São Paulo, terça-feira, 06 de março de 2001

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O CADÁVER

Ricardo Pavão não pisca nem respira

ESPECIAL PARA A FOLHA

O ator Ricardo Pavão, 48, é uma atração especial da peça "Duas Mulheres e um Cadáver". Ele entra em cena, morre e fica durante todo o espetáculo no palco, sendo carregado de um lado para o outro.
Mais pesado do que Jô Soares, Pavão começou a carreira fazendo teatro de rua com Amir Haddad.
Com o grupo Tá na Rua, um dos primeiros grupos de rua, ele já morreu bastante em cena. Foi contratado sem saber que era para fazer um cadáver. Ele é fácil de carregar?
"Eu sou a atriz mais forte do Brasil", diz Fernanda Torres, cujo personagem é o que mais interage fisicamente com o de Pavão. "Eu não carrego cadáveres", diz Debora Bloch.
Não há coreografia ou truques. Fernanda carrega Pavão no muque. O ator, alérgico a ácaros, fica por vezes sobre um tapete. Só tossiu em cena uma vez, enquanto o personagem de Debora dizia para o de Fernanda: "Você não viu nada, vamos em frente...".
E Fernanda não facilita nem o deixa em uma posição confortável. Ela só larga o cadáver. "Esse é o meu exercício de ator. Eu vim da rua, de um teatro escancarado, circense. O meu desafio é trabalhar a coisa minúscula, de como cai uma mão, por exemplo. Se cai errado, dói muito, dá cãibra", diz Pavão.
Ele controla a respiração, pisca só cinco vezes durante a peça (ele morre de olho aberto) e tem alguns macetes: "Nem sempre estou virado para a platéia. As duas atrizes atraem tanta atenção que a platéia, às vezes, pára de prestar atenção em mim. Relaxo quando a cena é longe de mim e paro de respirar quando é próxima". (MRP)


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