São Paulo, domingo, 06 de fevereiro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Desfiles pela TV irritam antifoliões

DA REPORTAGEM LOCAL

"O luxo do Carnaval é muito bacana, a melhor coisa. O problema é a transmissão. É muito chata, cansativa, interminável", afirma o estudante de moda Douglas Garcia Oler, 22. Oler integra o grupo de pessoas que detestam passar o Carnaval assistindo aos desfiles de escolas de samba em frente à televisão.
O estudante faz parte da ala mais radical desse grupo: os que, além de não gostarem das transmissões, não gostam da festa em si. Para este ano, programou uma viagem com a família para uma serra "bem longe das farras", para fazer trilhas.
Mas, apesar da ojeriza, Oler conta que já passou os quatro dias da festa em frente a uma TV. A saída? "Aluguei um monte de vídeos. Mas, mesmo assim, não teve jeito. Fatalmente eles acabaram, e eu liguei a TV", conta. Sobre a experiência, que espera jamais repetir, Oler afirma que não foi contagiado pela magia da festa. "Os desfiles, apesar de terem arte e cultura, não conseguiram me envolver, ou porque eu não estava no clima ou porque a TV não transmite o que é o Carnaval de verdade", diz. "Acho que, às vezes, os carnavalescos até têm boas idéias, mas não conseguem colocar em prática. Fica tudo muito sem graça. Um festival de exposição e nudez."
A relações públicas Gabrielle Calado Souza Bennet, 27, também faz parte desse grupo. Faz tanto tempo que não assiste ao Carnaval na televisão, que nem se lembra da última vez que viu os desfiles das escolas de samba do sofá.
Bennet não costuma pular o Carnaval. Geralmente, viaja para uma fazenda, "sempre para descansar". Neste ano, no entanto, ela corre o risco de se render às transmissões dos desfiles. "Vou usar a TV a cabo para fugir, mas há o risco de o meu namorado querer ver algum desfile", conta.
Membro do grupo menos xiita dos que não vêem TV no período carnavalesco, a engenheira Ignez Alencar, 26, até gosta das festas. Há mais de dez anos, ela viaja para praias do Nordeste para aproveitar o Carnaval de rua. Mas nem sempre foi assim. "Acho que fiquei traumatizada. Quando tinha 12 anos, assisti aos desfiles procurando a Xuxa. Passei horas em frente à televisão, não a encontrei e dormi frustrada", conta.
Para ela, que se considera "uma foliã de verdade", a transmissão do Carnaval de Salvador é a mais chata de todas. "Eu fico com vontade de ir para lá. Não faz sentido ver aquilo de longe." Apesar de frisar o quanto detesta as transmissões e de nunca ter ido a um sambódromo, Alencar diz que tem escola "do peito" -a Mangueira, no Rio- e que gosta de acompanhar a apuração do resultado na Quarta-Feira de Cinzas.
Direto de Salvador, a publicitária Roberta Gomes, 25, diz que só deve assistir aos desfiles se o namorado ligar a TV. "No Carnaval eu esqueço que ela existe e só assisto se não tiver nada melhor para fazer." E, segundo ela, até "lavar roupa é melhor" que assistir ao Carnaval pela televisão. (IML)


Texto Anterior: Transmissão hipnotiza carnavalescos da poltrona
Próximo Texto: Senhora do DESTINO
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.