São Paulo, segunda-feira, 06 de março de 2000


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TELEVISÃO

Ratinho é puxa-saco de patrão

TELMO MARTINO
Colunista da Folha

Chegou a hora do Ratinho reconhecer que o único da sua espécie com direito à eternidade é mesmo o Mickey Mouse. O Ratinho já está elogiando descaradamente, durante seu programa, a maravilha que é seu patrão Sílvio Santos. "Mas isso é puxar saco!", reclama a platéia. "É melhor puxar saco que puxar carroça." Ratinho admite, assim, que está por um fio.
Pelo jeito, a zorra total que era seu programa transferiu-se, nas noites de sábado, para a Rede Globo. Sobrou para o Ratinho dar toque humano (?) em algumas situações e encher de notícias o que sobrar. Isso quando não tem um calouro cantando (com sucesso!?) "My way" em espanhol. Noticiário exige um perfil dentro de um quadro. "Traficantes nas periferias do Rio e São Paulo estão expulsando moradores. As drogas são hoje um crime que compensa." O que sobrou para o Ratinho dizer? "Policiais honestos. Os policiais estão comandando o tráfico. Traficante? Paredão." Está implícito que Ratinho não tem medo de Moreira Salles. Quem tem Silvio Santos para adular não teme ninguém.
Pode um pouquinho de baixaria? Mulher feia reclama que teve um filho branco e o pai preto não quer reconhecer. Nada disso. O filho nasceu branco mas foi escurecendo. Está da cor do pai que se mostrou até disposto a um DNA. A mulher feia ele não quer mais.
Mais reportagem. Vai-se ao sambódromo ver um Rei Momo magro e suas princesas. Devia ser o sambódromo de São Paulo. Acabou-se a reportagem. Está na hora do toque humano. Um menino chamado Douglas, lá de Goiás, vende cestinhas que trocam de formato e utilidade. O menino Douglas, mais que a cestinha, é um sucesso.
Noticiário? Mais tráfico? CPI do Narcotráfico em Curitiba. Encontrou-se uma falsa bomba no recinto. Estranho esse noticiário. Tão repetitivo como o Ratinho em seus dias de liberdade total. Nem tanto assim. Estão informando que travecos (travestis em outros lugares) invadiram a universidade de Santo André e estão fazendo horrores e loucuras. Mas o que eles queriam que os travecos fizessem? Só que as loucuras incluem crimes. Prendam os travecos que nem tiveram paciência de esperar o Carnaval.
Momento de dor. Maguila, o pugilista adorado por animadores de auditórios e por seu público também, foi lutar gordo e fora de forma. E perdeu. "Mas não vou parar. Vou pedir revanche." Surge o Eder Jofre, bicampeão mundial em sua categoria. Eder Jofre limpa a vaidade do Maguila e diz que ele foi o melhor peso pesado que o Brasil já teve. Todo mundo elogia todo mundo. Menos o Ratinho, um puxa-saco de patrão, que pode lhe dar uma carroça último tipo, de quatro marchas e conversível para ele puxar.


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