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O ecletismo como estilo
da Redação
O assunto pode ser um conflito
entre gângsteres ("Ajuste Final"),
a invenção do bambolê ("Na Roda
da Fortuna"), as agruras de um escritor em Hollywood ("Barton
Fink"). Em qualquer circunstância, Joel e Ethan Coen parecem
afastar-se de seu objeto, em relação ao qual mantêm uma distância cirúrgica.
Aos adeptos de uma tradição
mais realista, esse distanciamento
soa como gosto pelo artifício. Os
Coen representam, na verdade, a
ponta avançada nos EUA de um
cinema que se pretende fim em si
mesmo, isto é, que fala menos do
mundo do que próprio cinema.
Para ficar com "Fargo". A história do vendedor que planeja o sequestro da própria mulher e da
chefe de polícia que tenta desvendar o crime teria pouco de original, não fossem certas marcas.
A imbecilidade dos sequestradores, a policial mulher (e grávida), a
ambientação no gélido Minnesota
constituem desvios providenciais,
que levam o espectador a contemplar, ao mesmo tempo, uma trama
e um gênero (o policial noir), o filme e a discussão sobre o filme.
Mesmo quando criticam Hollywood pesadamente ("Barton
Fink"), os Coen impõem uma distância que funciona como amortecedor, introduzem farto simbolismo, mesclam-no ao virtuosismo.
Conseguem ser aceitos na Europa e nos EUA, em Cannes e no Oscar. São uma espécie de unanimidade mundial.
Talvez fosse melhor esperar algum tempo antes da consagração
prematura: a mescla de tendências
que promovem pode vir a se mostrar um caminho consequente.
Mas pode também se revelar um
ecletismo com mais impacto do
que fôlego.
(INÁCIO ARAUJO)
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