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TEATRO
Montagem do texto do inglês Michael Frayn traz embate de idéias entre os cientistas Niels Bohr e Werner Heisenberg
"Copenhagen" exibe "semideuses humanos"
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Cada indivíduo é responsável
pelo seu destino e, consequentemente, pelo destino daqueles que
o cercam. "Portanto, um indivíduo pode mudar a história, sim",
afirma o diretor Marco Antônio
Rodrigues, 45.
Ele recorre à premissa para ilustrar o papel dos semideuses demasiado humanos retratados em
"Copenhagen", a peça do inglês
Michael Frayn que reconstrói a
trajetória de dois importantes nomes da ciência, em particular da
física, no século 20: o dinamarquês Niels Bohr (1885-1962) e o
alemão Werner Heisenberg
(1901-1972), nomes-chave na elaboração da teoria quântica.
"Como Deus se retirou para a
eternidade, cabe ao homem cuidar do seu destino. Ou livra a sua
cara ou se reconhece, de alguma
forma, prisioneiro, no bom sentido, de uma teia social, quântica e
universal", diz Rodrigues, que fez
a estréia nacional da montagem
no 10º Festival de Teatro de Curitiba. "Quer dizer, o homem é feito
da mesma matéria das estrelas."
Ao rés do chão, "Copenhagen"
recupera uma misteriosa visita de
Heisenberg (Carlos Palma) a
Bohr (Oswaldo Mendes), ocorrida em 1941, na cidade dinamarquesa de mesmo nome, no auge
da Segunda Guerra Mundial.
Nunca se soube o que conversaram. Teriam esboçado um reator
atômico. Passearam pelo jardim
da casa, por dez minutos.
Depois daquele encontro, cerca
de quatro anos antes da explosão
atômica em Hiroshima, os físicos
romperam a amizade que vinha
desde os anos 20, quando Heisenberg foi assistente de Bohr.
A peça de Frayn, então um dramaturgo voltado para comédias,
expõe a densidade desses personagens e a perspectiva que une
ficção e dados históricos.
Eles passam literalmente o ofício a limpo e questionam o procedimento ético (o alemão era acusado de colaborar com o regime
de Hitler, enquanto o dinamarquês, judeu, foi perseguido pelos
nazistas).
Entre eles, surge uma terceira
via, Margrethe (Selma Luchesi),
mulher de Bohr, cuja sensibilidade serve de contraponto aos cérebros dominados pela razão.
Frayn reforça a potencialidade
humana desses dois físicos por
meio de excertos filosóficos ou
shakespearianos, sobretudo o
castelo de Elsinore, do qual exalava algo de podre e no qual o príncipe Hamlet, dilacerado pelas dúvidas e pela fúria de vingança do
assassinato do pai, protagoniza
sua tragédia.
Segundo Rodrigues, conhecido
pela atuação no grupo paulista
Folias D'Arte ("Happy End"),
"Copenhagen" configura-se como uma tragédia cuja estrutura
dramática estabelece novos paradigmas para o teatro contemporâneo. É um texto que privilegia a
palavra, o embate de idéias, mas
permite o deslanchamento do trabalho do ator.
"A gente fundamenta tudo no
ator, no jogo atávico do teatro, no
mistério e no suspense que está lá
em "Édipo Rei", de Sófocles, e também aqui, na peça de Michael
Frayn", afirma o diretor.
Ao contrário das montagens inglesa e norte-americana, que investem na proposição de um tribunal no qual os dois físicos vão
expor suas idéias, Rodrigues prioriza outro espaço para a encenação, indefinido (apesar de boa
parte da ação se passar na casa de
Bohr), com projeções de imagens
do cosmo que, acredita, ampliam
as noções de tempo e espaço.
Peça: Copenhagen
Texto: Michael Frayn
Direção: Marco Antônio Rodrigues
Quando: estréia hoje, às 21h; de qui. a
sáb., às 21h; dom., às 20h
Onde: teatro Sesc Anchieta (r. Dr. Vila
Nova, 245, tel. 0/xx/11/256-2281)
Quanto: R$ 20
Patrocinador: Amana Key
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