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"Um Canto de Esperança" é "Furyo" de saias
LEON CAKOFF
da Equipe de Articulistas
"Um Canto de Esperança", de
Bruce Beresford, lembra "Furyo", de Nagisa Oshima, é igualmente embalado pela música e um
amargo espírito natalino. E opõe
sadismo e dignidade em um campo de prisioneiros da Segunda
Guerra. O que vem agora é uma
versão feminina de "Furyo", desta vez com mulheres sendo massacradas por tropas japonesas.
O que sobra de uma batalha naval nos mares de Cingapura
-mulheres e crianças brancas, fugindo das colônias britânicas e holandesas- vai parar num campo
de concentração japonês.
O filme sai de relatos de sobreviventes e das partituras originais de
um episódio real. As mulheres desafiam a truculência de quartel em
pé de guerra formando um coral.
Querem cantar para afogar as mágoas. A maioria delas ainda inconformada por haver perdido a sua
própria ordem e disciplina imperiais na colônia abandonada a toque de caixa.
E, como se sabe, os dois lados
adoram a hora do chá. A guerra
surda agora é mais cultural. Perde-se a porcelana, mas o seu ritual
parece mantido nas aparências.
Perde-se a orquestra e seus instrumentos preciosos, mas fica a voz
para reproduzir o que for preciso
em acordes sofisticados.
A resistência cultural de "Furyo" tinha David Bowie. Ele tem
agora a sua versão feminina em
Glenn Close.
Comparações à parte, deve-se
ver "Um Canto de Esperança"
como uma das raras produções
dignas do momento que vem com
todos os elementos de Hollywood
sem se dobrar à imbecilidade dominante da sua chamada indústria
de entretenimentos.
Filme: Um Canto de Esperança
Produção: Austrália, 1997
Direção: Bruce Beresford
Com: Glenn Close, Pauline Collins, Cate
Blanchett e Frances McDormand
Quando: a partir de hoje, no Belas Artes,
sala Villa-Lobos
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