|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
A AUTORA
"É uma tragédia, apesar de rirem"
ESPECIAL PARA A FOLHA
Não é a primeira incursão de
Patrícia Melo pela dramaturgia.
Em 1987, ela adaptou "A Doença
da Morte", de Marguerite Duras,
para o teatro.
"Duas Mulheres e um Cadáver"
é seu primeiro texto exclusivamente teatral. Patrícia escreveu a
primeira versão da peça há dez
anos, por sugestão do diretor Antônio Abujamra, e a deixou na gaveta, enquanto ia publicando romances e entregando roteiros.
Fernanda Torres e Debora
Bloch resgataram a peça, tirando-a do esquecimento e aprimorando as ações dramáticas; no original, muitas cenas estavam apenas
indicadas.
"Foi difícil. Sabia que a peça tinha problemas. É uma linguagem
que eu não domino. O texto foi
bastante mexido. Fernanda e Debora foram muito pacientes com
minha ignorância teatral", conta
Patrícia.
A autora diz que não vai muito
ao teatro, apesar de ler textos teatrais. Reafirma as diferenças dos
gêneros. Lembra a solidão do literato em oposição ao trabalho coletivo de um dramaturgo e realça
o talento das duas atrizes: "Elas
são como dois furacões".
Na peça, duas mulheres neuróticas fazem parte de um mesmo
núcleo: jovens, urbanas, em luto.
Beatriz (Debora) fala sem parar e
sofre com uma obra que nunca
termina. Ana (Fernanda) parece
zen, mas toma antidepressivos e
tosse o tempo todo. Ambas amavam o homem que perderam, o
marido de Beatriz, que era amante e terapeuta de Ana. Como sugere o figurino, parece que ambas
são a mesma pessoa.
Patrícia informa que a peça fala
do mundo de patologias urbanas
ao redor e lembra que tanto ela
quanto Debora foram torturadas
por uma obra que nunca terminava em suas casas. "A peça reflete
um pouco minha vida e as dos
meus amigos. Ela é mais uma tragédia, com sabor amargo, apesar
de as pessoas rirem muito. Ela fala
de tudo o que acabou para as mulheres, com um ar de finitude."
Patrícia começou a carreira escrevendo para a TV. Sua primeira
minissérie, "Colônia Sicília", dos
anos 80, foi exibida pela Band, enquanto ela rodava pelas editora
com os originais do romance de
estréia, "Acqua Tofana".
Perguntei se a linguagem da teledramaturgia não é parente próxima da dramaturgia. "São diferentes. Conhecer teledramaturgia
me ajudou a construir diálogos.
Mas a ação do teatro é bem diferente da ação da TV, que tem
mais recursos. Ainda não entendo direito a ação dramática. É algo particular do teatro."
(MRP)
Texto Anterior: Três mulheres e um cadáver desembarcam em São Paulo Próximo Texto: O cadáver: Ricardo Pavão não pisca nem respira Índice
|