São Paulo, Sábado, 06 de Março de 1999
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ARTES PLÁSTICAS - ESPANHA
Mostra reconhece valor de Rauschenberg

CELSO FIORAVANTE
enviado especial a Bilbao

A retrospectiva de Robert Rauschenberg, 75, em cartaz no museu Guggenheim Bilbao, na Espanha, não apenas faz justiça a um dos mais importantes artistas norte-americanos desta segunda metade do século como o coloca no mesmo nível de importância de nomes como Jackson Pollock (1912-1956) e Marc Rothko (1903-1970).
A diferença é que, ao contrário das duas figuras emblemáticas do expressionismo abstrato, Rauschenberg sempre teve sua importância diluída entre os muitos movimentos artísticos que antecipou ou de que participou.
Ele nunca se preocupou em estabelecer limites para a sua produção artística e, em muitas ocasiões, chegou mesmo a abdicar dela para se dedicar a outras atividades, como o teatro e a dança.
A retrospectiva homenageia os 75 anos de vida do artista e os 50 de produção ao reunir mais de 200 trabalhos realizados a partir de 1949. Apresenta todas as suas preocupações estéticas e referências às escolas artísticas que antecipou ou com as quais flertou ao longo de sua carreira, como a arte pop, a arte povera e expressionismo abstrato.
O conjunto prova que se trata de uma das produções mais ricas e variadas do pós-guerra, uma obra carregada de energia e sempre em desafio às categorias estabelecidas da arte.
Rauschenberg utilizou de tudo um pouco para criar uma obra que está entre as mais criativas, instigantes, ousadas e abertas da história da arte neste século. Usou toda sorte de materiais, com especial predileção por aqueles desgastados pelo tempo ou pelo uso do homem, como pneus e latarias de automóveis.
No início de sua carreira, a partir dos anos 50, baseou-se em sua própria produção fotográfica ou naquelas veiculadas pelos meios de comunicação de massa (antecipando assim a arte pop).
Fica evidente desde o início a sua preocupação (e sua predileção) pelas pessoas e fatos do dia-a-dia. Isso o faz recontextualizar as imagens já confeccionadas e levar a experiência da vida real para a arte, que assim perde seu glamour intrínseco e ganha força renovada, do dia-a-dia.
Nos anos 50, partindo do conceito de "ready-made" de Duchamp, que propunha a incorporação de todo tipo de material (natural ou industrializado) para a criação da obra de arte, Rauschenberg criou seus "Combinados", nos quais incluiu na pintura objetos e imagens do mundo real, questionando assim os limites entre a vida e a arte. "A pintura tem tanto a ver com a arte como com a vida", já disse o artista.
A interação do espectador também está presente. "Soundings", de 1968, é composta por uma caixa de metal com serigrafias e iluminação oculta que é acionada pelo som de palmas ou gritos do espectador.
No meio dos anos 70, Rauschenberg passou a pesquisar as propriedades de um tecido sem tensão ao aplicar imagens com solvente em tecidos diáfanos, como seda e gaze. Também acrescentou nos trabalhos objetos do cotidiano, como cordas ou sacolas, para assim explorar a queda e a forma do tecido, além de sua transparência e leveza.
A mostra apresenta ainda "The 1/4 Mile or 2 Furlong Piece", a peça monumental que Rauschenberg vem construindo desde 1981 e que hoje conta com 191 partes e mais de 300 metros de comprimento. Para isso, utiliza uma infinidade de técnicas, como colagens, assemblages, pinturas, desenhos, gravuras, fotografias, objetos e serigrafias em metal ou acrílico. A peça está exposta em torno de "Serpente", a gigantesca escultura de Richard Serra.
Em um dos trabalhos mais recentes, Rauschenberg chega a fazer uma homenagem ao museu e à cidade basca na obra "Resíduos de Bilbao" (1997), em que utiliza fotografias do museu em construção e da parte antiga da cidade.


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