|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Fotografia/réplica
Única "crise" do fotojornalismo ocorre nas relações de trabalho
RUBENS CHIRI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Um ônibus queimado e
um policial estático -a
imagem nos remete à
inércia do poder público frente
à violência. O cassetete enverga
no braço de manifestante durante assembléia de professores -tal qual a educação é massacrada. A silhueta de jovens
boleiros nos confins da Paraíba
-sonhos de anônimos por uma
vida melhor no país do futebol.
Em contrapartida, Ronaldinho
rola com uma fã -constelação
se perde no ufanismo. São leituras, divagações, crônicas visuais, retratando fatos e histórias -fotojornalismo.
Essas são algumas das cem
imagens que contam um pouco
da realidade do Brasil e do
mundo hoje e que compõem a
exposição "Fotojornalismo
2006 - Fatos e Histórias do Cotidiano", produzida por 83 repórteres fotográficos e organizada pela Arfoc-SP (Associação
de Repórteres Fotográficos e
Cinematográficos do Estado de
São Paulo). O material será incorporado ao acervo da Associação dentro de um projeto de
documentação iniciado há alguns anos.
Em crítica publicada no último dia 27 na Folha, intitulada
"Exposição reflete a crise que o
fotojornalismo enfrenta hoje",
o autor, Eder Chiodetto, com
base no trabalho apresentado
na exposição, afirma que cada
vez mais o fotojornalismo
aproxima-se da fotografia publicitária e perde a sua função.
As fotografias expostas por si
só desdizem tal afirmação.
Há, sim, uma crise, mas no
jornalismo como um todo. Especificamente no fotojornalismo, a crise não reside na produção, mas, sobretudo, na precarização das relações de trabalho. Na substancial redução
dos postos de trabalho. Na desenfreada produção industrial
das mídias impressas, com rígidos horários de fechamento,
amarras editoriais e projetos
gráficos que não tratam a fotografia como informação, e sim
como mera ilustração.
Se hoje suspiramos por uma
foto de Robert Capa -um ícone do seu tempo-, não devemos desacreditar em futuras
referências, que terão seu valor
reconhecido ao seu tempo. Afinal, cada repórter fotográfico
coloca em sua foto seu olhar,
sua cultura, suas emoções, sua
conduta ética. E esse conjunto
tão peculiar deve ser respeitado e valorizado.
RUBENS CHIRI é repórter fotográfico e presidente da Arfoc-SP.
FOTOJORNALISMO 2006 - FATOS E HISTÓRIAS DO COTIDIANO
Quando: ter. a sex., das 10h às 20h; sáb. e
dom., das 10h às 18h. Até 4/3
Onde: CCSP - piso Flávio de Carvalho
(r. Vergueiro, 1.000, tel. 0/ xx/11/ 3383-3402)
Quanto: entrada franca
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: MAM exibe fotos de museu espanhol Índice
|