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Igreja é centro de "Dúvida", diz Hoffman
Para ator que faz o padre Flynn, a acusação de pedofilia é só um meio para retratar as mudanças do catolicismo nos anos 60
"Lembro-me de quando a missa passou a ser em inglês, reprovamos muito aquilo. Todo o mistério se foi", conta Meryl Streep
DA ENVIADA A LOS ANGELES
De barba malfeita, sobrancelhas ruivas desgrenhadas, jaqueta rasgada, boné laranja e
unhas imundas -contrariando
uma das obsessões de seu personagem, manter o asseio dos
alunos-, Philip Seymour Hoffman, 41, fica irritado ao ser
questionado sobre as suspeitas
de pedofilia em "Dúvida".
Em uma mesa-redonda de
jornalistas em um hotel de Los
Angeles, o ator diz que a questão do filme não é a culpa ou a
inocência do padre que interpreta, mas a reforma que "mudou drasticamente" a Igreja
Católica nos anos 60.
"A igreja parou de fazer missas em latim, o padre passou a
se dirigir ao público para falar
[antes, ficava de costas]. O filme é sobretudo sobre isso. Há
um padre, [que representa] a
igreja progressista, e uma freira
que não quer que a igreja mude.
E isso é discutido por meio de
uma acusação."
Não que Hoffman, nascido
em 1967, lembrasse essas mudanças. O ator, que fez comunhão, mas nunca se confessou,
procurou um padre para aprender a história da igreja e também a "se vestir e se comportar" como um religioso.
Tradições
Já Meryl Streep, de 1949, diz
que, justamente por não ter sido criada "em uma casa católica", interessou-se sozinha por
religião. "Lembro-me de quando a missa passou de latim para
o inglês, todos nós reprovamos
muito aquilo. Porque todo o
mistério se foi, podíamos entender tudo o que todos estavam falando."
Ao defender as tradições na
pele de sua personagem, a rígida irmã Aloysius Beauvier,
Streep foi indicada pela 15ª vez
ao Oscar. É o maior número de
nomeações que qualquer atriz
ou ator já recebeu. Mesmo assim, o último dos dois troféus
que levou para casa foi há 26
anos, por "A Escolha de Sofia".
Antes de saber que seria indicada por "Dúvida", a atriz afirmou que "não consegue sentir a
emoção" do Oscar. "Parece que
está acontecendo com outras
pessoas, você não se sente empolgada ou nervosa. Agora, a
maior preocupação é o que vestir...", diz ela, impecável, com
uma blusa verde solta sobre a
calça jeans, rabo de cavalo, óculos e pouca maquiagem.
Sua última indicação havia
sido por "O Diabo Veste Prada"
(em 2007) -sua personagem,
Miranda Priestly, guarda estranhas semelhanças com a irmã
Aloysius, que tampouco é afeita
a demonstrar emoções.
"Acho que é porque são mulheres líderes. Somos muito
contraditórios em relação a
elas. Queremos demonizá-las
-há uma razão para o título ser
"Diabo Veste Prada". Mas sinto
que o mundo será assim, e estou num processo de fazer papéis de chefes em seus pequenos círculos."
(CRISTINA FIBE)
A jornalista CRISTINA FIBE viajou a convite da
Miramax.
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