São Paulo, terça-feira, 06 de março de 2001

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A AUTORA

"É uma tragédia, apesar de rirem"

ESPECIAL PARA A FOLHA

Não é a primeira incursão de Patrícia Melo pela dramaturgia. Em 1987, ela adaptou "A Doença da Morte", de Marguerite Duras, para o teatro.
"Duas Mulheres e um Cadáver" é seu primeiro texto exclusivamente teatral. Patrícia escreveu a primeira versão da peça há dez anos, por sugestão do diretor Antônio Abujamra, e a deixou na gaveta, enquanto ia publicando romances e entregando roteiros.
Fernanda Torres e Debora Bloch resgataram a peça, tirando-a do esquecimento e aprimorando as ações dramáticas; no original, muitas cenas estavam apenas indicadas.
"Foi difícil. Sabia que a peça tinha problemas. É uma linguagem que eu não domino. O texto foi bastante mexido. Fernanda e Debora foram muito pacientes com minha ignorância teatral", conta Patrícia.
A autora diz que não vai muito ao teatro, apesar de ler textos teatrais. Reafirma as diferenças dos gêneros. Lembra a solidão do literato em oposição ao trabalho coletivo de um dramaturgo e realça o talento das duas atrizes: "Elas são como dois furacões".
Na peça, duas mulheres neuróticas fazem parte de um mesmo núcleo: jovens, urbanas, em luto. Beatriz (Debora) fala sem parar e sofre com uma obra que nunca termina. Ana (Fernanda) parece zen, mas toma antidepressivos e tosse o tempo todo. Ambas amavam o homem que perderam, o marido de Beatriz, que era amante e terapeuta de Ana. Como sugere o figurino, parece que ambas são a mesma pessoa.
Patrícia informa que a peça fala do mundo de patologias urbanas ao redor e lembra que tanto ela quanto Debora foram torturadas por uma obra que nunca terminava em suas casas. "A peça reflete um pouco minha vida e as dos meus amigos. Ela é mais uma tragédia, com sabor amargo, apesar de as pessoas rirem muito. Ela fala de tudo o que acabou para as mulheres, com um ar de finitude."
Patrícia começou a carreira escrevendo para a TV. Sua primeira minissérie, "Colônia Sicília", dos anos 80, foi exibida pela Band, enquanto ela rodava pelas editora com os originais do romance de estréia, "Acqua Tofana".
Perguntei se a linguagem da teledramaturgia não é parente próxima da dramaturgia. "São diferentes. Conhecer teledramaturgia me ajudou a construir diálogos. Mas a ação do teatro é bem diferente da ação da TV, que tem mais recursos. Ainda não entendo direito a ação dramática. É algo particular do teatro." (MRP)


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