há pessoas sendo decapitadas e
esmagadas e Tiranossauros Rex
tendo a boca escancarada na marra. Ao mesmo tempo, acomode-se bem na cadeira: exagerado,
Jackson gastou o tempo e o dinheiro que quis para refazer do
jeito que quis o filme que o fez decidir ser diretor quando criança: o
primeiro grito de Kong só é dado
com uma hora e cinco minutos; o
próprio só aparece aos 70 minutos; a vinda para Nova York só
ocorre aos 150 minutos.
Que passam voando, pela mistura em doses certas de ação (especialmente as lutas de Kong com
outros animais) e bom humor (a
cargo do produtor de cinema
inescrupuloso interpretado por
Jack Black). Humano, o Kong de
Jackson é deprimido e sofre por
amor, mas é a declaração do diretor ao cinema: a fera que se apaixona pela bela e, para sorte da platéia, é correspondida.
(SÉRGIO DÁVILA)
Os custos da viagem do jornalista Sérgio Dávila foram pagos parcialmente
pela Universal Studios.
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