São Paulo, terça, 6 de janeiro de 1998.




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FOTOGRAFIA
'O Nu e Seu Modelo', na Biblioteca Nacional de Paris, traz registros da segunda metade do século passado
Mostra revela pioneiros do nu artístico

MARIANE COMPARATO
de Paris

A arte imita a vida, e a arte imita a arte. Assim pode ser resumido o surgimento das máquinas fotográficas, no final do século 19, no meio artístico. A exposição "O Nu e Seu Modelo", em cartaz até 18 de janeiro na Biblioteca Nacional de Paris, mostra as primeiras fotografias de nu artístico.
Os primeiros fotógrafos clicavam seus modelos nas mesmas poses impostas por seus colegas pintores e escultores. Por isso mesmo, a fotografia demorou para ser alçada à categoria de obra de arte.
Oficialmente, no século 19, não existiam registros de modelos nus. A saída para a fotografia era ser usada como um estudo artístico. Por meio dela, alunos das escolas de belas-artes estudavam a anatomia do corpo humano. Pouco a pouco, escultores e pintores começaram a requerer estudos fotográficos para comporem suas obras.
"As Banhistas", quadro famoso de Gustave Courbet (1819-1877), é idêntico a uma fotografia tirada no mesmo ano (1854) por Julien Vallou de Villeneuve. Não se sabe qual veio antes.
Já os pintores Eugène Delacroix (1798-1863) e Alexandre Falguière (1831-1900) faziam deliberadamente uso da fotografia para elaborar seus quadros. A obra "Os Lutadores", de Falguière, exposta ao lado da fotografia tirada, é um exemplo disso.
O escultor Auguste Rodin (1840-1917), que começou por fazer desenhos de seus modelos, tirava ele próprio suas fotografias. Na exposição, é possível ver estudos de mãos em diversas posições e algumas crianças. Para Rodin, o modelo não era posado. Pelo contrário: perambulava nu pelo seu ateliê até que o mestre captasse posições naturais dignas de serem transformadas em escultura.
O erotismo da época é sutil: se dá por espelhos astuciosamente posicionados e outras estratégias. Títulos comportados, como "Nu Ereto Mascarado", mostrando uma mulher ajeitando sensualmente os cabelos, revelam a aparência de estudo que os artistas queriam dar à fotografia -a máscara, nesse caso, deixava o modelo mais à vontade. Pouco a pouco, começa a ser mais explicitado, como a obra do fotógrafo Charles-François Jeandelas: saias levantadas, modelos presas e penduradas por cordas.
A fotografia, então, deixou de ser simples auxiliar para o pintor ou escultor e entrou para o rol das artes. A exposição é uma bela oportunidade para testemunhá-la.


O colunista Arnaldo Jabor está em férias


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