São Paulo, sábado, 06 de janeiro de 2001

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Cem passos para entender a arte do século 20

>Associação Brasil +500 organiza, com o Centro Georges Pompidou, painel dos últimos cem anos de arte

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Abra bem os olhos. O ano de 2001 promete apresentar a história da arte no século 20 em apenas uma exposição. Ao menos é o que pretende a Associação Brasil +500.
Depois de ter organizado a Mostra do Redescobrimento, o maior panorama já realizado sobre a arte brasileira, a associação organiza em conjunto com o Centro Georges Pompidou, de Paris, uma retrospectiva da arte no século passado. Programada para ser inaugurada no dia 2 de outubro, no prédio da Oca, no parque Ibirapuera, a mostra chama-se "Panorama: A Arte do Século 20".
"Será a maior aula de história da arte ao vivo que já aconteceu no Brasil", disse à Folha o curador da exposição, Nelson Aguilar. Para tanto, Aguilar e Laurent Le Bon -um dos curadores do museu francês- selecionaram dezenas de obras do Museu de Arte Moderna do Pompidou, que estarão dispostas em cem salas, cada uma representando um ano do século.
"Em geral, exposições têm 10% de obras-primas, 50% de obras médias e 40% de outras obras, mas essa terá 100% de obras-primas", assegura Aguilar. Entre as preciosidades que estarão expostas na Oca, estão "Roda de Bicicleta", de Marcel Duchamp, que ficará na sala de 1913, e "Mesa", escultura cubista de Alberto Giacometti, de 1933.
Outra obra que irá provocar sensação é a cortina para o balé "Parade", feita por Picasso, em 1917. Com enormes dimensões, a cortina tem 160 m2. "Será uma exposição interativa, que não conterá apenas pequenas peças", diz Aguilar. Louise Bourgeois, artista francesa naturalizada nos EUA, também comparece com uma obra de grandes proporções.
Na próxima semana, chegam a São Paulo os arquitetos franceses Patrick Jouin, Stéphane Maupin e Julien Monfort. Assistentes do arquiteto holandês Rem Koollhaas, eles serão os responsáveis pela cenografia. Chega também Le Bon para finalizar a seleção das obras e fechar o contrato.
"Com essa exposição, o Brasil passa a integrar o mundo global das artes", diz Edemar Cid Ferreira, o presidente da associação. Segundo ele, é a primeira vez que o Pompidou organiza uma exposição com tantas obras de seu acervo fora da França. "Inauguramos uma forte relação cultural do Brasil com o exterior. Até o presidente francês, Jacques Chirac, virá para a abertura da mostra."
Entretanto esse panorama da arte será contaminado por um forte perfume francês. As obras selecionadas correspondem apenas a artistas que viveram ou passaram pela França. "Foi a forma que encontramos para dar um eixo curatorial à exposição", diz.
Com isso, artistas fundamentais na história da arte, como o norte-americano Andy Warhol e o alemão Joseph Beuys -e mesmo movimentos inteiros como a arte povera-, não estarão representados. "Há sempre equivalências em história da arte, e estamos levando isso em conta", diz Aguilar.
Outra forma de compensar ausências será o uso de obras do acervo das áreas de design, cinema e vídeo. "O Pompidou tem uma coleção fantástica. Vamos mostrar, por exemplo, um filme de Jean Genet, "Un Chant d'Amour", de 1949, o primeiro a retratar o amor homossexual", afirma.
Também será preparado um catálogo para a exposição, que reproduzirá, ano a ano, textos fundamentais para a cultura francesa, selecionados pelo mesmo editor da "Antologia da Poesia Francesa", publicado pela Gallimard.
"O que estou contando parece um sonho; ainda nem passei essas coisas para o papel", diz, satisfeito, Aguilar, ao final da entrevista.


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