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CINEMA
Atriz de "Um Corpo Que Cai" e "Férias de Amor" recebe prêmio pelo conjunto de sua carreira no mês em que completa 64 anos
Kim Novak será homenageada em Berlim
AMIR LABAKI
da Equipe de Articulistas
Berlim 97 começa a libertar Kim
Novak do complexo de Madge.
Como seu mítico personagem em
"Férias de Amor" (55), Novak
derrota o estereótipo de bonita,
mas burra ao receber o Urso de
Ouro pela carreira. O festival começa no próximo dia 13, exata data em que Novak completa 64
anos.
Treze filmes e um álbum vão resumir sua trajetória. O ápice das
celebrações acontece no dia 21,
quando a entrega do prêmio será
sucedida pela projeção da cópia
restaurada em 70mm de "Um
Corpo Que Cai" (58), de Alfred
Hitchcock. A escolha tem sabor de
vingança para Novak.
Hitchcock desprezou-a até a
morte, sustentando tê-la contratado para o papel duplo tão somente
pela impossibilidade de usar a primeira escolhida, Vera Miles.
"Na segunda parte do filme,
aquela em que está morena e se parece menos com Kim Novak, até
consegui fazê-la representar",
metralhou o velho Hitch.
Basta assistir a alguns segundos
de "Um Corpo Que Cai" para detectar nas restrições mais implicância do que juízo profissional.
Ao contrário da "boutade" do
cineasta, Novak jamais foi mais
Novak do que naquele filme, a
transformação da frágil e loira Madeleine à segura e morena Judy explicitando a tensão inerente à etérea sensualidade da atriz.
Em seus melhores papéis, Kim
Novak sempre representou uma
mulher com a cabeça nas nuvens e
os pés bem plantados no chão,
uma espécie de anjo terrestre, tão
enigmático quanto erótico.
Devemos sua descoberta e meteórica ascensão a um dos pais da
Columbia Pictures, Harry Cohn
(1891-1957), que em três anos
transformou a manequim nascida
Marilyn Pauline Novak na estrela
campeã de bilheteria de 56.
Cohn forjou-a para suceder ninguém menos do que Rita Hayworth, e o único confronto de ambas nas telas, disputando Frank Sinatra em "Meus Dois Carinhos"
(57), acredite, deu empate.
Foi estourar mesmo encarnando
a típica virgem interiorana dos
EUA em "Férias de Amor". O período áureo que culminaria com
"Um Corpo Que Cai" inclui ainda "O Homem do Braço de Ouro" e "Sortilégio de Amor".
Depois disso, sua carreira é constante declínio, com raras exceções,
como a prostituta de "Beije-Me,
Idiota" (64), de Billy Wilder.
Ela acabou optando pela vida rural ao lado de um veterinário, quebrada por uma que outra participação especialíssima -a última já
tem quase uma década.
Berlim 97 pode ser o empurrão
que faltava para seu retorno, numa
anunciada refilmagem de "Sortilégio de Amor". Novak contracenaria, adivinhe, com Sharon Stone. Eis um duelo a não perder.
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