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São Paulo, quinta-feira, 06 de março de 2003

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ARTES CÊNICAS

Festival de Montpellier cria projeto para cultura popular brasileira

Ginga à francesa

Divulgação
Cena de "Pajelança", da Cia. Brasileira de Mystérios e Novidades, dirigida por Lígia Veiga, que levará para o Festival de Montpellier excertos do espetáculo


VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Um tanto da expressão artística brasileira de extrato popular que vigora neste século 21 em regiões do Nordeste e do Sudeste vai dividir a cena com grandes nomes do teatro e da dança internacional no 17º Festival de Montpellier -°Printemps des Comédiens, a primavera dos artistas, o segundo mais importante da França depois de Avignon. O rabequeiro Mestre Salustiano, de Recife, por exemplo, poderá ser visto no mesmo dia em que o encenador inglês Peter Brook apresenta a montagem de "La Mort de Krishna" ou o japonês Tadashi Suzuki, com "Dionysus".
O Brasil terá um segmento exclusivo no evento, que acontece de 6 de junho a 3 de julho, na cidade do sul da França. Trata-se do projeto "Gingado", que ocupa a programação de 6 a 29 de junho, sempre das 18h às 20h.
É lá, em cinco palcos do festival, ao ar livre, que sete atrações brasileiras apresentarão algumas faces de uma cultura popular que se pretende não necessariamente folclórica, como observa o diretor do festival, Daniel Bedos.
"Eu tentei deixar essa imagem tradicional que os ocidentais têm dos artistas brasileiros [samba e Carnaval". Os 30 artistas que participam do "Gingado" são, me parece, depositários de um saber artístico popular. Isso guiou a minha escolha", diz Bedos, 53.
Há duas décadas à frente do evento, o diretor visitou o país em março de 2002. Assistiu a 38 espetáculos, ao lado da produtora Julia Gomes, e convocou sete projetos para mostrar em Montpellier.
Além de Mestre Salu, que passou mais um Carnaval comandando desfiles de maracatus rurais pelas ruas de Recife e região, Pernambuco estará representado ainda pelo Mamulengo Só-Riso, dirigido por Fernando Augusto Gonçalves Santos. O grupo de Olinda atua há 28 anos com os bonecos que lhe dão nome e têm origem na tradição dos presépios.
Da Bahia, vão duas representantes de samba de roda: Rita da Barquinha, da vila de Bom Jesus dos Pobres, em Saubara, e Ducinéia Cardoso Paciência, a Nega, de São Francisco do Conde. Ambos os municípios são da região do Recôncavo.
Rita da Barquinha e Nega representarão seus respectivos grupos populares (a primeira, com o nome dela, a segunda, o Raízes de Angola, dirigido por Alva Célia Medeiros).
O apelido de Rita se deve à barquinha que carrega na cabeça dançando durante a cerimônia de oferendas nas passagens de Ano Novo em Bom Jesus, onde a maioria da população sobrevive da pesca. "Leva as coisas ruins e traz as coisas boas", diz Rita, 53.
Como ocorre com a maioria dos artistas autodidatas, ela aprendeu os passos e os cantos na infância, com a mãe. Seu grupo (20 baianas mais dez percussionistas) também frequenta outras festas nos municípios vizinhos.
"Nunca saí do país. Sinto que temos que aproveitar a oportunidade para divulgar a barquinha. Fico emocionada em ser a pessoa escolhida para representar a população daqui", afirma.
A Cia. Brasileira de Mystérios e Novidades, dirigida por Lígia Veiga, levará excertos do espetáculo "Pajelança". Completam a programação duas companhias voltadas para a dança, a paulista Rodagira, da coreógrafa Tatiana Tardioli, e a carioca Cia. Aérea de Dança, do coreógrafo João Carlos da Silva Ramos. O cantor e compositor Vinícius Cantuária vai representar a MPB no segmento "Fête Latino" (festa latina).


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