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CINEMA ESTRÉIAS
'O Cineasta...' mostra Amazônia oculta
JOSÉ GERALDO COUTO
especial para a Folha
"O Cineasta da Selva", de Auré
lio Michiles, recupera a vida e a
obra de um personagem fascinan
te: o documentarista luso-amazo
nense Silvino Santos (1886-1970),
que em dezenas de filmes de curta
e longa metragem registrou ima
gens preciosas do Brasil, sobretu
do da floresta amazônica.
O filme ganhou no recente Festi
val de Brasília o prêmio da Unesco
(dividido com "Anahy de las Mi
siones") e o de melhor longa de
estreante.
De acordo com o diretor amazo
nense Aurélio Michiles, 44, "O Ci
neasta da Selva" surge como
"consequência natural" de sua
atividade de documentarista. "Sil
vino Santos é um mito da Amazô
nia. Como eu também vim de lá,
sabia que em algum momento en
contraria esse mito para desven
dá-lo", disse ele à Folha.
Ao iniciar a pesquisa para seu fil
me, o cineasta percebeu a extensão
de seu desafio. "Havia um mate
rial de valor inestimável filmado
por Silvino, mas estava disperso e
em várias bitolas: 9 mm, 16 mm, 35
mm e até U-Matic."
Para não se perder em meio a es
se material, Michiles usou como
guia a tese da pesquisadora Selda
Vale sobre Silvino Santos e criou
uma estrutura narrativa que mis
tura documentário e reconstitui
ção histórica.
Imagens de Silvino
"A forma que encontrei para
mostrar as aventuras de Silvino na
selva foi colocar um ator (José de
Abreu) fazendo o papel dele e con
tando sua história."
Mas o grosso (e o fino) de "O
Cineasta da Selva" são as imagens
captadas por Silvino Santos.
Na parte biográfica, o filme mos
tra como ele chegou a Belém em
1899, aos 13 anos, e em pouco tem
po aprendeu fotografia e pintura.
Em Manaus, para onde se mudou
em 1910, conheceu o empresário
Julio Cesar Araña, que se tornou
seu protetor e mecenas.
Foi graças ao apoio de Araña que
Silvino pôde aprender cinema em
Paris, nos estúdios da Pathé e no
laboratório dos irmãos Lumière.
De volta ao Brasil, o cineasta tor
nou-se logo conhecido, com fil
mes como "No País das Amazo
nas" (1922) e "Terra Encantada"
(1923), este último rodado no en
tão paradisíaco Rio de Janeiro.
Ainda nos anos 20, Silvino pas
sou uma temporada em Portugal,
onde ao longo de três anos realizou
35 curtas-metragens.
Depois disso, de novo no Brasil,
ele praticamente se limitou a reali
zar filmes domésticos para seus
patronos.
Para reconstituir sua trajetória,
Aurélio Michiles filmou nos arre
dores de Manaus e de Belém e en
frentou problemas práticos seme
lhantes.
"Imaginávamos as dificuldades
por causa dos relatos. Fomos lá e
sofremos tudo na pele: insetos, ca
lor, umidade. Imagine Silvino, há
mais de 70 anos, carregando aque
le equipamento pesado pela mata,
com apenas um índio como aju
dante", diz o diretor.
Satisfeito com o resultado de seu
"O Cineasta da Selva", Michiles
prepara agora um longa-metra
gem semidocumental sobre outro
tema polêmico e esquecido: a his
tória dos jovens que, em 1966, par
ticiparam da guerrilha no rio Ne
gro e foram massacrados. "Eles
não entram nem na história ofi
cial, nem na história da esquerda.
É como se não existissem."
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