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ARTES PLÁSTICAS - ESPANHA
Mostra reconhece valor de Rauschenberg
CELSO FIORAVANTE
enviado especial a Bilbao
A retrospectiva de Robert Rauschenberg, 75, em cartaz no museu
Guggenheim Bilbao, na Espanha,
não apenas faz justiça a um dos
mais importantes artistas norte-americanos desta segunda metade
do século como o coloca no mesmo nível de importância de nomes
como Jackson Pollock (1912-1956)
e Marc Rothko (1903-1970).
A diferença é que, ao contrário
das duas figuras emblemáticas do
expressionismo abstrato, Rauschenberg sempre teve sua importância diluída entre os muitos movimentos artísticos que antecipou
ou de que participou.
Ele nunca se preocupou em estabelecer limites
para a sua produção artística
e, em muitas
ocasiões, chegou mesmo a
abdicar dela
para se dedicar
a outras atividades, como o
teatro e a dança.
A retrospectiva homenageia os 75 anos
de vida do artista e os 50 de
produção ao reunir mais de 200
trabalhos realizados a partir de
1949. Apresenta todas as suas
preocupações estéticas e referências às escolas artísticas que antecipou ou com as quais flertou ao longo de sua carreira, como a arte pop,
a arte povera e expressionismo
abstrato.
O conjunto prova que se trata de
uma das produções mais ricas e variadas do pós-guerra, uma obra
carregada de energia e sempre em
desafio às categorias estabelecidas
da arte.
Rauschenberg utilizou de tudo
um pouco para criar uma obra que
está entre as mais criativas, instigantes, ousadas e abertas da história da arte neste século. Usou toda
sorte de materiais, com especial
predileção por aqueles desgastados pelo tempo ou pelo uso do homem, como pneus e latarias de automóveis.
No início de sua carreira, a partir
dos anos 50, baseou-se em sua própria produção fotográfica ou naquelas veiculadas pelos meios de
comunicação de massa (antecipando assim a arte pop).
Fica evidente desde o início a sua
preocupação (e sua predileção) pelas pessoas e fatos do dia-a-dia. Isso o faz recontextualizar as imagens já confeccionadas e levar a experiência da vida real para a arte,
que assim perde seu glamour intrínseco e ganha força renovada,
do dia-a-dia.
Nos anos 50, partindo do conceito de "ready-made" de Duchamp,
que propunha a incorporação de
todo tipo de material (natural ou
industrializado) para a criação da
obra de arte, Rauschenberg criou
seus "Combinados", nos quais incluiu na pintura objetos e imagens
do mundo real, questionando assim os limites entre a vida e a arte.
"A pintura tem tanto a ver com a
arte como com a vida", já disse o
artista.
A interação
do espectador
também está
presente.
"Soundings",
de 1968, é composta por uma
caixa de metal
com serigrafias
e iluminação
oculta que é
acionada pelo
som de palmas
ou gritos do espectador.
No meio dos
anos 70, Rauschenberg passou a
pesquisar as propriedades de um
tecido sem tensão ao aplicar imagens com solvente em tecidos diáfanos, como seda e gaze. Também
acrescentou nos trabalhos objetos
do cotidiano, como cordas ou sacolas, para assim explorar a queda
e a forma do tecido, além de sua
transparência e leveza.
A mostra apresenta ainda "The
1/4 Mile or 2 Furlong Piece", a peça
monumental que Rauschenberg
vem construindo desde 1981 e que
hoje conta com 191 partes e mais de
300 metros de comprimento. Para
isso, utiliza uma infinidade de técnicas, como colagens, assemblages, pinturas, desenhos, gravuras,
fotografias, objetos e serigrafias
em metal ou acrílico. A peça está
exposta em torno de "Serpente", a
gigantesca escultura de Richard
Serra.
Em um dos trabalhos mais recentes, Rauschenberg chega a fazer
uma homenagem ao museu e à cidade basca na obra "Resíduos de
Bilbao" (1997), em que utiliza fotografias do museu em construção e
da parte antiga da cidade.
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