São Paulo, domingo, 06 de fevereiro de 2005

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Senhora do DESTINO

Gianne Carvalho/TV Globo
Renata Sorrah, que vive a vilã Nazaré em "Senhora do Destino"


Renata Sorrah fala de Nazaré, a vilã que roubou a cena na novela das oito da Globo

DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA

A atriz Renata Sorrah, 57, só soube depois de começar a gravar "Senhora do Destino" que seu nome não era o primeiro da lista para interpretar a vilã Nazaré.
Sorrah aparenta não ligar para isso, até porque Nazaré "roubou" a novela, que, assim, poderia se chamar "Senhora do Desatino".
A atriz diz ter muito prazer com a personagem, mas ainda não consegue avaliar se é maior do que a alcoólatra Heleninha Roitman, que interpretou em "Vale Tudo" (1988). A seguir, trechos de entrevista concedida por Sorrah.
 

Folha - Nazaré é a sua maior personagem na TV ou Heleninha Roitman continua imbatível?
Renata Sorrah
- Era a Heleninha. Falta distanciamento para saber [se Nazaré é a maior]. É incrível como até hoje todo mundo fala da Heleninha. Tenho uma certa noção da repercussão da Nazaré, mas acho que daqui a pouco é que eu vou ver. Só sei que são duas personagens adoráveis.

Folha - Como o público reage?
Sorrah
- A Nazaré é a realmente a primeira vilã, vilã mesmo, que eu faço. São vários tipos de reação. Tem as pessoas que percebem o humor que há na personagem. Ela é engraçada porque as coisas dão errado pra ela.

Folha - Ela não é louca, certo?
Sorrah
- Eu também acho que ela não é louca. É uma mulher surtada, carente, descontrolada. Não é muito normal, tem um descontrole. Eu faço ela absolutamente normal, com humor, assim, do meu jeito. Mas as ações dela são estranhas.

Folha - A criação da personagem Nazaré foi toda sua?
Sorrah
- Não, ela já veio muito saborosa no texto do Aguinaldo [Silva]. Nos primeiro capítulos, fui fazendo com o Wolf [Maia, diretor-geral da novela], que me ajudou muito.
Não me baseei em ninguém. A gente pensava assim: "Meu Deus, será que é uma loira gelada? Será que é uma loira gelada do [Alfred] Hitchcock? Será uma mulher mais Nelson Rodrigues?". E a gente foi chegando a uma coisa que é a Nazaré. Que se acha glamourosérrima, o máximo. Adoro quando ela olha para o espelho e fala: "Gostosa, irresistível".

Folha - Por que a Nazaré é tão despudorada?
Sorrah
- Ela era uma prostituta, mas acho que ela tem isso no sangue, ela gosta. Outro dia eu estava passando numa praça e as pessoas disseram: "Gosta do babado, hein, Nazaré?". Fui chamada de pegadeira e fiquei nervosa.

Folha - Já te ofenderam?
Sorrah
- Ah! Não, não, pelo contrário. Elogiam muito.

Folha - Ela vai matar mais gente?
Sorrah
- Não sei, porque as coisas não dão muito certo para ela. Ela vai com as tesouras em cima e não consegue.

Folha - Você acha que a Nazaré tem que morrer no final?
Sorrah
- Acho que ela vai acabar morrendo, mas não para pagar pelos crimes. Porque acho que ela vai ter uma morte espetacular, porque viveu em grande estilo, dramática, hollywoodiana.
No começo eu falava que ela tinha que acabar no Caribe, com chapelão, olhando uma outra criança, para armar de novo.
Mas, agora, acho que não, porque realmente ela matou, seqüestrou. Seqüestro é horrível, um crime hediondo. Então, eu acho que ela tem que pagar, sim.

Folha - O que existe da Nazaré no Brasil, nos brasileiros?
Sorrah
- Nazaré é totalmente ficção. Não penso naquela Vilma, que seqüestrou o Pedrinho, não penso um minuto naquele encosto, que não vai me tirar o prazer de fazer o personagem.
Mas com os brasileiros? Eu não sei. Acho ela um tipo tão popular. Ela gosta de se relacionar com homens bem brasileiros, o taxista, o bicheiro. Acho o povo brasileiro bárbaro. É um povo sofredor, sim, mas é um povo tão talentoso, tão emocionante, que eu não gostaria de compará-lo à Nazaré.

Folha - Qual instituição mereceria umas tesouradas ou um empurrão na escada da Nazaré?
Sorrah
- Várias. A segurança pública do Rio, onde a gente vive numa guerrilha urbana, é uma.

Folha - O que você acha da televisão brasileira, tem muita baixaria?
Sorrah
- Eu não assisto.

Folha - Não assiste?
Sorrah
- Não. Coisas de baixaria eu realmente não assisto. Mas tem coisas ótimas. Achei linda a minissérie "Hoje É Dia de Maria". A nossa novela eu acho muito bacana, muito bem feita.

Folha - O que você não gosta?
Sorrah
- Tem uns programas da tarde que eu nunca vi, que dizem que são horríveis. Da Globo, que tem a melhor programação, eu não gosto do "Big Brother".

Folha - Por quê?
Sorrah
- Não gosto. Não me interessa aquilo.

Folha - Às vezes você se sente "carregada" por causa da Nazaré?
Sorrah
- Não. Quanto melhor eu faço, mais contente eu fico. Então, não, eu não fico carregada, mas o que me pegou desprevenida, que me deu uma tristeza, foi a separação dela da Isabel.

Folha - Vocês choraram?
Sorrah
- A gente ficou muito emocionada e eu senti em casa um vazio. Eu falei: "Não estou acreditando que isso está acontecendo". Há muito tempo eu não me envolvia com uma novela como essa.

Folha - Você gostaria de fazer mais novelas do que tem feito?
Sorrah
- Não, está bom, porque faço teatro, cinema.

Folha - Quantas novelas você já fez?
Sorrah
- Umas 23.

Folha - Você acha que a Heleninha Roitman ajudou a mulher brasileira a ficar mais liberada?
Sorrah
- A mulher eu não sei, mas ela ajudou os alcoólatras. Recebia muitas cartas de pessoas tentando se recuperar.

Folha - Heleninha marcou muito, virou até adjetivo, não?
Sorrah
- Foi. É incrível, até hoje fazem festas da Heleninha, só para beber. Tem comunidade dela no Orkut. Acho que ela tinha glamour para beber, era engraçado o jeito como falava.

Folha - É melhor fazer novela hoje do que dez, 20, 30 anos atrás?
Sorrah
- Não mudou muito. Hoje a produção é mais profissional. Antes, tudo era menor, caseiro. Agora, é uma grande indústria.

Folha - A TV melhorou ou piorou desde então?
Sorrah
- Eu acho que melhorou, porque somou com essas coisas todas da modernidade.

Folha - É verdade que você não iria fazer a Nazaré inicialmente?
Sorrah
- É, eu soube depois. Tinha-se pensado em outras atrizes, mas, quando me chamaram, eu falei: "Oba!".


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