São Paulo, quinta-feira, 06 de abril de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DANIELA MERCURY
"Sol" é avesso de "Nós"

da Reportagem Local


Há pouco lançado, "Sol da Liberdade", de Daniela Mercury, é o reverso de "Nós", de Virgínia Rodrigues. Ambas fazem hoje música baiana de contato com o axé, mas tentando cair fora de suas ciladas.
Mas, onde Virgínia é quieta, quase purista, Daniela quer desabrochar retumbante, um verdadeiro liquidificador de ritmos e estilos.
Vem o novo paradoxo. Ambas são hoje produtos de círculos contíguos: Daniela é empresariada por Connie Lopes, que se afastou das atividades de sócia de Paula Lavigne na Natasha apenas para remodelar a carreira de Daniela.
O resultado é a anti-Virgínia, mas de uma artista que, nesse momento, atira para todas as direções possíveis ao mesmo tempo.
Assim, a faixa-título busca uma aproximação com a sofisticação conceitual "do mangue beat de Recife que resiste"; "Só no Balanço do Mar" injeta lençóis de percussão no neotropicalismo pernambucano de Lenine; e "Itapuã @no 2000" praticamente decalca a bem-sucedida sociedade carioca do início dos 90 entre Fernanda Abreu e Fausto Fawcett, em versos à "Rio 40 Graus" como "putas de Wim Wenders, junkies Tarantino/ santas de Greenaway, kikas de Almodóvar".
O produtor das três (como de várias outras) faixas é o suíço Will Mowat, que trabalhou com o grupo groovy/funk inglês Soul 2 Soul e com a própria Fernanda Abreu.
As faixas mais eficazes, porém, vêm do império norte-americano latinizado, pelas mãos comerciais de Emilio Estefan, produtor e marido de Gloria Estefan.
São o sucesso axé de outros carnavais "Crença e Fé" ("e diga yeah, diga yeah, sou negão") e a faixa de trabalho, "Ilê Pérola Negra", que ganha um remix tecno ao final (o "Pablo Flores Club Mix", hein?).
A percussão passeia por todas, a grande voz de Daniela passeia por todas. O que mais há? Participação de Milton Nascimento, versão delicada da doce "De Tanto Amor" (71), uma versão mais certeira para "Sou Você", que Caetano Veloso compôs para o filme "Orfeu".
O resumo da panacéia -Daniela é funk, Daniela é tecno, Daniela é mangue beat, Daniela é MPB- vem de "Axé Axé", inédita de Caetano: "A nossa música é a mesma voz/ ninguém desfaz o que nós/ fazemos nesse país".
Lá estão "nós" de novo, e não se sabe mais se a artista quer ser cidadã do mundo ou só reiterar a tão imponente baianidade. No caldo, faz(em) certa confusão: quem diabos é que quer desfazer o que eles fizeram nesse país?
Como a audaz Daniela quer, ela própria, expor em "Sol da Liberdade", o Brasil é a Bahia, mas não é só a Bahia, é Carnaval, mas não é só Carnaval. Parece simples, não parece? Precisa dissipar a fumaça. (PAS)


Avaliação:   


Disco: Sol da Liberdade Artista: Daniela Mercury Lançamento: BMG Quanto: R$ 20, em média

Texto Anterior: Disco - Lançamentos: Tá todo mundo louco, oba???
Próximo Texto: Virgínia Rodrigues: O álbum que Caetano não quis fazer sozinho
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.