São Paulo, segunda-feira, 05 de dezembro de 2005

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MÔNICA BERGAMO

Ana Ottoni/Folha Imagem
Vista aérea do casamento de Athina e Doda, na Fundação Maria Luísa e Oscar Americano

Bilionários para sempre

O casamento da bilionária Athina Onassis com o brasileiro Álvaro Affonso de Miranda, o Doda, foi uma cerimônia raras vezes vista na cidade. São 18h30 quando uma fila de carros de luxo começa a se formar na porta da Fundação Maria Luísa e Oscar Americano, no Morumbi.

"Parece fila de balsa" diz uma das convidadas do casal. "A cada meio metro da rua, um segurança." Todos parados, "chiquérrimos", de preto. Quatrocentos, no total. No meio dos carros, outros tantos seguranças, lanterna na mão, conferem os cartões de identificação dos passageiros dos carros. Sem o crachá, com código de barras e tudo, é impossível transpor as barreiras da festa.

Na primeira entrada, guichês com computadores lêem o código de barra dos crachás -e fotografias enviadas pelos próprios convidados para a organização da festa dias antes aparecem imediatamente nas telas dos computadores. Segunda parada: detector de metais. Bolsas "suspeitas" são abertas: quem leva nelas câmera ou celular é solicitado, gentilmente, a deixá-los na portaria. O casal não admite fotos na festa.

Ninguém escapa da vigilância: o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, o presidente da Nestlé, Ivan Zurita, o apresentador Tom Cavalcante, a empresária Yara Baumgart, o empresário José Victor Oliva, Vivianne e Leonardo Senna -todos os convidados, sem exceção, tiveram que mandar suas fotografias e passar pelo guichê.

Do lado de fora, a fila só fazia crescer. Jornalistas americanos, gregos, argentinos, ingleses, se atiravam sobre os carros dos convidados. Leonardo Senna é reconhecido em sua Cayenne Turbo. Atrás dela, quatro carros de sua escolta particular. Tarsila do Amaral, sobrinha-neta da artista plástica, é aplaudida pela multidão de repórteres. Motivo: foi a primeira a abrir a janela para dar entrevistas.

O secretário Walter Feldmann (PSDB/SP), repete o gesto de Tarsila. "Parei aqui para saber se está tudo bem com vocês", diz aos jornalistas. Narcisa Tamborindeguy e seu "personal tutor", Bruno Astuto, abrem a janela para os repórteres. "Tô de Valentino vermelho", avisa ela. "Ai, que loucura!!!". "Desfila, desfila!!!", pedem os fotógrafos. Narcisa ainda grita: "Athina só chega às nove!!!".

Vencidas as barreiras de entrada, os convidados são conduzidos para a igreja, ao som de bossa nova, num dos 25 carros da Audi, empresa que patrocina as competições de hipismo de Doda. Na porta da capela, todos tinham que apresentar um segundo cartão, numerado, de identificação. Da floresta vinham sons imitando o gorjear de passarinhos. Nos jardins, todo refeito, estátuas clássicas.

Igreja lotada, anjinhos barrocos pendurados no teto, hortênsias brancas por toda a igreja, orquestra Baccarelli...cenário de sonho...e as portas se abrem! Entra Doda de braços dados com a mãe. Entram os padrinhos. Entra Sandrine, irmã de Athina, corpo escultural, vestido cereja ultra-decotado, nas mãos uma almofada com as coroas da benção grega. Entra Viviane, 5, filha de Doda, num vestido de tafetá branco com detalhes rosas. As portas se fecham.

Suspense, mistério. Começa a marcha nupcial. As portas se abrem. Narcisa Tamborindeguy não aguenta: fica em pé na cadeira para ver a noiva chegar. "Estava todo mundo esperando para ver se ela entraria com o pai", diz uma convidada. Surge Athina.

Choque geral: está de braços dados com o sogro, Ricardo Miranda. O pai, Thierry Roussel, tão esperado, não apareceu. Os dois brigam por causa da herança dela. "Foi emocionante ver aquela menina, que tem tudo, e é ao mesmo tempo tão só. A gente sentia que ela estava ganhando uma família."

As atenções se voltam para o vestido de Athina Onassis. Valentino. Pérola. Tomara-que-caia. De seda pura. Todo bordado com flores e minúsculos cristais. O cabelo, preso na frente, cai numa cascata de cachos, by Marco Antonio de Biaggi. A maquiagem, em tons dourados e leve toque de marrom e preto, era de Kaká Moraes. O véu se prolonga até alcançar a cauda do vestido.

"O par de brincos de brilhantes era desbundante. Devia ser da mãe ou da avó", aposta uma das convidadas. Nas mãos, um terço de brilhantes, como manda a tradição católica ortodoxa, religião de Athina. Doda chora ainda mais. Athina faz os juramentos do matrimônio. Em português, com forte sotaque: "marridô", "Mirrranda", "pobrrezza". Os dois deixam a capela de mãos dadas com Viviane.

Fim da cerimônia, todos se dirigem ao salão do jantar. A decoração, de Chris Ayrosa e Karla Negri, surpreende os convidados: do branco e verde da igreja, passa-se para o rosa e creme dos salões. Cada mesa tem um formato diferente: redondas, retangulares, quadradas, estão enfeitadas com arranjos de hortênsias rosas sobre toalhas de linho. Tudo sóbrio: o brilho fica por conta das convidadas.

Yara Baumgart é uma quase unanimidade: num Valentino de cetim verde, com um chafariz de pérolas e brilhantes no pescoço "que se enxergava a quilômetros", de acordo com um convidado, é tida como uma das mais elegantes da noite. Sua filha, Cristina Baumgart, madrinha do casal, veste Yves Saint Laurent. O presidente do BC, Henrique Meirelles, sentou numa das três mesas principais, ao lado de representantes da família Onassis. Falou muito de Goiás, sua terra eleitoral. Nada de economia.

Veuve Clicquot é servido aos baldes, mas os convidados acham tudo muito simples e natural, "sem potes de caviar, essa ostentação toda", diz um deles.

No cardápio, gazpachio gelado, carpaccio de carne, salmão rosa e folhado de pistaches com sal marinho de entrada; primeiro prato, camarões sobre fundo de alcachofra e fios de pupunha; segundo prato, vitela fatiada sobre risoto, tulipa de marrom glacê; de sobremesa, pequenos churros, calda de gianduia, suflê de chocolate quente, sorvete de zabaione e telha de amêndoas.

A mesa de doces, num salão coberto de folhas de fícus, é uma atração à parte: Nininha Sigrist assinou os caseiros, e de Belo Horizonte vieram doces gelados. Sobre alguns, pequenas hortênsias. As recepcionistas dizem, sobre as flores: "É para comer". "Vou a casamentos há vinte anos. Nunca vi nada igual", diz um convidado. Perto dele, Gustavo Borges e o médico Marcelo Cunha enchiam os bolsos com os tradicionais bem-casados.

Na saída só as mulheres ganhavam lembrancinhas: uma caixinha branca com as iniciais dos noivos, "AA". Dentro, um colar de outro branco com um pingente de cristal lapidado em formato de coração.


@ - bergamo@folhasp.com.br
COM JOÃO LUIZ VIEIRA,DANIEL BERGAMASCO E LUCIANA OBNISKI



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