São Paulo, sexta, 6 de março de 1998

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O ecletismo como estilo

da Redação

O assunto pode ser um conflito entre gângsteres ("Ajuste Final"), a invenção do bambolê ("Na Roda da Fortuna"), as agruras de um escritor em Hollywood ("Barton Fink"). Em qualquer circunstância, Joel e Ethan Coen parecem afastar-se de seu objeto, em relação ao qual mantêm uma distância cirúrgica.
Aos adeptos de uma tradição mais realista, esse distanciamento soa como gosto pelo artifício. Os Coen representam, na verdade, a ponta avançada nos EUA de um cinema que se pretende fim em si mesmo, isto é, que fala menos do mundo do que próprio cinema.
Para ficar com "Fargo". A história do vendedor que planeja o sequestro da própria mulher e da chefe de polícia que tenta desvendar o crime teria pouco de original, não fossem certas marcas.
A imbecilidade dos sequestradores, a policial mulher (e grávida), a ambientação no gélido Minnesota constituem desvios providenciais, que levam o espectador a contemplar, ao mesmo tempo, uma trama e um gênero (o policial noir), o filme e a discussão sobre o filme.
Mesmo quando criticam Hollywood pesadamente ("Barton Fink"), os Coen impõem uma distância que funciona como amortecedor, introduzem farto simbolismo, mesclam-no ao virtuosismo.
Conseguem ser aceitos na Europa e nos EUA, em Cannes e no Oscar. São uma espécie de unanimidade mundial.
Talvez fosse melhor esperar algum tempo antes da consagração prematura: a mescla de tendências que promovem pode vir a se mostrar um caminho consequente. Mas pode também se revelar um ecletismo com mais impacto do que fôlego. (INÁCIO ARAUJO)



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