São Paulo, quinta-feira, 06 de abril de 2000


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DISCO - LANÇAMENTOS
Tá todo mundo louco, oba???

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local


A axé music aproveita o pós-Carnaval para tentar rebater as quedas de vendagens de discos dos últimos meses.
A tática é atirar em todas as direções possíveis. Vai sobrar pólvora para você, pode esperar.
As bombinhas da vez são As Meninas, que lança seu CD de estréia, "Xibom Bombom", e a banda Harmonia do Samba, que turbinou no trio elétrico seu primeiro álbum, lançado em dezembro (já vendeu, segundo consta, 250 mil exemplares).
Todos ouviram "Xibom Bombom" ("analisando essa cadeia hereditária", mais "bom xibom, xibom, bombom"), d'As Meninas, e "Vem, Neném" ("vem, neném, neném, vem, neném, neném, vem"), da Harmonia.
De alto poder combustivo na encruzilhada formada entre o rádio, a Xuxa, o Gugu, o Faustão e o seu ouvido, eles seriam exemplares de uma nova modalidade, o "pagode baiano". O poder de grude aumentou, o ritmo e o andamento se aceleraram, as canções são mais límpidas e ainda mais percussivas, os refrãos ficaram mais "inteligentes" ainda e, bem, o que mais?
Ah, tem mais. Com "Xibom Bombom", The Girls fundam a axé de protesto. Há reivindicação ("mas eu só quero educar meus filhos/ tornar um cidadão com muita dignidade", hein?, como é que é?) e a conclusão é lancinante: "E o motivo todo mundo já conhece/ é que o de cima sobe e o debaixo desce". Bem, a última frase é afanada descaradamente do mangue beat de Chico Science (já morreu, coitado), de "A Cidade", e é claro que elas aproveitam para subir e descer suas carlas-perez.
A música é delícia. Sambinha, percussão, voz estilo Daniela Mercury, refrão roubado de "Ilariê", da Xuxa (ê, palmas para a MPB, que ela já plagia a Xuxa!!!!), a bola da vez Carla Cristina na capa (ué, mas são As Meninas ou é A Menina?).
Você ouve e fica cantando oito dias sem parar. Na 500ª vez dá enjôo, vertigem, vontade de se jogar da janela ou furar os tímpanos.
Você tenta ouvir o resto do disco. Você ouve. É tudo igual. "De tanto zoar/ de tanto descer/ de tanto subir/ de tanto rodar/ você faz sucesso/ você arrebenta." "Nem que chova canivete/ eu chego aí no horário das sete."
No Carnaval é uma beleza, dá até para decorar a letra "ô, isquindi, dondon, ô isquindi, dandá". Mas março vai acabando e tudo fica chato, chato de ralar.
Você tenta então a Harmonia do Samba, quanta harmonia, que "Vem Neném" também é delícia. Gruda, você canta o refrão 16 dias sem parar, blablablá, tititi, nhenhenhém.
A axé mudou de sexo e a vez é do Sandy, eps, Xandy, que é moço, grande, forte e quando canta que é "por isso que eu só vivo agachadinho, agachadinho, agachadinho, agachadinho" realmente também rebola sua scheila.
"Agachadinho" é horrível, mas bem, viva a democracia axé, a emancipação masculina, os ritmos percussivos e o pagode baiano (o samba agoniza, mas não morre, já sabia Nelson Sargento).
Tenta o resto. O disco é ao vivo, de produção baixa, devia avexar a gravadora se ela não quisesse só grana fácil. As músicas são indistinguíveis, chatas de lascar: "E agora vai/ escorregando/ vai pra frente/ e vai pra trás", "tá tudo durinho/ tudo bonitinho", "mas é um tal de kikiki kakaka/ kikiki kakaka", "uva, uva/ olha que uva, uva, olha que uva"...
Legal. É tudo uma farra, todo mundo agachadinho, rebolando a tiazinha, safado, sexy, pornô, engraçado, valha-nos Dioniso. Mas vai continuar agachadinho o ano inteiro? Para deleite dos Pittas e dos coronéis de sempre?


Avaliação:  0 (As Meninas e Harmonia do Samba)


Disco: Xibom Bombom Grupo: As Meninas Lançamento: Universal Quanto: R$ 20, em média Disco: Harmonia do Samba Lançamento: Abril Music Quanto: R$ 20, em média

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