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Varejão mostra novas obras em Tóquio
Individual da artista carioca reúne 24 trabalhos, entre eles pinturas inéditas tematizando piscinas
RAQUEL WAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE TÓQUIO
Ao ver pela primeira vez um
quadro da série "Saunas", da
carioca Adriana Varejão, a curadora Yoko Uchida, do Museu
de Arte Contemporânea Hara,
de Tóquio, não se deu conta de
que estava diante do trabalho
de uma artista que já conhecia.
O quadro em questão -um
cômodo azulejado, vazio e silencioso- aparentemente em
nada lembrava as telas com pedaços de carne e vísceras brotando de azulejos portugueses.
"Já tinha visto obras dela antes,
mas não percebi que a autora
daquela pintura serena era a
mesma das peças grotescas e
políticas que eu conhecia", explica Uchida.
Dois anos depois, a serenidade de "Saunas" e os trabalhos
feitos por Adriana na década de
90 e no final de 2006 estão na
primeira exposição individual
da artista no Japão, aberta no
último dia 27, no Hara.
São 24 obras, entre pinturas,
desenhos, fotografias e uma
instalação, que mostram a passagem da fase histórica -na
qual usava a estética barroca
para abordar a colonização e a
formação da identidade brasileira- para a fase atual, em que
dialoga com a arquitetura, explora a geometria e introduz o
elemento água na pintura.
As seis telas mais recentes
ainda não tinham sido expostas. "Praticamente todas as piscinas foram feitas para a exposição. Essa série é tão nova que
a tinta está quase fresca", diz
Varejão, que deu as últimas
pinceladas em novembro.
Nelas, a artista cria ambientes tridimensionais com banheiras e piscinas e, do mesmo
modo que em "Saunas", batiza
os quadros atribuindo a eles
uma personalidade: "O Húngaro", "A Princesa", "O Perverso",
"O Virtuoso", "O Sonhador", "O
Voyeur".
A intenção, conta Adriana,
era criar um ambiente psicológico. "É como se existisse um
personagem dono daquele ambiente", diz ela. "Acho que esses
ambientes também têm um
certo erotismo, estava lendo
muito Sade, Bataille."
Além das telas expostas dentro do museu, no jardim foi
"plantado" um muro de azulejos, o mesmo feito em tamanho
maior para o Museu de Arte
Moderna de São Paulo (MAM)
e reproduzido no MAM de Recife e na Bienal de Liverpool, no
ano passado. No muro, Adriana
faz uma taxonomia de 50 tipos
de plantas alucinógenas.
O muro vai entrar também
para a coleção permanente do
museu, que recentemente adquiriu uma obra de Varejão, a
tela "Swimming Pool" (2005).
Segundo a curadora Yoko Uchida, o quadro era cobiçado pela
Fundação Cartier, de Paris.
Várias fases
Quem visita a exposição sem
conhecer a trajetória da artista
pode ter dificuldade em perceber como se deu a transição entre a fase "política", mais visceral, para a fase geométrica e arquitetônica. Isso porque faltaram as pinturas em três dimensões que não se apoiavam em
suporte algum e mostravam
pedaços de parede azulejada.
No interior deles, havia carne
-como em "Ruína de Charque"
e em "Linda da Lapa".
Foi o trabalho de fotografar
azulejaria que levou Varejão a
ambientes como botequins do
Rio e banheiros. DE início, apenas os azulejos a interessavam,
mas depois se viu fotografando
também os ambientes. "Foi
uma mudança natural. O trabalho virou uma pintura totalmente no espaço e começou a
copular com a arquitetura."
A direção da pintura também
mudou. Se antes as peças de
carne faziam a obra transbordar e invadir o espaço, agora o
espaço tridimensional toma
forma dentro da pintura e "captura" o espectador.
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