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O CADÁVER
Ricardo Pavão não pisca nem respira
ESPECIAL PARA A FOLHA
O ator Ricardo Pavão, 48, é
uma atração especial da peça
"Duas Mulheres e um Cadáver". Ele entra em cena, morre
e fica durante todo o espetáculo
no palco, sendo carregado de
um lado para o outro.
Mais pesado do que Jô Soares, Pavão começou a carreira
fazendo teatro de rua com
Amir Haddad.
Com o grupo Tá na Rua, um
dos primeiros grupos de rua,
ele já morreu bastante em cena.
Foi contratado sem saber que
era para fazer um cadáver. Ele é
fácil de carregar?
"Eu sou a atriz mais forte do
Brasil", diz Fernanda Torres,
cujo personagem é o que mais
interage fisicamente com o de
Pavão. "Eu não carrego cadáveres", diz Debora Bloch.
Não há coreografia ou truques. Fernanda carrega Pavão
no muque. O ator, alérgico a
ácaros, fica por vezes sobre um
tapete. Só tossiu em cena uma
vez, enquanto o personagem
de Debora dizia para o de Fernanda: "Você não viu nada, vamos em frente...".
E Fernanda não facilita nem o
deixa em uma posição confortável. Ela só larga o cadáver.
"Esse é o meu exercício de ator.
Eu vim da rua, de um teatro escancarado, circense. O meu desafio é trabalhar a coisa minúscula, de como cai uma mão,
por exemplo. Se cai errado, dói
muito, dá cãibra", diz Pavão.
Ele controla a respiração, pisca só cinco vezes durante a peça (ele morre de olho aberto) e
tem alguns macetes: "Nem
sempre estou virado para a platéia. As duas atrizes atraem
tanta atenção que a platéia, às
vezes, pára de prestar atenção
em mim. Relaxo quando a cena
é longe de mim e paro de respirar quando é próxima".
(MRP)
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