São Paulo, segunda-feira, 05 de dezembro de 2005

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CRÍTICA

Novo Kong é humano, demasiado humano

DO ENVIADO A NOVA YORK

Como é o novo "King Kong", a refilmagem que Peter Jackson fez do clássico de 1933, seu primeiro filme desde a trilogia "O Senhor dos Anéis", um dos mais aguardados deste final de 2005/ começo de 2006 e candidato a blockbuster dos feriados de fim de ano do mundo inteiro?
Humano, demasiadamente humano. Kong ainda é o primata de oito metros que aterroriza os habitantes da Ilha da Caveira (Skull Island no original, ou Ilha dos Crânios) e exige um sacrifício humano feminino de tempos em tempos, mas na versão atual está na crise da meia-idade: tem alguns pêlos grisalhos, barriga proeminente, cicatriz na cara e anda desanimado com as meninas locais que são oferecidas.
A Folha entrou na primeira exibição mundial do filme "King Kong", na sexta-feira à noite em Nova York -parte da imprensa brasileira que foi convidada só iria assistir ao filme no sábado à noite. Pois foi uma das premières com o maior esquema de segurança da história de Hollywood até hoje, por conta da indústria globalizada da pirataria, que consegue colocar DVDs de boa qualidade à venda em quiosques nas ruas das grandes capitais do planeta horas depois da estréia oficial de um filme desse porte.
Para chegar à sala, o repórter passou por detetor de metais, teve o corpo revistado em seguida por um detetor portátil, foi apalpado pelo segurança e viu o conteúdo do casaco e mochila revistados, assim como o celular examinado -nada que tivesse qualquer possibilidade de gravação de áudio ou vídeo digital era permitido. Dois policiais armados da força regular de Nova York guardavam a porta de entrada.
Não só: uma vez dentro da sala, durante as quase três horas que dura o filme, seis seguranças andavam pela sala mirando os jornalistas com binóculos de visão noturna, comumente utilizados por militares em missão, em busca de algum aparelho de gravação não-permitido em funcionamento. Não houve incidentes. Na sala.
Na tela, não passaram cinco minutos sem uma cena de ação muito bem elaborada ou de fazer prender a respiração. Faz sentido o raciocínio de Peter Jackson, ele próprio o King Kong de Hollywood, não só por suas dimensões corporais (perdeu 15 quilos nos últimos meses), mas pelo bilhão de dólares que sua cinessérie baseada na série de livros "O Senhor dos Anéis" trouxe para os EUA, assim como o recorde de Oscars: se é para refilmar um título que já virou verbete cinematográfico, faça referências e exagere.
Pois referências ele fez, e exageros também. No bom sentido: "King Kong", o de agora, não fica nada a dever ao original e dá de dez na refilmagem de 1976, produzida por Dino de Laurentiis -embora a norte-americana Jessica Lange ainda dê um banho na anglo-australiana Naomi Watts como a loira que chama a atenção do gorila. Jackson cita de "Parque dos Dinossauros" a "Titanic", de "Bruxa de Blair" a "O Resgate do Soldado Ryan", de "Elo Perdido" ao próprio passado do diretor, que até o fenômeno "O Senhor dos Anéis" era conhecido quase só na Austrália e geralmente por seus filmes extremamente violentos e gráficos.
Assim, não espere um filme para crianças ou pré-adolescentes: há pessoas sendo decapitadas e esmagadas e Tiranossauros Rex tendo a boca escancarada na marra. Ao mesmo tempo, acomode-se bem na cadeira: exagerado, Jackson gastou o tempo e o dinheiro que quis para refazer do jeito que quis o filme que o fez decidir ser diretor quando criança: o primeiro grito de Kong só é dado com uma hora e cinco minutos; o próprio só aparece aos 70 minutos; a vinda para Nova York só ocorre aos 150 minutos.
Que passam voando, pela mistura em doses certas de ação (especialmente as lutas de Kong com outros animais) e bom humor (a cargo do produtor de cinema inescrupuloso interpretado por Jack Black). Humano, o Kong de Jackson é deprimido e sofre por amor, mas é a declaração do diretor ao cinema: a fera que se apaixona pela bela e, para sorte da platéia, é correspondida.
(SÉRGIO DÁVILA)


Os custos da viagem do jornalista Sérgio Dávila foram pagos parcialmente pela Universal Studios.


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