São Paulo, quinta, 6 de fevereiro de 1997.

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CINEMA
Atriz de "Um Corpo Que Cai" e "Férias de Amor" recebe prêmio pelo conjunto de sua carreira no mês em que completa 64 anos
Kim Novak será homenageada em Berlim

AMIR LABAKI
da Equipe de Articulistas

Berlim 97 começa a libertar Kim Novak do complexo de Madge. Como seu mítico personagem em "Férias de Amor" (55), Novak derrota o estereótipo de bonita, mas burra ao receber o Urso de Ouro pela carreira. O festival começa no próximo dia 13, exata data em que Novak completa 64 anos.
Treze filmes e um álbum vão resumir sua trajetória. O ápice das celebrações acontece no dia 21, quando a entrega do prêmio será sucedida pela projeção da cópia restaurada em 70mm de "Um Corpo Que Cai" (58), de Alfred Hitchcock. A escolha tem sabor de vingança para Novak.
Hitchcock desprezou-a até a morte, sustentando tê-la contratado para o papel duplo tão somente pela impossibilidade de usar a primeira escolhida, Vera Miles.
"Na segunda parte do filme, aquela em que está morena e se parece menos com Kim Novak, até consegui fazê-la representar", metralhou o velho Hitch.
Basta assistir a alguns segundos de "Um Corpo Que Cai" para detectar nas restrições mais implicância do que juízo profissional.
Ao contrário da "boutade" do cineasta, Novak jamais foi mais Novak do que naquele filme, a transformação da frágil e loira Madeleine à segura e morena Judy explicitando a tensão inerente à etérea sensualidade da atriz.
Em seus melhores papéis, Kim Novak sempre representou uma mulher com a cabeça nas nuvens e os pés bem plantados no chão, uma espécie de anjo terrestre, tão enigmático quanto erótico.
Devemos sua descoberta e meteórica ascensão a um dos pais da Columbia Pictures, Harry Cohn (1891-1957), que em três anos transformou a manequim nascida Marilyn Pauline Novak na estrela campeã de bilheteria de 56.
Cohn forjou-a para suceder ninguém menos do que Rita Hayworth, e o único confronto de ambas nas telas, disputando Frank Sinatra em "Meus Dois Carinhos" (57), acredite, deu empate.
Foi estourar mesmo encarnando a típica virgem interiorana dos EUA em "Férias de Amor". O período áureo que culminaria com "Um Corpo Que Cai" inclui ainda "O Homem do Braço de Ouro" e "Sortilégio de Amor".
Depois disso, sua carreira é constante declínio, com raras exceções, como a prostituta de "Beije-Me, Idiota" (64), de Billy Wilder.
Ela acabou optando pela vida rural ao lado de um veterinário, quebrada por uma que outra participação especialíssima -a última já tem quase uma década.
Berlim 97 pode ser o empurrão que faltava para seu retorno, numa anunciada refilmagem de "Sortilégio de Amor". Novak contracenaria, adivinhe, com Sharon Stone. Eis um duelo a não perder.


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