São Paulo, sexta-feira, 06 de abril de 2001

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MÚSICA/CRÍTICA

Parker balança platéia com funk retrô

SÉRGIO MALBERGIER
EDITOR DE MUNDO

A família real do funk esteve em Sampa anteontem. Maceo Parker, o saxofone de James Brown, trouxe sua trupe funky-pop 60's-70's-80's-90's para a platéia 00's quase toda branca do Olympia.
Por equívoco da organização, o show só pegou fogo depois da quinta ou sexta música. Até então, a maioria da platéia estava presa a mesas, quando o ideal teria sido um show de platéia de pé logo de cara, para aproveitar o funk do começo. Mas, como Maceo é famoso também pela longevidade de seus shows, de três horas em média, deu tempo de sobra para sacolejar.
É um funk bem diferente do que ocorre no Rio, sem dança da cadeira e tribos divergentes. Anteontem só rolaram corpos balançando à moda antiga, retrôs, convergentes. Maceo parou no tempo mágico do funk que ele ajudou a inventar. Fez a platéia balançar (depois de viradas as mesas), sorridente, como se São Paulo fosse uma rua escura de um gueto negro da Carolina do Norte, onde nasceu, em 1943.
Na faculdade, entrou para a banda do pai do soul, graças ao irmão baterista. E compôs parte da sonoridade de uma das maiores bandas funk da história -a de Brown (todos já ouviram seus solos em "I Feel Good" e "Sex Machine")- e depois das seminais Parliament e Funkadelic.
Um dos apogeus do show foi a versão de "The Closer I Get to You", hit romântico que embalou propaganda de cigarro no final do século 20, com todos de mãos para cima, entregues. Maceo é isso, um museu vibrante, tendo tocado com Brown, Prince, De La Soul, Jane's Adiction, parece querer sintetizar tudo nos longos shows, uma entrada que deu direito até a passos de Bruce Lee, por um backing vocal que era a cara do Cauby Peixoto, e solos vocais hip-hop do filho Corey Parker, que, de touca negra, calça larga e malha comprida, destoava do figurino terno e gravata do pai, mas também um negro todo de negro, rebolando para uma platéia quase toda branca, que rebolava também.
Algumas moças rebolavam tanto, em transe funky, quanto os Parker. Alguns da platéia não se contiveram e subiram ao palco para dançar. Foi uma confraternização funky, aberta por embaixadores locais do estilo, o Funk Como le Gusta e sua musa Paula Lima, e finalizada por um pot-pourri básico misturando Bob Marley, Marvin Gaye e Prince. Só uma coisa uniu tudo, o funk, conduzido pelo mestre Maceo.


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