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PRÊMIO CHAMEX
Exposição recicla hábitos do público
JULIANA MONACHESI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Uma reciclagem de sensibilidade estética. É disso que
trata a intervenção urbana de Vera Uberti apresentada em registro
videográfico na exposição do 1º
Prêmio Chamex de Arte Jovem,
em cartaz no Instituto Tomie Ohtake e que dá o tom das pesquisas
artísticas ali exibidas.
Em um posto de coleta seletiva
de lixo em um supermercado de
São Paulo, a artista negociou a
substituição das tradicionais sinalizações "vidro", "plástico", "papel" e "alumínio" nos contêineres, oito ao todo, por palavras que
designam os sete pecados capitais
(que ela torce ligeiramente para
transformar em oito). O vídeo é
algo ingênuo ao repetir closes do
slogan da campanha de reciclagem do local: "Doe seu lixo aqui".
Redunda. De resto, é impecável.
Uma pequena subversão no cotidiano que afeta os usuários do
posto, assim como a nós, espectadores condicionados.
Em um contexto de esgotamento do modelo dos salões e de oxigenação dos formatos de incentivo e subsídio às artes, com sopros
que vêm de Belo Horizonte (bolsa
Pampulha) e de duas ou três instituições em São Paulo com programas sistemáticos de fomento à
produção emergente, surge esse
prêmio voltado a universitários,
que oferece bolsas de estudo (no
exterior e em SP) e a oportunidade de expor no circuito institucional pesquisas em gestação.
O espaço destinado à exibição
das obras dos 26 selecionados por
Agnaldo Farias, Eduardo Brandão, Flavia Ribeiro, Lorenzo
Mammì e Stela Barbieri é pequeno em face da ambição do projeto. O trabalho que recebeu o primeiro prêmio, "Jardim Interno",
de Chiara Banfi, resultou tímido;
quatro dos cinco vídeos selecionados (dois deles premiados) ficaram segregados em uma sala, o
que enfraquece a principal qualidade da mostra: a diversidade.
Apesar de limitado em sua vocação expansiva, "Jardim Interno" é instigante. Feito a partir de
prosaicas folhas de contact coloridas, a instalação se espraia em um
desenho orgânico que inverte a
lógica do jardim, tornado plano e
como que pendurado no teto. À
padronagem obtida com papel
contact, Chiara soma fragmentos
de fotografias de natureza: traz o
jardim para o interior arquitetônico (e subjetivo, de quem observa detalhes quase invisíveis).
Esta, a faceta poética do trabalho. Seu lado cáustico emerge à
medida que tangencia o decorativo: o jardim domesticado e asséptico, feito sob medida para a casa-clausura contemporânea. O caráter político perpassa a mostra: está em "Habitação Imaterial", de
Bruno Faria, que registra clandestinamente as ficções imobiliárias
que são os "apartamentos decorados"; na sufocante performance
de Amanda Melo (exibida em vídeo e que será realizada em São
Paulo no dia da premiação), em
que a artista reveste seu corpo de
fita isolante e anda pelas ruas.
A foto e o vídeo predominam, o
que é sintomático. A obra mais
ousada, as manipulações digitais
de Clayton Camargo Jr., assumidamente anti-representacional, é
a que mais se destaca em termos
experimentais, mas não foi premiada. O júri, de inegável competência, optou na premiação por
trabalhos mais convencionais.
1º Prêmio Chamex de Arte
Jovem
Onde: Instituto Tomie Ohtake (av. Faria
Lima, 201, SP, tel. 0/xx/11/6844-1900)
Quando: de ter. a dom., das 11h às 20h;
até 2/5; premiação no dia 15/4, às 19h30
Quanto: entrada franca
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