São Paulo, quinta-feira, 06 de abril de 2000


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TRECHO


"VELHO - Há muitos, muitos anos, quando o mundo era verde, o meu tatara-tataravô estava trabalhando num descampado com a mula dele. E essa mula tinha causado alguns problemas no vilarejo, mas ela trabalhava bem, era honesta para o trabalho, então o meu tataravô ficou com ela e perdoou as confusões dela. (...)
ENTREVISTADORA - E qual era o problema dessa mula?
VELHO - Ela vivia fugindo do cercado e comendo a plantação do vizinho.
ENTREVISTADORA - Sei. Então o seu tatara-tataravô não conseguiu segurar ela?
VELHO - Não. Até que um dia -nesse mesmo dia os pássaros cantavam, o sol tinha aparecido, não tinha uma nuvem no céu-, a mula caiu morta na frente do arado do meu pai. (...)
ENTREVISTADORA - Ataque do coração?
VELHO - Veneno.
ENTREVISTADORA - Veneno?
VELHO - É. A língua dela estava inchada feito um pão francês.
ENTREVISTADORA Quem envenenou ela?
VELHO - O vizinho. Uma família. Eles eram meio parentes nossos, mas naquele dia eles viraram inimigos. Eles sempre foram nossos amigos. Esse tempo todo.
ENTREVISTADORA - Gerações.
VELHO - É. Pra sempre.
ENTREVISTADORA - E o homem que você matou (...), você achava que ele fazia parte dessa família.
VELHO - Eu tinha certeza que fazia. Eu segui ele a minha vida inteira.
ENTREVISTADORA - Mas o homem que você matou foi o homem errado.
VELHO - É o que dizem, é."


(Trecho da peça "Fábula de Um Cozinheiro")



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