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Mecenas escondem obras raras no interior de SP
Cerca de 400 peças, entre elas quadros de Mira Schendel e esculturas de Franz Weissmann, estão longe do público, em fazendas e condomínios
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
da Folha Ribeirão
As cercas de uma antiga fazenda
e os altos muros de um luxuoso
condomínio escondem, no interior de São Paulo, preciosidades da
arte contemporânea brasileira.
Uma escultura em ferro, quase
nunca exposta, do austríaco Franz
Weissmann -um dos líderes do
movimento concretista dos anos
50 e 60-, faz parte desse acervo,
além de um panorama completo
da produção dos anos 80.
Os acervos escondem ainda raridades de artistas como Amilcar de
Castro, Iberê Camargo, Djanira,
Antonio Bandeira, Mira Schendel,
Leda Catunda, entre outros.
Atualmente, isso tudo está longe
do público, no interior de São Paulo, uma parte na fazenda de Gilberto Chateaubriand, filho do magnata da imprensa Assis Chateaubriand (1891-1968), e outra na casa
do usineiro João Carlos Figueiredo
Ferraz.
Ferraz mantém suas obras na cidade de Ribeirão Preto, onde mora. Já o "braço" do interior da coleção do carioca Gilberto Chateaubriand está em sua fazenda, na pequena Porto Ferreira, região de
Campinas.
De Franz Weissmann, que atualmente apresenta retrospectiva no
MAM-SP (Museu de Arte Moderna de São Paulo), Chateaubriand
possui em sua fazenda uma torre
em ferro e uma obra que mescla
elementos da série "Módulo Neoconcreto" e "Cubo Vazado", obras
fundamentais na arte brasileira.
Elas enfeitam a piscina e a varanda da casa de campo e são ladeadas
por duas obras de Amilcar de Castro -outro nome consagrado no
neoconcretismo do país-, um círculo dobrado e um retângulo dobrado. As três são "observadas" ao
longe pela pop "Ar", do artista
plástico Rubens Gerchman.
"Quase ninguém tem conhecimento de que estas obras estão
aqui. No caso do Weissmann, acho
que apenas eu e ele sabemos", diz
Chateaubriand.
Ele adquiriu os trabalhos diretamente de Weissmann, que considera "um dos artistas mais importantes do mundo".
Já a coleção de Ferraz tem como
ponto alto trabalhos produzidos a
partir dos anos 80 ("Véu", de Waltércio Caldas, "Sarrafos", de Mira
Schendel, "Barroca", de Iole de
Freitas, por exemplo).
Ao todo, as duas coleções têm
cerca de 400 peças. Chateaubriand
mantém na fazenda cerca de 150
obras -de um total de 4.300 de
sua coleção.
Além das esculturas, a fazenda
tem quadros de Djanira ("Vista do
Central Park"), Iberê Camargo
("Cenas Gauchescas" e "Auto-retrato com Meus Cães") e desenhos
de Antonio Bandeira. O acervo está avaliado em R$ 1 milhão.
Contrastes
As coleções possuem peças mais
representativas que os museus de
arte de Campinas e Ribeirão Preto.
Para a pequena Porto Ferreira, os
contrastes são ainda maiores, pois
a cidade não possui nem mesmo
um museu de arte, apenas uma pequena pinacoteca com 50 obras
pouco conhecidas.
Na fazenda, as visitas são escassas, restritas a convidados. Longe
dos visitantes, o jardim com esculturas é fustigado pelas chuvas da
estação.
Livre das intempéries climáticas,
mas igualmente afastada do público, a coleção de Ferraz, que tem
cerca de 250 peças, aguarda nova
oportunidade para dar as caras.
No ano passado, uma pequena
parte do acervo esteve em exposição no Marp (Museu de Arte de Ribeirão Preto).
"Mas meu sonho mesmo é montar um instituto cultural para divulgar a arte contemporânea no
interior", diz Ferraz.
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