São Paulo, quarta, 6 de janeiro de 1999

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Livro desvenda a pop music


"Key Concepts in Popular Music" reúne de maneira didática mais de 300 verbetes sobre o assunto


ERIKA SALLUM
da Reportagem Local

Com uma capa tosca, nenhuma foto ou ilustração e escrito por um professor neozelandês (!), um livro recém-lançado nos EUA e Reino Unido conseguiu uma façanha no mínimo complicada: traduzir, em linguagem didática, a música pop.
"Key Concepts in Popular Music" (Conceitos-Chave na Música Popular), publicado pela editora Routledge, reúne mais de 300 verbetes sobre o assunto, que englobam desde "britpop", "grunge" e "tecno" a "sexualidade", "adolescentes" e "imperialismo cultural".
O livro vai mais longe e, no final de cada tópico, há sugestões do que ouvir e ler, além de uma extensa bibliografia com sites e revistas.
O autor da proeza chama-se Roy Shuker, 50, e é professor de Estudos de Mídia da neozelandesa Universidade de Massey. Leia a seguir trechos da entrevista via e-mail que esse ex-estudante de piano e fã do R.E.M. deu à Folha.

Folha - Qual é exatamente o público-alvo do seu livro?
Roy Shuker -
Primeiramente, o livro foi dirigido a graduandos de música pop, comunicação e cultura. Foi planejado para ser um guia, para iniciantes, de análise crítica da música pop. Mas tenho esperança de que também seja útil a fãs de música em geral, especialmente para sugerir novos gêneros (e artistas) a serem explorados.
Folha - Foi difícil levantar tantos dados para o livro?
Shuker -
Na verdade, me custou mais trabalho do que tinha imaginado, principalmente em relação aos verbetes sobre os quais sabia pouco. Também tive o problema inverso: muita informação em tópicos que poderia facilmente resumir. Como ensino música pop, tenho um bom material escrito, além da minha coleção de discos. Mas tive de procurar artigos, livros, discos... Foi um longo processo.
Folha - Qual é a diferença entre "Key Concepts in Popular Music" e um dicionário ou enciclopédia do gênero?
Shuker -
Basicamente o fato de eu não incluir músicos específicos, gravadoras, produtores etc., como fazem a maioria dessas publicações. Meu foco principal está nos conceitos.
Folha - Você é um acadêmico, mas seu livro, não. Houve preocupação em fugir do academicismo?
Shuker -
Não tenho tanta certeza de que não é um livro acadêmico! Meu objetivo é traduzir a pesquisa acadêmica para uma forma acessível de escrita. Acredito que acadêmicos têm obrigação de "falar" com um público mais vasto do que um pequeno grupo de semelhantes. Então, escrevi para um inteligente e interessado leitor genérico.
Folha - Na introdução, você escreveu que excluiria definições e gêneros musicais que fossem considerados obsoletos. Como classificar um termo de obsoleto?
Shuker -
O que eu considerei obsoleto foram termos como "english music hall", que há muito tempo já não é popular e está amplamente excluído das gravações musicais contemporâneas. "Obsolescência" é algo que possui uma sobrecarga de significações. Mas, desde que estou escrevendo o livro, tomei consciência de que estilos "obsoletos" na verdade continuam a exercer grande influência.
Folha - Sendo assim, você não acha que muitos dos conceitos e definições do seu livro se tornarão obsoletos daqui a um tempo?
Shuker -
Sim! Por extensão, "modas" acadêmicas mudam, então o status de alguns tópicos que escrevi também mudará. Novos gêneros musicais crescerão, enquanto outros ficarão à margem. Em relação a meu livro, talvez eu me ofereça para fazer uma edição revisada! Uma das coisas que tornam a música pop tão fascinante é que ela sofre mutações constantemente.
Folha - Por que não há um verbete dedicado às drogas. No livro, há até um tópico para "sexualidade"...
Shuker -
Sim, aquela coisa de sexo, drogas e rock and roll... Acho que deveria ter colocado um verbete específico para drogas. Elas são mencionadas em alguns verbetes relativos a gêneros, cenas e público. Percebi inclusive que não coloquei o termo no índice remissivo. Deixa para a próxima vez.
Folha - No final dos verbetes, há sugestões do que ouvir e ler. Quais foram seus critérios para isso?
Shuker -
Uma mistura de disponibilidade e importância. O segundo, obviamente, envolve julgamentos de valor e uma bela dose de subjetividade no caso dos discos -que, aliás, não são apenas da minha coleção. Também fiz um bom uso de guias e resenhas.
Folha - Como é a atual cena musical da Nova Zelândia?
Shuker -
É dominada por discos importados e filiais das grandes gravadoras. Há alguns distintos sons locais, apesar de a maioria dos artistas trabalharem com estilos internacionais. Para chegar a algum lugar, eles têm de sair da Nova Zelândia. O mercado aqui é pequeno para se fazer sucesso (a população é de 3,6 milhões). A última banda daqui que ficou conhecida foi a Crowded House, cujo líder, Neil Finn, segue carreira solo.
Folha - O que você ouve?
Shuker -
Como a maioria das pessoas, depende do meu humor. Agora estou ouvindo os britânicos do Shamen. Levando em conta minha condição de "baby boomer" (pessoas nascidas entre o fim da Segunda Guerra e 1960), escuto artistas dos anos 60 (Hendrix, Byrds) e outros que ainda fazem "boa música", como Neil Young. Sou fã de blues. Das bandas mais atuais, gosto de R.E.M., Smashing Pumpkins, Cowboy Junkies... Boa parte peço emprestado aos meus alunos! Também tenho uma queda por heavy metal, um gênero mais interessante do que pensam.



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