São Paulo, sexta-feira, 06 de fevereiro de 2009

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Igreja é centro de "Dúvida", diz Hoffman

Para ator que faz o padre Flynn, a acusação de pedofilia é só um meio para retratar as mudanças do catolicismo nos anos 60

"Lembro-me de quando a missa passou a ser em inglês, reprovamos muito aquilo. Todo o mistério se foi", conta Meryl Streep

DA ENVIADA A LOS ANGELES

De barba malfeita, sobrancelhas ruivas desgrenhadas, jaqueta rasgada, boné laranja e unhas imundas -contrariando uma das obsessões de seu personagem, manter o asseio dos alunos-, Philip Seymour Hoffman, 41, fica irritado ao ser questionado sobre as suspeitas de pedofilia em "Dúvida".
Em uma mesa-redonda de jornalistas em um hotel de Los Angeles, o ator diz que a questão do filme não é a culpa ou a inocência do padre que interpreta, mas a reforma que "mudou drasticamente" a Igreja Católica nos anos 60. "A igreja parou de fazer missas em latim, o padre passou a se dirigir ao público para falar [antes, ficava de costas]. O filme é sobretudo sobre isso. Há um padre, [que representa] a igreja progressista, e uma freira que não quer que a igreja mude. E isso é discutido por meio de uma acusação."
Não que Hoffman, nascido em 1967, lembrasse essas mudanças. O ator, que fez comunhão, mas nunca se confessou, procurou um padre para aprender a história da igreja e também a "se vestir e se comportar" como um religioso.

Tradições
Já Meryl Streep, de 1949, diz que, justamente por não ter sido criada "em uma casa católica", interessou-se sozinha por religião. "Lembro-me de quando a missa passou de latim para o inglês, todos nós reprovamos muito aquilo. Porque todo o mistério se foi, podíamos entender tudo o que todos estavam falando." Ao defender as tradições na pele de sua personagem, a rígida irmã Aloysius Beauvier, Streep foi indicada pela 15ª vez ao Oscar. É o maior número de nomeações que qualquer atriz ou ator já recebeu. Mesmo assim, o último dos dois troféus que levou para casa foi há 26 anos, por "A Escolha de Sofia".
Antes de saber que seria indicada por "Dúvida", a atriz afirmou que "não consegue sentir a emoção" do Oscar. "Parece que está acontecendo com outras pessoas, você não se sente empolgada ou nervosa. Agora, a maior preocupação é o que vestir...", diz ela, impecável, com uma blusa verde solta sobre a calça jeans, rabo de cavalo, óculos e pouca maquiagem. Sua última indicação havia sido por "O Diabo Veste Prada" (em 2007) -sua personagem, Miranda Priestly, guarda estranhas semelhanças com a irmã Aloysius, que tampouco é afeita a demonstrar emoções.
"Acho que é porque são mulheres líderes. Somos muito contraditórios em relação a elas. Queremos demonizá-las -há uma razão para o título ser "Diabo Veste Prada". Mas sinto que o mundo será assim, e estou num processo de fazer papéis de chefes em seus pequenos círculos." (CRISTINA FIBE)

A jornalista CRISTINA FIBE viajou a convite da Miramax.


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