São Paulo, terça-feira, 06 de fevereiro de 2007

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Crítica/DVD Série

"Oz" recorre à tragédia grega para repensar a América

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Décadas depois de a pequena Dorothy ter ido parar no mundo encantado de Oz, o imaginário infantil do musical estrelado por Judy Garland em 1939 cede lugar às cores sombrias de outro espetáculo: a de homens transformados em bestas-feras e enjaulados na penitenciária de segurança máxima Oswald, cenário de "Oz".
A série, produzida pela HBO de 1997 a 2003, acaba de ter os oito episódios de sua primeira temporada lançados em DVD no Brasil.
É um modo de fazer justiça a uma das mais inquietantes produções feita pela TV americana e aqui programada de modo errático pelo SBT em dias mutantes e horários tardios. Criada por Tom Fontana, autor de peças de teatro e professor de literatura antes de migrar para o universo da teledramaturgia, "Oz" é um dos pontos altos da renovação estilística e temática por que passam as séries, resultado de um processo de mutação que teve início nos anos 80 e se consolidou na década seguinte.
Como outros importantes títulos desse formato, "Oz" é um espelho social, no qual seus criadores representam o modo como interpretam a América contemporânea e seus dilemas individuais e põem à prova, pela ficção, os efeitos nefastos de sua política.
A prisão aqui é um microcosmo onde se refletem as divisões e onde as relações de poder se encaminham sempre da maneira mais brutal possível.

Violência
"Oz" não é para espectadores sensíveis, pois nela predomina um grau de violência que pode incomodar quem busca a suavidade do entretenimento.
Mas sua ousadia não se esgota na representação de choque que o tema propõe.
Entre outras sofisticações na dramaturgia, Tom Fontana reutiliza, da estrutura clássica da tragédia grega, a figura do corifeu, no personagem de Augustus Hill, que conduz o espectador ao universo do cárcere, apresenta seus personagens, comenta as situações e pontua seu relato com dados sociais sobre o sistema de prisões norte-americano.
Outra referência da tragédia grega encontra-se na reflexão política sobre a atualidade, retratada nos diversos grupos de internos.
Gangstas negros, adeptos das milícias que defendem a superioridade branca, mafiosos italianos, muçulmanos liderados por uma versão de Malcolm X, bandidos irlandeses, latinos pés-de-chinelo e motoqueiros tatuados são representantes de tribos semelhantes às presentes em grandes metrópoles norte-americanas.
Todos estão confinados em Emerald City, uma versão da sociedade de controle onde as grades foram substituídos por vidros.
Carregado de boas intenções, o psicossociólogo Tim McManus (Terry Kinney) acredita que a transparência dos espaços dê aos presos um simulacro de circulação daqueles que vivem em liberdade.
Mas a série explora esse significado no sentido da alegoria: cada personagem encarna uma idéia precisa da condição humana e ocupa um lugar definido, está submetido a algum tipo de sujeição ou a impõe a outros, tal como qualquer um de nós.


OZ - 1ª TEMPORADA     
Criador: Tom Fontana
Distribuidora: Paramount
Quanto: R$ 49,90, em média


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