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"THE BIG LEBOWSKI"
Coen fazem sua fábula mais desconcertante
AMIR LABAKI
de Nova York
Os irmãos Coen estão de volta às
telas americanas -e felizes. Depois da fria recepção em dois festivais (Sundance e Berlim), estréia
hoje em Nova York "The Big Lebowski" (O Grande Lebowski). É o
mais delirante filme da dupla.
Tudo se passa como se, à contenção absoluta de "Fargo" (1997),
fosse preciso responder com a
mais irrestrita improvisação. O
gélido "Fargo" soava como uma
peça de câmera, o quente "Lebowski" desenvolve-se como um
autêntico solo jazzístico.
O motor da trama, mais uma
vez, é um sequestro que acaba catalisando uma hilária comédia de
erros. Desta vez, o cenário é Los
Angeles, durante a Guerra do Golfo de 1991. O personagem central
chama-se Jeff Lebowski (Jeff Bridges, numa corajosa composição
desglamourizada), mas prefere
responder pelo apelido "Dude".
Ele é o último dos hippies, mas o
uniforme é grunge legítimo: camiseta larga sobre bermuda xadrez.
Seu cotidiano pacato de cerveja,
baseado e jogos de boliche é quebrado ao ver sua casa invadida por
uma gangue que procura um homônimo rico. Dude vai reclamar
ao xará de posses e logo acaba envolvido num caso de polícia.
O Lebowski milionário o contrata para pagar o resgate de sua jovem amante. Dude, claro, vai
complicar tudo, ajudado por seu
companheiro de boliche, Walter
(John Goodman), um veterano do
Vietnã convertido ao judaísmo
pela mulher que o abandonou.
"Lebowski" prossegue esbanjando liberdade narrativa e variedade
estilística. Um enredo que parodia
os policiais de Raymond Chandler
assume roupagem pop e permite
inserções musicais à moda Busby
Berkeley.
Na mais feérica delas, o líder iraquiano Saddam Hussein apadrinha a aula de boliche que Dude
oferece à desvairada filha do milionário (Julianne Moore, de "O
Mundo Perdido"). Moore surge
simplesmente fantasiada de Valquíria wagneriana.
A galeria de excêntricos tão cara
aos Coen ganha outros novos
membros. Steve Buscemi ("Fargo") entra mudo e sai calado como um tímido colega de jogo.
John Turturro ("Faça a Coisa Certa") irrompe de vez em quando
como uma caricatura de homossexual latino que faz do boliche
sua razão de viver. As participações especiais incluem ainda Ben
Gazzara (um porno-empresário),
David Thewlis (um afetado amigo
de Moore) e Sam Elliot (o caubói-narrador).
Para compor a mais desconcertante de suas fábulas sobre a América profunda, Ethan e Joel Coen
levam ao paroxismo suas duas
marcas principais: a câmera malabarística, que chega aqui a assumir o ponto de vista de uma bola
de boliche em plena circunvolução, e os diálogos brilhantemente
absurdos, ou vice-versa.
Jamais antes foram tão senhores
de seu meio e talvez seja essa arrogância do cinema puro que lhes
valha agora tamanha resistência.
A história os absolverá.
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