São Paulo, quarta-feira, 06 de janeiro de 2010

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MÚSICA

Crítica/"Brillante"

Antonio Meneses interpreta clássicos de Bach no violoncelo

Músico faz execução "historicamente informada" do repertório do instrumento

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O melhor violoncelista brasileiro de todos os tempos agora resolveu abordar também a música antiga. No CD "Brillante", o pernambucano radicado na Suíça Antonio Meneses grava as sonatas para violoncelo de quatro compositores do século 18. Embora seu nome seja associado ao romantismo germânico de autores como Brahms e Richard Strauss, Meneses já dedicou discos a Carlo Graziani, bem como nada menos que duas gravações das suítes para violoncelo solo do mestre do barroco alemão, Johann Sebastian Bach (1685-1750).
Mas as suítes de Bach são uma espécie de "bíblia" do repertório do violoncelo, abordadas mesmo por quem não tem a mínima relação com a execução "historicamente informada" da música do século 18. E é dessa execução que Meneses se aproxima em "Brillante". No disco, ele opta por um arco barroco, feito por Marcus Vinicius Goulart, e mais adequado às exigências de flexibilidade e leveza do repertório do que o arco geralmente empregado nas orquestras modernas.
E, para a realização do acompanhamento (o baixo-contínuo), cerca-se de dois especialistas brasileiros na área: a cravista Rosana Lanzelotte e o também violoncelista Alberto Kanji, cujo tio, o flautista e regente Ricardo Kanji, que assina a produção musical do disco, foi um dos precursores e pioneiros da música antiga no Brasil.
O resultado são leituras com uso bastante parcimonioso do vibrato, ornamentação de bom gosto, cadências sóbrias e ênfase na articulação, dando vida a um repertório que corresponde à época de afirmação do violoncelo como instrumento solo. Surgido, possivelmente, no século 16, o violoncelo teve suas dimensões padronizadas por volta de 1707, pelo célebre luthier italiano Antonio Stradivari. Inicialmente, seu uso era como instrumento acompanhador, e é no período abordado no disco de Meneses (a segunda metade do século 18, entre o final do barroco e o início do classicismo) que ele começa a assumir funções de protagonista.
Com o mesmo programa que Meneses executou no Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão, no ano passado, o disco traz um compositor célebre, o austríaco Joseph Haydn (1732-1809), fundamental na consolidação do estilo clássico, e aquele que talvez tenha sido o maior violoncelista do século 18, o italiano Luigi Boccherini (1743-1805), prolífico autor de música de câmara.
Ao lado deles, aparecem dois autores virtualmente esquecidos pela posteridade: o francês Jean-Baptiste Bréval (1756-1825), de cuja "Sonata op. 12 n. 5" Meneses faz aqui a primeira gravação; e o italiano Carlo Graziani, falecido em 1787, do qual se ignora até a data de nascimento. Um território inexplorado, cheio de boas surpresas e achados -de um virtuosismo de deixar os cabelos em pé, o último movimento da""Sonata op. 3 n. 3" de Graziani, por exemplo, é daquelas faixas que sintetizam um CD inteiro.


BRILLANTE

Artista: Antonio Meneses (violoncelo)
Lançamento: Biscoito Clássico
Quanto: R$ 32,90
Avaliação: bom




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