São Paulo, Sábado, 06 de Fevereiro de 1999
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Mecenas escondem obras raras no interior de SP

Cerca de 400 peças, entre elas quadros de Mira Schendel e esculturas de Franz Weissmann, estão longe do público, em fazendas e condomínios
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
da Folha Ribeirão

As cercas de uma antiga fazenda e os altos muros de um luxuoso condomínio escondem, no interior de São Paulo, preciosidades da arte contemporânea brasileira.
Uma escultura em ferro, quase nunca exposta, do austríaco Franz Weissmann -um dos líderes do movimento concretista dos anos 50 e 60-, faz parte desse acervo, além de um panorama completo da produção dos anos 80.
Os acervos escondem ainda raridades de artistas como Amilcar de Castro, Iberê Camargo, Djanira, Antonio Bandeira, Mira Schendel, Leda Catunda, entre outros.
Atualmente, isso tudo está longe do público, no interior de São Paulo, uma parte na fazenda de Gilberto Chateaubriand, filho do magnata da imprensa Assis Chateaubriand (1891-1968), e outra na casa do usineiro João Carlos Figueiredo Ferraz.
Ferraz mantém suas obras na cidade de Ribeirão Preto, onde mora. Já o "braço" do interior da coleção do carioca Gilberto Chateaubriand está em sua fazenda, na pequena Porto Ferreira, região de Campinas.
De Franz Weissmann, que atualmente apresenta retrospectiva no MAM-SP (Museu de Arte Moderna de São Paulo), Chateaubriand possui em sua fazenda uma torre em ferro e uma obra que mescla elementos da série "Módulo Neoconcreto" e "Cubo Vazado", obras fundamentais na arte brasileira.
Elas enfeitam a piscina e a varanda da casa de campo e são ladeadas por duas obras de Amilcar de Castro -outro nome consagrado no neoconcretismo do país-, um círculo dobrado e um retângulo dobrado. As três são "observadas" ao longe pela pop "Ar", do artista plástico Rubens Gerchman.
"Quase ninguém tem conhecimento de que estas obras estão aqui. No caso do Weissmann, acho que apenas eu e ele sabemos", diz Chateaubriand.
Ele adquiriu os trabalhos diretamente de Weissmann, que considera "um dos artistas mais importantes do mundo".
Já a coleção de Ferraz tem como ponto alto trabalhos produzidos a partir dos anos 80 ("Véu", de Waltércio Caldas, "Sarrafos", de Mira Schendel, "Barroca", de Iole de Freitas, por exemplo).
Ao todo, as duas coleções têm cerca de 400 peças. Chateaubriand mantém na fazenda cerca de 150 obras -de um total de 4.300 de sua coleção.
Além das esculturas, a fazenda tem quadros de Djanira ("Vista do Central Park"), Iberê Camargo ("Cenas Gauchescas" e "Auto-retrato com Meus Cães") e desenhos de Antonio Bandeira. O acervo está avaliado em R$ 1 milhão.

Contrastes
As coleções possuem peças mais representativas que os museus de arte de Campinas e Ribeirão Preto. Para a pequena Porto Ferreira, os contrastes são ainda maiores, pois a cidade não possui nem mesmo um museu de arte, apenas uma pequena pinacoteca com 50 obras pouco conhecidas.
Na fazenda, as visitas são escassas, restritas a convidados. Longe dos visitantes, o jardim com esculturas é fustigado pelas chuvas da estação.
Livre das intempéries climáticas, mas igualmente afastada do público, a coleção de Ferraz, que tem cerca de 250 peças, aguarda nova oportunidade para dar as caras. No ano passado, uma pequena parte do acervo esteve em exposição no Marp (Museu de Arte de Ribeirão Preto).
"Mas meu sonho mesmo é montar um instituto cultural para divulgar a arte contemporânea no interior", diz Ferraz.


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