São Paulo, terça-feira, 06 de março de 2001

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INVERNO 2001/2002

Estilistas acrescentam rebeldia, anos 60 e estilo vitoriano

Romantismo é o prato do dia na moda à milanesa

à dir., o novo espírito apresentado por Alberta Ferretti ERIKA PALOMINO
ENVIADA ESPECIAL A MILÃO

A temporada de lançamentos de inverno 2001/2002 do prêt-à-porter italiano, que termina hoje em Milão, parece se dividir entre duas correntes, a dos radicais e a dos românticos. Muitas vezes, as duas se misturam num mesmo desfile, gerando os mais interessantes e criativos exercícios estilísticos. Preocupados como são com o aspecto comercial, os designers não podem -mesmo aqui- se dar ao luxo de deixar de atender às expectativas da plurifacetada mulher do século 21.
A questão do romantismo parece ser das mais complexas. E como comunicá-la para uma "donna" -romântica, sim, tonta, não- que vem mexendo com as passarelas milanesas? Imagens do passado tornam a aparecer, seja na influência da silhueta vitoriana, dândi, ou em heroínas urbanas cuja imagem lembra a de um Robin Hood com registro de punk ou motocicleta, donzelas desconstrutivistas vêm à mente, como no saboroso desfile de Anna Molinari, feito de calças de couro justíssimas, feito leggings, usadas com saias de frufrus e jogo de preto e vermelho, e depois preto e branco ou creme, de botinha curta com fivelas sobre a calça.
Personagens inspiradas na Lara de "Dr. Jivago" são moças russas de vocação grunge, como as de Blumarine, e nos mostram seus chapéus de pele com botas de urso, cintões e vestidinhos floridos.
De modo contemporâneo, Alberta Ferretti, por sua vez, fez um belíssimo desfile, exemplificando o novo espírito. Casting de olho na androginia, mas cabelo bagunçado e olhar dark. O desfile começa -não antes de todas as luzes se acenderem de repente, acordando a platéia, no desfile marcado para às 10h. Depois do susto, ficou mais fácil abrir os olhos para ver a suave palheta em tons de cinza que as meninas mostravam em ziguezague pela passarela.
Nas formas, vestidinhos pelo meio da perna, sem mangas, em veludo molhado ou seda georgette, misturados a mantôs de lã estruturados e fechados. Outro item explorado foi o mesmo vestido em tomara-que-caia, com um ombro só ou alças, e jaquetinhas de cintura levantada e proporções sequinhas, em veludo vinho.
Os melhores momentos ainda ficaram no final, com os vestidos com detalhes torcidos ou com nós desenhando o tecido, em preto ou numa variação prateada do cinza. Bons acessórios, como os sapatos brechó com calcanhar levantado em preto e meia-calça preta, e as botas sem salto.
A referência de Ferretti era a imagem da modelo Twiggy, trazendo dos anos 60 a figura diminuta, o estilo à toda prova e as formas dos pequenos vestidos.
Dos mesmos swinging 60's veio o esquadrão mod de Karl Lagerfeld na Fendi, que evocou o passado do mestre André Courrèges (atenção para a tendência, é a mesma referência de Gucci, que trouxe ainda as formas históricas de Paco Rabbane). Os ventos dos 60 sopravam já desde a última estação, quando Alexandre Herchcovitch apostou em seu verão nas formas eternas lançadas pelos dois estilistas naquela década.
Em preto e branco, Lagerfeld brinca agora de misturar elementos como broches vitorianos e lapelas prateadas às formas circulares dos casacos, peças tradicionais da casa romana Fendi.
Em vez de romantismo, é o minimalismo que assombra a casa Jil Sander. Foi o desfile de estréia de Milan Vukmirovic, ex-comprador da loja francesa Colette, como diretor criativo da marca. A idéia parece ser contaminar o excelente tino comercial às necessidades de uma grife sem estilista, como ficou a Jil Sander depois da saída da criadora. E, se o minimalismo não existe mais, como declarou o novo boss Patrizio Bertelli, a nova Jil Sander ainda não agradou totalmente.


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