FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O saxofonista alemão Peter Brötzmann é um dos mais ativos e radicais músicos da cena free jazzística. Difícil acreditar que esse senhor de barba grisalha está em atividade há quatro décadas, dado o vigor que seu trabalho ainda apresenta. Sua extensa discografia, que superou há algum tempo cem álbuns, acaba de ganhar novo capítulo, com o lançamento de "Black Hole/Live at Tampere".
Com o trio Full Blast, formado ao lado de Marino Pliakas (baixo elétrico) e Michael Wertmueller (bateria), Brötzmann apresenta a amplitude de sua palheta que, além dos saxofones tenor e alto, prestigia o clarinete e o tarogato -instrumento de sopro húngaro. O álbum, duplo, traz uma sessão de estúdio e outra ao vivo.
Quem assistiu às apresentações do trio Full Blast em São Paulo, em junho de 2008, sabe o que esperar: baixo carregado de efeitos e distorções; bateria com pegada mais rocker que jazzística; e o sopro vulcânico e desconcertante de Brötzmann.
Diferentemente do que costuma ocorrer na seara freejazzística, as longas improvisações cedem espaço a faixas enxutas, especialmente no disco de estúdio, que conta com 11 temas. A variedade de abordagens sonoras resulta em extremos que vão da (quase) balada "Suzy" às explosivas "Atlas" e "Higgs".
No segundo disco, captado ao vivo em 2005, no Tampere Jazz Happening, na Finlândia, os músicos oferecem um trabalho mais coeso e em sintonia com o que pôde ser visto em solo brasileiro. O show de 2005 foi uma das primeiras apresentações do Full Blast, que é, na realidade, apenas um dos vários projetos que o saxofonista mantém.
Brötzmann surgiu para o mundo do jazz nos anos 60, com o seminal "Machine Gun". Nesse álbum, datado de 1968, Brötzmann reuniu um octeto de músicos europeus para criar uma obra de sonoridade ímpar, um jazz agressivo, dissonante e já distante das raízes do blues.