|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Desfiles pela TV irritam antifoliões
DA REPORTAGEM LOCAL
"O luxo do Carnaval é muito
bacana, a melhor coisa. O problema é a transmissão. É muito chata, cansativa, interminável", afirma o estudante de moda Douglas
Garcia Oler, 22. Oler integra o
grupo de pessoas que detestam
passar o Carnaval assistindo aos
desfiles de escolas de samba em
frente à televisão.
O estudante faz parte da ala
mais radical desse grupo: os que,
além de não gostarem das transmissões, não gostam da festa em
si. Para este ano, programou uma
viagem com a família para uma
serra "bem longe das farras", para
fazer trilhas.
Mas, apesar da ojeriza, Oler
conta que já passou os quatro dias
da festa em frente a uma TV. A
saída? "Aluguei um monte de vídeos. Mas, mesmo assim, não teve
jeito. Fatalmente eles acabaram, e
eu liguei a TV", conta. Sobre a experiência, que espera jamais repetir, Oler afirma que não foi contagiado pela magia da festa. "Os
desfiles, apesar de terem arte e
cultura, não conseguiram me envolver, ou porque eu não estava
no clima ou porque a TV não
transmite o que é o Carnaval de
verdade", diz. "Acho que, às vezes, os carnavalescos até têm boas
idéias, mas não conseguem colocar em prática. Fica tudo muito
sem graça. Um festival de exposição e nudez."
A relações públicas Gabrielle
Calado Souza Bennet, 27, também faz parte desse grupo. Faz
tanto tempo que não assiste ao
Carnaval na televisão, que nem se
lembra da última vez que viu os
desfiles das escolas de samba do
sofá.
Bennet não costuma pular o
Carnaval. Geralmente, viaja para
uma fazenda, "sempre para descansar". Neste ano, no entanto,
ela corre o risco de se render às
transmissões dos desfiles. "Vou
usar a TV a cabo para fugir, mas
há o risco de o meu namorado
querer ver algum desfile", conta.
Membro do grupo menos xiita
dos que não vêem TV no período
carnavalesco, a engenheira Ignez
Alencar, 26, até gosta das festas.
Há mais de dez anos, ela viaja para praias do Nordeste para aproveitar o Carnaval de rua. Mas nem
sempre foi assim. "Acho que fiquei traumatizada. Quando tinha
12 anos, assisti aos desfiles procurando a Xuxa. Passei horas em
frente à televisão, não a encontrei
e dormi frustrada", conta.
Para ela, que se considera "uma
foliã de verdade", a transmissão
do Carnaval de Salvador é a mais
chata de todas. "Eu fico com vontade de ir para lá. Não faz sentido
ver aquilo de longe." Apesar de
frisar o quanto detesta as transmissões e de nunca ter ido a um
sambódromo, Alencar diz que
tem escola "do peito" -a Mangueira, no Rio- e que gosta de
acompanhar a apuração do resultado na Quarta-Feira de Cinzas.
Direto de Salvador, a publicitária Roberta Gomes, 25, diz que só
deve assistir aos desfiles se o namorado ligar a TV. "No Carnaval
eu esqueço que ela existe e só assisto se não tiver nada melhor para fazer." E, segundo ela, até "lavar roupa é melhor" que assistir
ao Carnaval pela televisão.
(IML)
Texto Anterior: Transmissão hipnotiza carnavalescos da poltrona Próximo Texto: Senhora do DESTINO Índice
|