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TELEVISÃO
Ratinho é puxa-saco de patrão
TELMO MARTINO
Colunista da Folha
Chegou a hora do Ratinho reconhecer que o único da sua espécie
com direito à eternidade é mesmo
o Mickey Mouse. O Ratinho já está elogiando descaradamente,
durante seu programa, a maravilha que é seu patrão Sílvio Santos.
"Mas isso é puxar saco!", reclama
a platéia. "É melhor puxar saco
que puxar carroça." Ratinho admite, assim, que está por um fio.
Pelo jeito, a zorra total que era
seu programa transferiu-se, nas
noites de sábado, para a Rede
Globo. Sobrou para o Ratinho dar
toque humano (?) em algumas situações e encher de notícias o que
sobrar. Isso quando não tem um
calouro cantando (com sucesso!?)
"My way" em espanhol. Noticiário exige um perfil dentro de um
quadro. "Traficantes nas periferias do Rio e São Paulo estão expulsando moradores. As drogas
são hoje um crime que compensa." O que sobrou para o Ratinho
dizer? "Policiais honestos. Os policiais estão comandando o tráfico.
Traficante? Paredão." Está implícito que Ratinho não tem medo
de Moreira Salles. Quem tem Silvio Santos para adular não teme
ninguém.
Pode um pouquinho de baixaria? Mulher feia reclama que teve
um filho branco e o pai preto não
quer reconhecer. Nada disso. O filho nasceu branco mas foi escurecendo. Está da cor do pai que se
mostrou até disposto a um DNA.
A mulher feia ele não quer mais.
Mais reportagem. Vai-se ao
sambódromo ver um Rei Momo
magro e suas princesas. Devia ser
o sambódromo de São Paulo.
Acabou-se a reportagem. Está na
hora do toque humano. Um menino chamado Douglas, lá de
Goiás, vende cestinhas que trocam de formato e utilidade. O
menino Douglas, mais que a cestinha, é um sucesso.
Noticiário? Mais tráfico? CPI do
Narcotráfico em Curitiba. Encontrou-se uma falsa bomba no recinto. Estranho esse noticiário.
Tão repetitivo como o Ratinho
em seus dias de liberdade total.
Nem tanto assim. Estão informando que travecos (travestis em
outros lugares) invadiram a universidade de Santo André e estão
fazendo horrores e loucuras. Mas
o que eles queriam que os travecos fizessem? Só que as loucuras
incluem crimes. Prendam os travecos que nem tiveram paciência
de esperar o Carnaval.
Momento de dor. Maguila, o
pugilista adorado por animadores de auditórios e por seu público
também, foi lutar gordo e fora de
forma. E perdeu. "Mas não vou
parar. Vou pedir revanche." Surge o Eder Jofre, bicampeão mundial em sua categoria. Eder Jofre
limpa a vaidade do Maguila e diz
que ele foi o melhor peso pesado
que o Brasil já teve. Todo mundo
elogia todo mundo. Menos o Ratinho, um puxa-saco de patrão,
que pode lhe dar uma carroça último tipo, de quatro marchas e
conversível para ele puxar.
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