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CRÍTICA
Tempero brasileiro é a arma
MARCELO RUBENS PAIVA
especial para a Folha
Um amigo me definiu o que são
esses bares ponto de encontro de
garotas de programa: "É como ir a
uma festa e todas as garotas darem
em cima de você".
Por que me lembrei disso enquanto assistia, na última quarta, a
"Fantasia"? Será que é porque
duas dúzias de garotas bonitas ficavam me mandando beijinhos?
O programa é uma mistura de
karaokê onanista com quiz show
(programa de perguntas). Garotas
de pernas e ombros à mostra dançam, cantam e distribuem dinheiro. Existem similares em TVs do
mundo todo. Um apresentador joga com o telespectador ao telefone.
É o que se chama de TV interativa.
O tempero brasileiro é que faz o
programa acontecer, mocinhas da
geração Carla Perez a rebolar e seduzir o telespectador. "São bonitas as nossas meninas, não?", perguntou uma das apresentadoras a
um telespectador ao telefone. "É,
são boas...", respondeu.
O programa é dividido em blocos. Entre um bloco e outro, as
mocinhas dublam uma música conhecida, que pode ser de Netinho
ou Paralamas. "Se você me lambuzar, vou delirar...", cantam.
O cenário é uma praia artificial
com coqueiros e araras vermelhas
empalhadas -aquelas que estão
em extinção. Quatro apresentadoras se revezam: Débora
"Sem-Terra" Rodrigues, Adriana
Colin, Jackeline e Valéria Balbi.
"De olho na telinha, o telefone
ao lado, que o resto a gente faz...",
diz Colin no começo do programas. Então vai. "O que têm em comum Xuxa e Adriane Galisteu?"
São mulheres, são loiras, já posaram para a "Playboy" e namoraram o Senna. A telespectadora responde: "São apresentadoras de televisão". Está certo. Mas a apresentadora diz que não.
"O que têm em comum Tânia
Alves e Gabriela Alves?" "O sobrenome", responde outro telespectador. "Resposta errada", diz
a apresentadora. O que é isso, estão ludibriando o telespectador?
Não. É que são perguntas malfeitas
com respostas amplas, mas a produção só aceita a resposta da produção.
Jackeline joga 7 e meio (jogo de
cartas) com um telespectador, que
tira um 7 de ouro, um 2 e uma dama. Sete e meio! Mas ela diz que o
telespectador estourou. Não! Sete
de ouro é curinga no jogo! Errou o
programa, e o telespectador deixou de ganhar duzentinhos.
Jackeline, que chama um porta-aviões de submarino, no jogo
batalha naval, diz: "Bom, então
até amanhã..." Acaba o programa? Não. Aparece Débora Rodrigues, que diz: "'Fantasia' continua..." E acaba o programa. Que
bagunça.
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