VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Há 20 anos a companhia canadense Cirque du Soleil expõe seus virtuoses a platéias internacionais. Cada espetáculo contrata dezenas de artistas, alguns de outros países, que têm o domínio técnico e o equilíbrio emocional testados a todo instante.
Originalmente uma série para a TV (o canal a cabo americano Bravo conquistou o Emmy 2003 na categoria programa alternativo de não-ficção), agora reunida em caixa com três CDs, "Cirque du Soleil - Fire Within" (fogo sagrado) detalha os passos para um novo espetáculo, "Varekai" (em romano, "onde quer que").
Estreou em 2002. A sucessão de números sob um tenda amarela e azul gigante evoca o espírito nômade da cultura cigana. Não há um história propriamente dita. Acompanha-se desde os primeiros ensaios, oito meses antes da estréia, o que não quer dizer nomes definitivos. Ao contrário, o treinamento é competitivo, é preciso garantir um número no show, além da vaga no coro. A narração acentua o drama.
O diretor e roteirista da série, Lewis Cohen, escolhe oito artistas potencialmente protagonistas (malabarista, contorcionista, trapezista, dançarino etc.) e cola em seus calcanhares. "Divirtam-se, por favor, eu imploro", diz o diretor do espetáculo, Dominique Champagne, ao final de um ensaio fraco, extenuante.
A série privilegia o processo de criação: a angústia diante da iminência da substituição mas também o êxtase na hora em que se acerta uma performance.
O espírito competitivo, que tem lá sua lógica na história do Cirque du Soleil (Guy Laliberté, um dos seus fundadores, é outra voz tonitruante nos ensaios gerais), perde o foco quando a série verticaliza o plano pessoal. Namorados entram em cena, a "intimidade" dos artistas dilui a tensão criadora.
Mas, em quase 300 minutos, o viés "reality show" não ofusca a emoção dos bastidores efetivamente artísticos da empreitada. Os números, mesmo sem figurinos e holofotes, impressionam por natureza. Clipes de passagem dialogam com belas imagens.
E, para assistir a um espetáculo pronto do Soleil (som, iluminação, música, cenografia e intérpretes em ostensiva simbiose), ganha lançamento simultâneo "La Nouba" (da expressão francesa "faire la nouba", festa, viver em êxtase), gravado no Walt Disney World Resort, em Orlando, sob a direção de David Mallet.
Começa com uma senhora faxineira, vassoura em punho. Gordinha, ela será acompanhada por seres fantásticos. Bobos, palhaços, contorcionistas e outros revezam suas apresentações durante a trajetória da personagem rumo a um desfecho feliz, como quer o reino da fantasia defendido de corpo inteiro pelos artistas que dão alma ao Cirque du Soleil.

Cirque du Soleil - Fire Within
   
Lançamento: Columbia; R$ 65

Cirque du Soleil - La Nouba
   
Lançamento: Columbia; R$ 45